Resenha: livro "O Último Presente de Paulina Hoffmann", Carmen Romero Dorr

 Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje, venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "O Último Presente de Paulina Hoffmann", escrito pela espanhola Carmen Romero Dorr e publicado em 2019 pela Editora Jangada.

 "A memória conhece os caminhos que esquecemos. Mal-intencionada e astuciosa, sabe como nos levar de volta, quando menos esperamos, aos lugares que tanto esforço nos custou deixar para trás." (página 29)

 Alícia quer descobrir o motivo de sua avó, Paulina Hoffmann, ter lhe deixado um apartamento em Berlim como herança. Paulina nasceu na Alemanha, mas Alícia acreditava que a senhora nunca tinha voltado ao país após ir para a Espanha com a mãe no final da Segunda Guerra Mundial.

 Alícia decide sair de Madri e ir até a capital alemã para ver o que encontrará nesse apartamento. A viagem vem num momento propício, já que o luto pela avó, a figura mais importante em sua vida, está sendo bem difícil, além do fato de ela ter pedido licença do trabalho, se separado recentemente e seu filho estar passando alguns dias com o pai.

 "A avó tinha sido sua confidente, sua amiga, sua protetora, seu exemplo, sua cúmplice. Quase uma mãe para uma menina que perdera muito cedo a sua. Havia cuidado dela tardes sem conta, lhe ensinado a enfrentar suas primeiras frustrações, a levar tudo numa boa. A amar os livros. A não se deixar vencer, a tentar ser feliz. Acolhera-a mil vezes quando, já adolescente e mesmo adulta, discutia com seu pai ou algum namorado. Sua casa tinha sido, para Alícia, o refúgio derradeiro, sempre de portas abertas.
 Quando engravidou de Jaime, chamou sua avó antes mesmo que seu pai. Quando ganhou o primeiro processo importante no escritório de advocacia, correu a avisar Paulina Hoffmann: o elogio mais importante é o de quem sabe quanto você se esforçou." (página 14)

 Durante a leitura, descobriremos o motivo de Paulina ter deixado o apartamento como herança, enquanto conheceremos mais sobre ela e Alícia. Os capítulos são narrados em terceira pessoa e divididos entre as duas protagonistas: em alguns acompanhamos Alícia, em outros acompanhamos Paulina.

 As partes sobre Paulina foram as mais fortes para mim, pela época que vivenciou. Ela era uma garota alemã que vivia bem com a mãe, o pai médico e os dois irmãos mais velhos. Até que a guerra começou, seu pai e os irmãos tiveram que se alistar, Paulina teve que se separar de sua melhor amiga que era judia e passou a só contar com a mãe, uma mãe que, após o fim da guerra, fez o possível para levar a filha adolescente para algum lugar onde ela pudesse ter uma vida melhor. Na Espanha, Paulina se tornará adulta, amará, casará, se tornará mãe de dois filhos e avó de uma neta que, como consta na sinopse, "dará um novo sentido para sua vida".

 Mas tanto Paulina quanto Alícia guardam segredos que nos mantém presos na leitura, curiosos para desvendar os mistérios dessas duas mulheres. E teremos revelações surpreendentes!

 "Alícia carrega tanta culpa desde o divórcio que, às vezes, teme não merecer o carinho incondicional do filho, sempre disposto a correr até a porta e recebê-la, embora ela tenha passado doze horas no escritório, ocupada em preparar um novo processo, em obter mais vitórias. O amor de uma criança é o mais indiscutível e absoluto, gerando ao mesmo tempo uma série de dúvidas, como um brinquedo valioso e delicado que tememos quebrar sem querer." (página 180)

 Confesso que solicitei esse livro da parceria principalmente pelo fato de outros leitores terem dito que era uma leitura rápida. Comecei-o sem grandes expectativas, mas já nas primeiras páginas eu me surpreendi com a fluidez da narrativa da autora e com a forma como ela conseguiu me prender na trama. Foi sim uma leitura rápida, os capítulos curtos certamente ajudam, mas o mérito também é da ótima escrita da autora.

 Algumas vezes, não consigo me conectar com personagens se acompanho-os por um longo período de tempo, mas não aconteceu isso em "O Último Presente de Paulina Hoffmann", e olha que acompanhamos Paulina por 84 anos! A autora conseguiu manter meu interesse na personagem do início ao fim, com todas as transformações pelas quais ela passou desde que era uma garotinha que não entendia o motivo de ter que se separar de sua melhor amiga, até se tornar uma avó que necessitava da companhia da neta num nível que só vocês lendo para entenderem.

 Confesso também que livros sobre a Segunda Guerra Mundial não chamam mais tanto a minha atenção pelo fato de eu já ter lido vários ambientados na época, mas novamente a autora me surpreendeu pela forma como desenvolveu a história dos personagens em meio aos fatos históricos.

 "Doem-lhe as pernas por ficar muito tempo na mesma posição. Viaja o tempo todo com a boneca nos braços. Quando cruzam a fronteira da Alemanha e entram na Holanda, ouvem-se os gritos de alegria das crianças maiores, que compreendem ter vencido já o primeiro obstáculo. Acham que logo estarão a salvo.
 Horas depois, chegam à cidadezinha onde devem desembarcar do trem para pegar o navio no dia seguinte, mas os adultos lhe dizem que terão de passar mais uma noite nos vagões. É a primeira vez que a menina ouve aquela palavra: 'Flüchtlinge'.* Embora não entenda bem o que significa, sente-se triste. Mas então escuta uma voz alvoraçada:
 - Olhem ali, à direita!
 No outro extremo da plataforma, um grupo de mulheres distribui chocolates e biscoitos pelas janelas. Quando, por fim, chegam a seu compartimento e ela degusta a doçura da bebida quente na boca, pensa na frase que sua mãe havia repetido muitas vezes ultimamente: 'Apesar de tudo, a maioria das pessoas é boa'." (páginas 276 e 277, Flüchtlinge significa refugiados; na cena, acompanhamos uma menina que foi para outro país na Operação Kindertransport, que conseguiu retirar cerca de 10000 crianças judias da Alemanha Nazista e levá-las para a Inglaterra)

 "O inferno não pode ser muito diferente do lugar onde estou agora. (...) É impossível explicar em palavras o que significa este frio constante e extremo. Basta deixar os prisioneiros russos uma noite ao relento, dentro de uma cerca de arame farpado, para que no dia seguinte estejam todos mortos." (página 75, Dr. Otto Hoffmann)

 "O Último Presente de Paulina Hoffmann" é um daqueles livros difíceis de resenhar, pois talvez eu não consiga encontrar os termos exatos para convencê-los a ler ele, e eu quero muito que vocês leiam essa história. Então, fica o meu pedido para que também venham descobrir o motivo de Paulina ter deixado um apartamento em Berlim para Alícia. Espero que vocês possam experimentar a sensação de esquecer o mundo a sua volta enquanto mergulham na leitura e acompanham a jornada de Paulina, uma jornada de erros, acertos e, sobretudo, de sobrevivência.

 Eu não sei descrever em palavras a emoção que a história de Paulina Hoffmann me trouxe, o que eu senti ao descobrir o segredo que ela guardou por décadas, ao entender a importância da companhia da neta quando as duas viam um velho álbum de fotos ou ao saber o que aquele apartamento deixado de herança significava, mas foi uma emoção que vocês precisam vivenciar, é a magia da leitura!

 "O papel escrito sobrevive a nós, lembra nossa história depois de termos partido. Quando não formos mais que um punhado de ossos num buraco qualquer, a celulose só começara a amarelar timidamente e a tinha apenas ameaçará apagar-se. Nossas palavras continuarão ali para recordar quem fomos, como amamos, por que sofremos. (...) As palavras, a tinta, o papel: ingredientes de uma fórmula mágica, capaz de eliminar as fronteiras do tempo e do espaço." (página 78)

 Sobre a edição: a capa, adaptada da original, traz cores e imagens que evocam elementos da história (foi incrível sentir que eu entendia a capa ao ler certas cenas), as páginas são amareladas, a diagramação tem letras, margens e espaçamento de bom tamanho, e não encontrei erros de revisão.

 Por hoje é só, espero que tenham gostado post. Fica a minha recomendação para que leiam "O Último Presente de Paulina Hoffmann", especialmente se gostarem de histórias sobre a Segunda Guerra Mundial, é um livro emocionante, mas não é triste, fala sobre a vida, o tempo, a família, de uma forma muito marcante.

 Detalhes: 320 páginas, ISBN-13: 9788555391415, Skoob. Clique para comprar na Amazon:

 Quem aí vai querer descobrir mais sobre "O Último Presente de Paulina Hoffmann"?

Até o próximo post!

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