Resenha: livro "Uma coisa absolutamente fantástica", Hank Green

 Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje, venho comentar sobre minha experiência de leitura com "Uma coisa absolutamente fantástica", escrito pelo Hank Green e publicado em 2018 pela Editora Seguinte, um dos últimos livros que li no ano passado. Preparem-se para conferir muitas citações!


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 A narradora é April May, uma designer de 23 anos que vivia em Nova York. Certa noite, quando voltava do trabalho, se deparou com uma escultura enorme na calçada, parecia um robô gigante. April amava artes e sentiu que precisava dar valor àquela obra e ao artista que a tinha construído, então ligou para Andy, um amigo que era super ligado em internet, para fazerem um vídeo sobre a escultura, que ela apelidou de Carl.

  "(...) em Nova York, as pessoas passam dez anos fazendo algo incrível acontecer, algo que captura a essência de uma ideia tão perfeitamente que de repente o mundo fica dez vezes mais claro. É lindo e potente, fruto da dedicação de grande parte da vida de alguém. O noticiário local faz uma reportagem e todo mundo fica tipo 'Que legal!', mas no dia seguinte já esqueceu por causa de outra coisa absolutamente perfeita e fantástica. Isso não quer dizer que a primeira coisa não fosse maravilhosa ou única… É só que tem muita gente fazendo muitas coisas impressionantes, então você acaba ficando meio cansado.
 Foi assim que me senti quando vi o Transformer de três metros de altura usando uma armadura de samurai, seu peitoral enorme erguido a um metro ou um metro e meio da minha cabeça. (...) Parei por talvez cinco segundos antes de estremecer, tanto por causa do frio quanto do olhar daquela coisa, e seguir em frente.
 Então me senti a maior cretina do mundo.
 Quer dizer, sou uma artista dando duro em um trabalho incrivelmente desinteressante para pagar o aluguel caro demais desta cidade e assim poder ficar imersa em uma das culturas mais criativas e influentes do mundo. Aqui, no meio da calçada, tem uma obra de arte que é um empreendimento gigantesco, uma instalação em que o artista trabalhou talvez por anos para que as pessoas parassem, olhassem e refletissem. E aqui estou eu, endurecida pela vida na cidade grande e mentalmente incapacitada por horas de trabalho braçal, sem dar uma segunda olhada em algo tão magnífico." (páginas 10 e 11)

 Eis que, no dia seguinte, o vídeo tinha viralizado, tendo milhões de acessos, pelo fato de mais de sessenta outras esculturas iguais a que April encontrou terem aparecido misteriosamente ao redor do mundo. O vídeo dela e de Andy era o primeiro sobre o assunto, e estava sendo usado sem autorização pelas redes de TV, além de estar rendendo dinheiro com a monetização no YouTube (atualmente, canais com mais de 1000 inscritos e 4 mil horas de vídeo assistidas nos últimos 12 meses podem ganhar com propagandas); e o pai de Andy, um advogado, passou a atuar para garantir os direitos do filho em relação aos canais de televisão e na repartição dos lucros do vídeo.

 "A questão de ficar famosa é que, com frequência, as únicas pessoas em posição de ser honestas com você sobre a realidade da vida de celebridade são as pessoas que vão ganhar montanhas de dinheiro se você for com tudo. Elas não têm nenhum incentivo para contar a verdade nua e crua, como o sr. Skampt tentou fazer naquele momento.
 - (...) A fama destrói as pessoas, e a maioria lida com ela num grau muito menor. Você fala de si mesma como se fosse uma ferramenta, mas é uma pessoa. Que ainda está se desenvolvendo. Isso afetaria sua vida para sempre." (página 84)

 "Enquanto era incapaz de dormir naquela cama gloriosa, descobri o verdadeiro motivo pelo qual estava surtando. Não porque talvez não estivéssemos sozinhos no universo, ou porque minha vida estava mudando para sempre e eu ia precisar criar outro e-mail. Mas porque eu precisava tomar uma decisão. É o tipo de escolha que só se pode fazer uma vez e da qual não há retorno, ainda que mude completamente sua vida. E, mesmo que o caminho esteja claro, ainda é profundamente perturbador." (página 70)

 E esses foram os primeiros passos de April e Andy em direção à fama, com entrevistas em programas de TV e muitos seguidores nas redes sociais, tudo em torno da origem dos Carls. Logo ficou claro que seria difícil tantas estátuas gigantes serem obra de um único artista, e a possibilidade de uma orgiem extraterrestre começou a ser cogitada, causando dúvidas a respeito de ser uma perigosa invasão ou uma visita pacífica, espalhando medo na população. Mais sobre essa parte da história é melhor que vocês descubram lendo, o fato é que a vida de April, depois da fama, nunca mais seria a mesma, afetando seu relacionamento com Maya, com os pais, os amigos, e consigo mesma.

 "A única outra ideia que tinha era de que se tratava de alguma coisa militar ultrassecreta, mas o quê? O que um governo teria a ganhar colocando robôs em uma série de lugares ao mesmo tempo e depois deixando um estranho rastro na Wikipédia que levava a três elementos químicos?" (página 70)

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 Todas as resenhas que li desse livro não haviam me preparado para o quanto ele seria absolutamente fantástico! Eu realmente não fazia ideia de para onde a história iria enquanto lia, se teríamos mesmo alienígenas ou não, me vi em dúvida sobre como o autor finalizaria a trama, e felizmente ele conseguiu construir uma história que ficava mais interessante a cada capítulo rumo a um final que, para mim, foi satisfatório depois de toda a jornada da April.

 É impressionante como o autor traz uma vasta gama de referências culturais e históricas (desde o assassinato de Francisco Ferdinando que foi o estopim para a 1° Guerra Mundial, passando pelas pinturas de Hundertwasser - vale a pena jogar o nome no Google para apreciar -, até Carly Rae Jepsen e Queen - passei horas ouvindo as músicas da banda por causa do livro).

 "É claro que eu não tinha noção disso na época, mas, discutindo com ele, eu estava dando mais espaço a Petrawicki e seus lunáticos. Suas ideias passaram a atingir um público maior, e eu (e é claro que todos os canais de jornalismo existentes) só reforçava a ideia de que havia apenas dois lados. Foi um erro enorme, mas ótimo em termos de popularidade." (página 162)

 "Um e-mail era claramente mais assustador que os outros e-mails assustadores. É incrível quão desconcertante uma única pessoa manipuladora e vil pode ser, mesmo se você nunca a viu e nunca vai ver (tomara). O poder que cada um de nós tem de fazer com que completos desconhecidos se sintam mal, assustados e fracos é impressionante." (página 29)

 Outra coisa impressionante é o quanto essa ficção científica young adult tem de realidade. O autor retrata muito bem a sociedade atual, onde as redes sociais (e a mídia) podem ser usadas tanto para o bem quanto para o mal, para construir celebridades ou destruí-las, para passar informações e para espalhar mentiras e o medo, manipulando e propagando ódio. Acredito que seja uma leitura bastante enriquecedora também para quem, assim como eu, tem um espaço na internet, seja num blog, num canal ou em outra rede social, para nos permitir entender melhor a interação com o público.

 A April pode não ser uma personagem que cative a todos logo de cara, mas a gente sabe que, na vida real, ninguém é perfeito. Ela faz escolhas erradas em alguns momentos, mas eu não sei como agiria no lugar dela. A personagem é bissexual, e eu acho importante termos essa representatividade e diversidade na obra, que também traz personagens negros.

 "(...) nem sei como seria não me sentir atraída por uma pessoa por causa do gênero dela."  (página 87)

 "Mas eu não queria amor; queria destruir os Defensores. Quando olho para o período antes do breve 'debate' com Peter (se é que se pode chamar assim), vejo a trajetória que, graças a Deus, o universo não permitiu que eu seguisse. Mas posso imaginar uma realidade em que o resto desse livro não aconteceu e eu passei o resto da vida (ou pelo menos os anos seguintes) como uma comentarista amarga e raivosa argumentando profissionalmente com argumentadores profissionais.
 Não que eu também não estivesse me divertindo. Reduzir os argumentos dos Defensores a farrapos e depois ler todos os comentários concordando apaixonadamente comigo e dando tapinhas eletrônicos nas minhas costas cibernéticas era empolgante. E muito mais difícil definir a si mesmo e trabalhar em prol do melhor futuro possível do que derrubar as ideias dos outros. Então defini eu mesma e minha visão de Carl em oposição aos Defensores. Meu caminho era contrário ao deles e o deles era contrário ao meu. Tudo podia ser reduzido àquele embate. E, espreitando logo abaixo, havia o ódio.
 É tão mais fácil se empolgar com o ódio a algo do que decidir gostar de algo. A bolha ideológica era tão intensa que nem notei que estava no centro. Era tão fácil fazer com que as pessoas me seguissem E, no fim, era o que eu queria. Logo me tornei tão ruim quanto Peter Petrawicki.
 Eu não deveria ter ficado tão surpresa quando as coisas aumentaram de proporção. Quer dizer, eu sabia que as pessoas me odiavam. Era algo real. Ser reconhecida por fãs é muito diferente de ir comprar algo na loja da esquina e não saber se o caixa é um Defensor que pensa que você é uma traidora suja. Achei que minhas únicas alternativas eram lutar ou correr, então lutei. O medo é um combustível ainda melhor que a raiva. E ainda mais destrutivo." (página 219)

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 A edição tem uma capa semelhante à original, com a representação dos Carls, boa revisão, páginas amareladas, diagramação com bom tamanho de letras, margens e espaçamento entre as linhas, além de fontes diferentes para representar mensagens eletrônicas.

 Enfim, "Uma coisa absolutamente fantástica" é um livro que eu gostei muito e que recomendo, com altas doses de realidade, ficção e humor. Hank Green se saiu muito bem em seu livro de estreia!

 "Às vezes, coisas estranhas acontecem e mudam o curso da história... e aparentemente acontecem comigo." (página 241)

 "Quando você fica preso em pequenas batalhas, acaba ficando pequeno também. Pular de um noticiário da TV a cabo a outro para discutir controvérsia após controvérsia tinha me apequenado. Eu só pensava na luta, e não em por que estava lutando." (página 185)

 Detalhes: 344 páginas, tradução: Lígia Azevedo, ISBN-13: 9788555340758, Skoob, leia o primeiro capítulo. Curiosidade: Hank é irmão do escritor John Green. Clique para comprar na Amazon (que agora gera boleto como opção de pagamento):


 E por hoje é só, espero que tenham gostado do post. Me contem: acreditam que há vida inteligente fora do nosso planeta? Já leram ou querem ler esse livro?

Até o próximo post!

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11 comentários

  1. Quando soube que irmão do JG iria lançar este livro fiquei ansiosa pelo lançamento, mas ao mesmo tempo com um certo receio. Justamente por não conhecer a sua escrita e por já ter me decepcionado algumas vezes com o próprio John. Ainda não li, mas a cada resenha que encontro, fico mais curiosa. Adoro YA e Scifi, então sinto que realmente vou gostar rs. Sua resenha me convenceu disso.

    Sai da Minha Lente

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  2. Que lega, não conhecia o livro, fiquei interessada.
    Beijos
    https://oneoffjulia.blogspot.com/

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  3. Oi, tudo bem? Sabe que eu nunca me interessei por esse livro, mesmo o autor sendo irmão do John Green? Eu juro que já li a sinopse umas cinco vezes, mas não me interessei pela leitura em momento algum. Ainda não tinha lido nenhuma resenha e a sua, com certeza, mudou a minha opinião. Fiquei com vontade de conhecer a personagem e, especialmente, a diversidade do livro. Muito obrigada pela dica <3

    Love, Nina.
    www.ninaeuma.blogspot.com

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    Respostas
    1. Oi Nina, espero que você possa lê-lo se surgir uma oportunidade, tem certos pontos que talvez possam lhe agradar :).

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  4. Oi Maria,
    Já tive a oportunidade de ler esse livro e gostei muito de conhecer suas impressões. Eu tive sérios problemas com a April, foi uma protagonista que me irritou muito no começo, mas que me agradou demais quando cheguei ao final, apesar de não ter tido todas as respostas que esperava, foi uma leitura que me agradou.
    Adorei as quotes que você selecionou também ♥
    Beijos,
    @umoceanodehistorias_

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  5. Oi Mari,
    Confesso que vi esse livro pelas redes e não dei tanta importância pois a capa não me chamou a atenção. Mas lendo sua opinião sobre ele só me fez ficar super curiosa com os acontecimentos da história. Já coloquei na lista e não veio a hora de conhecer melhor.
    As citações também estão maravilhosas. Dá a ideia do quanto o livro envolve.
    Bjim!
    Tammy

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  6. Olá!
    Estou bem curiosa para conhecer a escrita do autor. As críticas são bem favoráveis e mesmo não tendo simpatizado um pouco com o estilo da April acredito que eu vá gostar da trama como um todo.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  7. Oi!!!!

    O estilo literário não faz muito o meu gênero, mas gostei da critica social relacionada as mídias e as redes sociais. Não sei se é ou não um evento alienígena, mas curti o fato de ter esse suspense. Enfim, não seria um livro que iria ler no momento, contudo vou anotar a sua dica.

    Beijos!

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  8. Olá!
    Já tinha visto essa capa nas redes sociais, mas não fazia ideia do que se tratava. Gostei de conhecer melhor do que se trata a história.
    Gostei de conhecer sua opinião, e fiquei interessada pela obra.
    Os quotes são bastante intensos, beijos!

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  9. Olá, tudo bem?
    Eu também li esse livro recentemente e adorei a leitura, achei a protagonista muito difícil mesmo, mas gostei de como ela aprende com seus erros e tenta melhorar. Gostei bastante de ver a sua resenha.

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  10. Olá, tudo bem?

    Você me ganhou na resenha quando disse que se trata de uma mistura de ficção cientifica com Young adult, achei interessante e fiquei curiosa, você colocou um livro na minha lisinha de desejados de 2019. kkkk Que Deus me ajude, vou falir!!!!

    Beijo!

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