Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje venho comentar minha experiência de leitura com um livro que estava na minha TBR da Maratona Literária Desencalhando Livros: "Meu coração e outros buracos negros", escrito pela Jasmine Warga e publicado em 2016 pela Rocco Jovens Leitores. Vocês podem ler, ou apertar o play e conferir meu vídeo sobre ele:
"Meu corpo é uma máquina eficiente de matar pensamentos felizes." (página 48)
A narradora é Aysel (pronuncia-se Â-zél), uma estadunidense de 16 anos que trabalha num call center. De origem turca, seus pais se separaram quando ela era pequena e ficou morando com o pai, a mãe se casou novamente e teve mais 2 filhos. Até que o pai cometeu um crime que chocou toda a cidade e ela teve que ir morar com a mãe. Estava sendo difícil lidar com o julgamento e as fofocas das pessoas sobre a filha do criminoso, com o sentimento de ser uma intrusa na casa da mãe, com a falta do pai que lhe ensinou a gostar de música clássica, com a sensação de que talvez pudesse ter feito algo para evitar que o crime e com o medo de ter, dentro de si, o mesmo que havia dentro do pai e também ser capaz de cometer um crime num momento de insanidade, causando ainda mais sofrimento pra todo mundo.
"Queria que houvesse algum significado. Nos últimos tempos, tenho tentado encontrar significado em tudo. Tipo, como se eu esperasse o universo me dar uma piscadela e dizer: Sim, você está livre para
partir. Siga seu caminho." (página 49)
"Fico um pouco nervosa por RobôCongelado, mais conhecido como Roman, querer me encontrar em um lugar tão público. Acho que quer dizer o seguinte: ele não é um serial killer, um estuprador ou algo assim. Por outro lado, não sei se seria tão ruim se ele fosse um serial killer. Ao menos acabaria com tudo de uma vez. A menos que ele fosse um desses caras que gostam de tortura. O que não seria bom. Não quero uma morte longa; quero uma que seja instantânea. Sou assim, bem covarde." (página 38)Aysel entrou num site onde pessoas procuravam parceiros de suicídio e conheceu Roman (pseudônimo: RobôCongelado), outro adolescente que também queria se matar. Eles passaram a se encontrar para combinar os detalhes de como se suicidariam juntos. Porém, conhecer Roman faria com que Aysel saísse da inércia em que vivia e descobrisse que talvez existissem outras formas de lidar com a lesma preta da depressão que a corroía por dentro. E Aysel que fazer o mesmo por Roman, já que foi ele quem lhe mostrou a garota que poderia ser se resistisse um pouco mais. Ela quer que ele também perceba que pode se perdoar e seguir em frente. Qual será o desfecho dessa história? Nossos protagonistas terminarão vivos ou mortos? Leiam para descobrir!
"RobôCongelado deveria saber que não há nada de belo, terno ou glamoroso na tristeza. A tristeza é apenas feia, e qualquer um que pense de outra forma não entende. Acho que o que ele quer dizer é que somos feios da mesma maneira, e existe algo familiar, confortável nisso. Confortável é diferente de bonito." (página 240)
"- Não, eu entendo. É como se sua tristeza fosse tão profunda e destruidora que você tem medo de que ela vá afogar todas as pessoas de sua vida se deixá-las ficar muito perto." (página 189)
Em seu livro de estreia, Jasmine Warga falou de forma realista e não romantizada sobre temas que ainda são tabus na nossa sociedade. Na sinopse e na contracapa é dito que haverá um romance entre os protagonistas, mas isso não é de forma alguma o foco da história. Então, se você espera um romance adolescente, não é bem o que encontrará. A autora focou na temática da depressão e do suicídio, o que pode desapontar quem procura por personagens secundários mais elaborados, pois nós só temos a visão deles pelos olhos da narradora. O final resolve o conflito principal da obra, mas ninguém pode prever o futuro de todos aqueles personagens.
"Quero acreditar que a mudança não tenha nada a ver com Roman. Que talvez o tempo apenas se mova mais rápido no fim. Acho que faria sentido. Sei que tudo está perto de terminar, então meu desejo de apressar as coisas é um pouco menor.
Faço tudo mais devagar nos últimos tempos, como mastigar as barrinhas de granola para saborear as gotas de chocolate. E chacoalho o suco de laranja no fundo da garganta algumas vezes antes de engolir para sentir o gosto cítrico, doce e azedo. Talvez Einstein estivesse certo. Como estou me movendo mais devagar, talvez o tempo esteja andando mais rápido. Talvez seja apenas a maneira como o universo funciona e não tenha nada, nada mesmo, a ver com Roman e com o fato de que conhecê-lo mudou minha perspectiva.
Mas, para ser sincera, não sei. Simplesmente não sei." (páginas 198 e 199)
Quem acompanha o blog talvez se lembre do post que fiz pro Setembro Amarelo, contando que já tive depressão e pensamentos suicidas, e os livros me fizeram aprender a lidar com isso. Conhecendo na prática o assunto, tenho que parabenizar a autora por ter abordado a depressão de forma tão real. Me identifiquei muito com diversas cenas e pensamentos da personagem.
"-Que generoso da parte dele. E eu não o odeio, Georgia.
- Ah, não? Bem, você age como se odiasse. Estou cansada de você o dia inteiro sentindo pena de si mesma só pelo que seu pai fez. Vou te contar uma coisa: você não é seu pai. E devia parar de culpar todo mundo pelo que ele fez. Você mesma, inclusive." (página 113, verdades que a protagonista precisa entender)
Ao longo da leitura, é possível perceber momentos em que a Aysel é alvo da maldade dos outros, mas também há os momentos em que as pessoas tentam ajudá-la: palavras da irmã mais nova tentando fazê-la entender que não teve culpa pelo ocorrido, uma oferta discreta de ajuda por parte de um colega de turma que se viu obrigado a fazer um trabalho com ela, a atenção do professor de Física, a matéria favorita da Aysel. São pequenas ajudas como essa, que, por exemplo, a Hannah de Os 13 porquês não recebeu, mas que podem fazer uma diferença enorme pra alguém perceber que há alternativas.
"O sr. Scott me lança um sorriso triste, e me pergunto se ele vai sentir minha falta quando eu partir." (página 25)
"A treinadora Summers sempre fala que correr fortalece o coração para vivermos mais. Sem voltas a mais para mim, por favor." (página 25)
"(...) queria muito que ele tivesse algo legal para se lembrar de mim. Para pensar em mim como uma pessoa legal, bacana, carinhosa. Não como a cria psicótica de um assassino que se suicidou quando ele tinha dez anos.
Quero ser mais que isso para ele. Sei que talvez nunca aconteça, mas sonho que daqui a alguns anos, quando eu tiver ido embora e Mike sentir minha falta, ele pegue a revistinha e se sinta melhor. Seguro. Vai saber que pode derrotar seus demônios exatamente do jeito que não consegui." (página 125)
É visível que a convivência com o pai, que precisava de ajuda médica, afetou a Aysel, mas também não dá pra julgar a mãe por ter reconstruído a sua vida. A convivência com o Roman faz a Aysel ver outras realidades além da dela, esse "olhar pra fora" amplia os horizontes da protagonista. Enquanto a Aysel precisa perder o medo do futuro, o Roman, apaixonado por pimentas e por desenho, precisa se perdoar pela situação muito traumática que aconteceu no passado. Nem imagino como deve ser conviver com a culpa que ele carrega e que faz com que esteja muito determinado a dar um fim em tudo. Pra Aysel e pro leitor é difícil o comportamento dele de beijá-la e mesmo assim dizer que nada mudou.
"- (...) É como se eu estivesse preso em um buraco profundo e não pudesse sair. Desenho para tentar escapar, mesmo sabendo que nunca vou conseguir." (página 191)
"Gosto de resolver problemas práticos. Eles me dão algo para fazer às duas da manhã, quando a casa está em silêncio e escura, e Georgia está desmaiada de sono, roncando baixinho. Os problemas práticos fazem com que me sinta menos sozinha." (página 199)
"Gosto de resolver problemas práticos. Eles me dão algo para fazer às duas da manhã, quando a casa está em silêncio e escura, e Georgia está desmaiada de sono, roncando baixinho. Os problemas práticos fazem com que me sinta menos sozinha." (página 199)
"O que as pessoas nunca entendem é que a depressão não tem nada a ver com o exterior; tem a ver com o interior. Algo por dentro está errado. Claro, há coisas na minha vida que fazem com que eu me sinta sozinha, mas nada me faz sentir mais isolada e aterrorizada do que a voz na minha cabeça. A voz que lembra que há uma grande probabilidade de que eu acabe exatamente como meu pai." (página 48)
A edição da Rocco está boa, com uma capa condizente com a trama, páginas amareladas lisas e finas, boa revisão, diagramação com letras, margens e espaçamento de bom tamanho.
"Tudo sempre pareceu tão definitivo, inevitável, predestinado. Mas começo a acreditar que minha vida pode ter mais surpresas do que jamais percebi. Talvez seja tudo relativo, não apenas a luz e o tempo, como Einstein teorizou, mas tudo. Como a vida pode ser terrível e incorrigível até o universo mudar um pouco e o ponto de observação ser alterado e, de repente, tudo parece mais suportável." (página 234)
E por hoje é só, espero que vocês tenham gostado da resenha. Fica a minha recomendação de leitura pra quem procura um livro curto, de leitura fluida e rápida, e pra quem quer entender melhor a depressão e as ideias suicidas. Me contem: já conheciam o livro ou a autora? Qual o livro que mais mexeu com vocês?
"Será que é assim que a escuridão vence, convencendo-nos a prendê-la dentro de nós, em vez de jogá-la fora?
Não quero que ela vença." (página 277)
Detalhes: 312 páginas, ISBN-13: 9788579802683, Skoob. Onde comprar online: Submarino, clique e compare preços.
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Não quero que ela vença." (página 277)
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Até o próximo post!
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