Resenha: livro “Fazendas ásperas”, Geny Villas-Novas

 Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro “Fazendas ásperas”, escrito pela Geny Villas-Novas e publicado pela Editora 7 Letras em 2017.

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 "Na conversa dos mineiros há sempre um soluço intuído e desconcertante no ar.
 Acaso são as nossas histórias mais dramáticas do que as dos outros? Somos mais sensíveis? Não sei. Muitas vezes as pessoas perguntam à Mãe: Você está emocionada? Sim. Por quê? Não sei. Penso que me criei entre montanhas altas e vales profundos. Esse acidente geográfico se chama angústia. Será que levamos muito a sério essa angústia?" (página 11)

 A narradora, que acredito se chamar Gabriela (por um trecho da página 91), vê sua mãe (ou talvez seja ela mesma) tentando escrever um livro de memórias sobre a família. Para isso, ela precisa conversar com parentes, resgatando os nomes e as histórias de seus ancestrais, voltando num espaço de tempo de aproximadamente 130 anos. Surgem obstáculos, como fazer contato com a parte da família que se distanciou após um discussão ou o temor de alguns parentes sobre expor as mortes e os casos de suicídio de alguns membros. E surgem também muitas lembranças. Boa parte delas acontecidas próximas ao Rio Doce, nas terras de Minas Gerais, onde a família nasceu, cresceu, casou, se multiplicou, morreu e foi enterrada.

 "As escolas gostavam de fazer piquenique no Rio Doce. Os adolescentes passavam cantando. Quando voltavam mudos, sabíamos que alguém havia ficado. O Rio Doce era um Gigante caudaloso. Depois vinha a notícia. O filho do coletor morreu. Equipes de resgate, alguns parentes, dias e dias rondando. O corpo aparecia preso aos galhos dos ingazeiros, debruçados na margem.
 Ainda ouço o Som e a Fúria das águas do Rio Doce." (página 52)

 "Fazendas ásperas” não foi uma leitura fácil. Uma história com personagens bem definidos e uma sequência de acontecimentos linear não é o que encontraremos aqui. Começando pela confusão com a própria narradora, que hora me parecia ser a filha observando a mãe tentando escrever e até mesmo ajudando-a nas investigações, hora me parecia ser a mãe falando de si mesma alternando em primeira e terceira pessoa... Na maioria das vezes, o nome dos personagens não era usado, optando-se por "apelidos" como "Peixinho Dourado" para a irmã mais nova, "mãe, lapidada em gemas raras" para a mãe da "Mãe"... Na página 41 há a seguinte citação: "Se uma obra não possuir corpo e alma, ela morre.", e o corpo de "Fazendas ásperas" estava nas minhas mãos, mas eu não consegui ver a alma dessa obra perto o bastante.

 "O ouro, os diamantes, as águas marinhas enfeitam os museus do mundo. Fazem parte da coleção de príncipes, princesas e celebridades. As lavouras de café e os animais silvestres se foram com as matas. A nossa última chaga, da qual ainda não conseguimos estancar o Sangue, é a dos retirantes que emigram para os Estados Unidos. Santo Deus! O que está acontecendo com Minas Gerais?" (página 74)

 Não encontrei só pontos negativos nessa leitura. Há várias aspectos que me agradaram. Por exemplo, a ligação da família com Minas Gerais, seus costumes, o jeito de ser mineiro, ler sobre isso foi um encanto para mim, uma mineira apaixonada pela minha terra, pela minha gente e pela nossa História. Ver meu sobrenome - Pereira - como sobrenome da família, também me fez ficar mais conectada à leitura.

 "Falei: Vovó não era bonita, tinha a testa muito grande. Ela olha para o filho que a trouxe e sorri: É a marca registrada da família." (página 206, testa grande também temos nos Pereiras aqui de Liberdade)

 Alguns capítulos da obra funcionariam facilmente como crônicas. A autora traz muitas referências a assuntos da atualidade, como a migração de mineiros em busca de uma vida melhor nos Estados Unidos. Geny aborda especialmente a tragédia de 2015, onde uma barragem da mineradora Samarco se rompeu, encheu de lama o Rio Doce, causando mortes de pessoas, animais e vegetação. Se para uma pessoa comum, o fato já foi revoltante, imaginem para alguém que tinha tantas boas memórias vindas do Rio Doce, e de uma hora para outra, ver destruído o seu lugar favorito no mundo!

 "As águas do Rio Doce são translúcidas, os peixes fazem marolas reluzindo à luz do sol. Elas caminham descalças pelas areias da praia, sentam-se à beira d'água molhando os pés. Molham as mãos fechadas, cheias de fubá, e os peixinhos vêm comer. Quando termina o alimento, eles ficam mordiscando a pele fina das nossas mãos. Gostávamos de sentir aqueles beijinhos. Daqui a mil anos, outras crianças farão o mesmo. E os peixes? Devem morar em alguns afluentes e voltarão em momento propício. Outra criança terá o mesmo Rio Doce como endereço, e seu ponto de referência no mundo. Onde fica o Sítio de Cima? A três quilômetros da margem direita do Rio Doce, na altura de Pedra Corrida. Ah! Nós não sobreviveremos, mas o Rio Doce ainda terá muita história para contar. Ele tem a seu favor os milênios. Se o homem acabar com a terra, ele se muda para Vênus? É isso que ele está pensando? As gerações futuras, talvez, nem saberão o que aconteceu com o Rio Doce, e nem se ele existiu. Ninguém sente falta do que nunca teve. Nós? Nós estamos perdendo, e muito." (página 169)

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 A edição traz uma capa predominantemente verde, com a imagem de uma velha casa, muito semelhante aos velhos casarões que encontro aqui em Minas. Temos páginas amareladas, com letras, margens e espaçamento de bom tamanho. Não me lembro de ter encontrado erros de revisão.

 “Por que os artistas mineiros são tão amargos? Falam de suas obras à beira do choro. Parece que estão interpretando as Troianas. Sacodem as cabeças para se despentearem e assim dar mais ênfase ao desespero. As mãos viram garras e por um milagre não puxam os cabelos. A Inconfidência Mineira ainda arranca lágrimas. Geram discussões inflamadas, principalmente se quem estiver desabonando não for mineiro.
 Fica um soluço desconcertante no ar.
 Falam que Minas Gerais é a terra das assombrações e dos fantasmas. Escravos arrastando correntes. Senhores estropiando cavalos, ao se descobrirem com lepra; Homens cavando a terra, procurando baús cheios de ouro enterrados pelos antepassados.” (página 25)

 Enfim, se a resenha parecer um pouco confusa, sem abordar muito personagens ou história, é apenas um reflexo de como foi a leitura para mim, com pontos altos e baixos, uma experiência bem diferente das minhas expectativas. Um livro interessante, mas difícil de ler (não pela linguagem utilizada) e difícil de resenhar. Sugiro que confiram outras resenhas dele no Skoob para terem mais opiniões. Por hoje é só, me contem: já conheciam o livro ou a autora? Gostam de livros com memórias familiares? E de histórias que falem sobre o estado de vocês?

 Detalhes: 216 páginas, ISBN-13: 9788542106145, Skoob. Clique e compre no site da editora. Clique para comprar na Amazon:


 "Aqui em casa, quando um começa a me aborrecer, meus filhos falam: Não brinque com a mamãe, ela é perigosa; para colocar você no livro, ela não muda de roupa." (página 85)

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Até o próximo post!
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19 comentários

  1. Oie Mari =)

    Não conhecia o livro, mas pela sua resenha deu para perceber que a uma leitura fluida e agradável. Ainda mais por causa de todo o contesto de se passar aqui no Brasil e a identificação ser mais fácil.


    Beijos;***
    Ane Reis | Blog My Dear Library.

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  2. Oi,
    não conhecia o livro, e honestamente o fato de não saber quem é o narrador da história teria me feito desistir na hora. Não gosto de livros confusos, por mais que a história seja interessante.

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  3. Olá, tudo bem? Não conhecia o livro, mas não foi uma obra que me chamou muito a atenção, pelo fato de parecer ser uma leitura um tanto confusa. Adorei tua resenha!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  4. Olá amore,

    Sendo bem sincera não conhecia o livro e não curti muito a capa do livro não.
    E embora sua resenha esteja maravilhosa, vou passar a dica, não é um livro que eu queira ler nesse momento entende.
    Essa coisa de livros confusos não é pra mim, ainda mais nesse momento que eu estou mega confusa srrsrs
    Passo a dica!

    Beijokas!
    www.facesdeumacapa.com.br

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  5. Olá!
    É complicado quando começamos a ler um livro e não sabemos quem é o narrador, mas tirando essa confusão, esse livro parece de fato ser bem agradável em relação a Minas Gerais. Também moro no estado e fico na maior felicidade sempre que vejo um novo livro do estado. Não conhecia esse, mas amo histórias com memórias familiares.
    Bjs.

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  6. Oi Maria! Eu como você, sou mineira, e sou apaixonada por minas! Tem uma coisa que sempre digo, não troco minhas serras por mar nenhum! Adoro encontrar um livro que seja sobre Minas, ou que se passe nele, e esse, apesar de suas ressalvas e da dificuldade em se conectar com a história, por vezes confusa, me interessou muito. Obrigada pela dica!

    Bjoxx ~ www.stalker-literaria.com

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  7. Oi Mari!!
    Nossa, eu não conhecia nem a autora, nem o livro.
    Acredito que a sua resenha foi confusa. Entendi mais ou menos como o livro parece funcionar e sei que algumas resenhas são bem difíceis de serem feitas exatamente porque o livro não é muito linear, como você mesma disse.
    Eu gosto muito de livros de memórias familiares e como disse, não o conhecia. Acho que se o encontrasse por ai, não compraria pois a capa não é muito chamativa, neh?! Só que, agora depois da sua resenha, se eu ver ele por ai, já vou me interessar mais em pegá-lo para ler!
    Beijos

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  8. Olá
    Não conheço o livro e confesso que me sentir um pouco perdida na resenha, por não ter nomes de personagens mais esse livro não atraiu a minha atenção e seria uma leitura que não me faria feliz então eu passo essa dica

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  9. Poxa que pena a leitura ter tido esse efeito sob você, é bem chato quando acontece e me faz querer desistir de um livro. Pelo visto não vou querer passar pelo mesmo que você, então provavelmente não vou ler também.

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  10. Oiii Mari

    É complicado lidar com essa confusão de narradores, acho que me sentiria bem frustrada. Apesar dos pontos positivos tb ressaltados na resenha, acho que não faria essa leitura já que a parte negativa me afetaria bastante tenho certeza.

    Beijos

    www.derepentenoultimolivro.com

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  11. Eu nao achei sua resenha nada confusa, pelo contrário, achei bem sincera, Acho que eu ficaria um pouco desmotivada com essa confusão a respeito dos narradores e isso atrapalharia a minha experiência com a obra, o que é uma pena. Mas fico feliz em saber que retrata o cenário mineiro de maneira bastante leal.

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  12. Oi, tudo bem? Nunca ouvi falar desse livro, mas acho que encararia. Eu gosto de leituras inusitadas e difíceis. Acho que as mais difíceis são as que mais me marcam, e "difíceis" por inúmeros motivos. Lembro quando o li As ondas, da Virginia Woolf, e foi uma leitura totalmente diferente, meio etérea e flutuante, mas foi uma das mais lindas que já fiz (a maioria das pessoas acha que esse livro, aliás, é o mais difícil de todos da autora). Mas eu também acho que depende muito do nosso momento, sabe? Às vezes tem isso também, depende da nossa bagagem e do nosso mental. Acho que, mesmo com os pontos negativos, você pôde fazer uma boa leitura, né? Não conhecia a autora, adorei saber sobre ela :)

    Love, Nina.
    www.ninaeuma.blogspot.com

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  13. Oiiii,

    Achei o livro meio confuso mesmo rs, a princípio parece ser uma história interessante, principalmente por conta dos suicidios e tal, mas só o fato de não saber quem é a narradora já me incomodaria de mais, e aí eu acabaria abandonando a leitura.

    Beijinhos...
    http://www.paraisoliterario.com

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  14. Olá, primeiro eu quero dizer que adorei a sua sinceridade na resenha.
    Então, eu ainda não conhecia o livro e acho que ficaria tão confusa quanto você, a leitura em si não me despertou interesse, mas acho que se a obra passasse por um melhor preparo talvez não gerasse essa confusão no leitor. Claro, ainda não li e não tenho como opinar a respeito disso. Mas foi a impressão que me deu ao ler a sua resenha.

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  15. Olá,
    Não conhecia o livro, mas realmente parece confuso. Aliás tenho sérios problemas com linha temporal alternada, fico completamente confusa, aí junto com isso ainda tem os nomes em apelidos, pronto já me perdi rs. Porém a ambientação parece ser boa de se acompanhar.

    Debyh
    Eu Insisto

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  16. Se eu fosse me basear na capa do livro passaria por ele. Mas sua resenha mostrou ser uma leitura tão agradável, que me interessei. Fiquei com vontade de conhecer a ambientação *_* e o desfecho

    Sai da Minha Lente

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  17. Olá!
    Nunca tinha ouvido falar nem da história, nem da autora. Mas confesso que eu também ficaria confusa em uma história com acontecimentos não lineares assim. Gosto muito de livros com memórias familiares, mas prefiro aqueles que têm tudo mais organizadinho. Não sei se daria uma chance, mas gostei muito da sua sinceridade sobre ele.
    Abraços

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  18. Olá, tudo bem? Não conhecia o livro, confesso. Acho que também ficaria confusa com o tanto de artifícios modificas que a autora usou. Também ficaria feliz com um reconhecimento ligado a meu estado ou costumes. Sim, com certeza percebemos pela sua resenha o quanto você teve altos e baixos durante a narrativa. Ótima e sincera resenha!
    Beijos,
    diariasleituras.blogspot.com.br

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  19. Eu gosto bastante de enredos com memória familiar, pois é sempre muito interessante perceber como existem coisas que se repetem em todas as famílias. Acredito que fazer uma releitura dessa obra valha muito a pena, pra quem sabe, entender melhor tudo que aconteceu. É muito bacana quando lemos algo que se em nossa terra, não ? Beijos do Wes ^^

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