Resenha: livro "Se deus me chamar não vou", Mariana Salomão Carrara

 Olá, pessoal? Como estão? Na resenha de hoje, venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "Se deus me chamar não vou", da Mariana Salomão Carrara, publicado pela Editora Nos em 2019.

 "Sabe, Homem-aranha, eu preferia fazer a carta para o Super-homem, porque ele é imortal e eu queria perguntar pra ele como é isso de saber que nunca vai morrer, eu preferia esse poder, de nunca morrer, além de voar, mas a professora me sorteou você, e tudo bem, as teias são ótimas."

 Tudo começa quando Maria Carmem, uma garota de 11 anos, precisa escrever uma redação para um super-herói na escola. Ela queria escrever para o Super-Homem, mas o sorteio da professora acaba determinando que ela escreva para o Homem Aranha. E Maria Carmem faz um trabalho excelente, tanto que a professora lhe diz que ela pode ser escritora quando crescer, mas que precisa praticar, e a garota começa a escrever um livro sobre sua vida.

 "Ficamos dizendo o tempo todo palavras que não são as melhores, as melhores vêm só depois. Por isso que vai ser legal quando eu for escritora, dá tempo de selecionar as palavras."

 Acho que foi no Instagram que vi uma resenha de "Se deus me chamar não vou", e o título chamou minha atenção o suficiente para que eu pegasse o e-book no Kindle Unlimited. Ao ler as primeiras páginas, pensei que seria a leitura ideal para me distrair nesse momento difícil que enfrentamos por causa da pandemia, pois os comentários de Maria Carmem são divertidíssimos. A garota acredita que "tudo na vida é produzido pela prefeitura", uma espécie de lugar mágico que pode resolver todos os problemas. Maria Carmem é criativa e tenta ajudar os pais a melhorar a "loja de velhos" da família, uma loja que vende produtos para facilitar a vida de idosos ou doentes. Maria Carmem também é curiosa e cheia de dúvidas sobre o mundo adulto.

 "Quem paga esse homem? Se eu pudesse chutar diria que é a prefeitura, mas eu chutaria prefeitura para tudo. Ou, ainda, quando meus pais chamam em casa um homem pra consertar alguma coisa, e dão muito pouco dinheiro, é evidente que aquele homem não estudou, e então quem ensina um adulto que não estudou a fazer algo que é tão difícil que dois adultos que estudaram não conseguem fazer? A prefeitura também?"

 "os adultos são cheios de arrependimentos e ficam achando que a gente vai ser também."

 Mas, com o passar das páginas, vemos um outro lado de Maria Carmem, além dos comentários bem humorados e criativos. Todos dizem que ela "tem muito tamanho", por ser gorda e mais alta que as demais crianças da sua idade, sua aparência se torna um problema. Maria Carmem não tem amigos na escola e acaba sendo vítima de bullying. Seu relacionamento familiar também tem seus percalços. Tudo isso torna ainda mais difícil ter 11 anos, essa idade entre a infância e a adolescência, abrindo caminho para a tristeza e o sentimento de não ser amada nem valorizada.

 "Adultos se divertem. Crianças se divertem. Eu não sei se estou exatamente na idade em que ninguém faz nada de bom, ou se isso de diversão simplesmente acabou pra mim."

 "A porta do meu quarto não tem chave, o que deve fazer parte dessa maravilha que é ter 11 anos."

 "Onze anos é a pior idade do universo, dura pelo menos cinco anos."

 "e diziam outras coisas que eu não entendia, coisas que certamente só podiam ter sido ditas pelo pai deles porque eles não iam saber dizer sozinhos" (sobre os colegas de escola)

 A Maria Carmem me lembrou um pouco o Charlie de "As vantagens de ser invisível", meu livro favorito, mas a Maria Clara infelizmente não encontrou amigos como a Sam e o Patrick, que lhe mostrassem como a vida pode ser boa quando se tem companhia, além do fato de a Maria Carmem não conseguir passar tão despercebida quanto o Charlie, por causa da aparência dela.

 "Se deus me chamar não vou" é um livro divertido e triste ao mesmo tempo, que nos faz rir e, no parágrafo seguinte, querer chorar pela solidão e o sofrimento da personagem. A autora conseguiu encontrar o tom certo para escrever como uma menina de onze anos, com a ingenuidade de uma criança, mas também com a dor que só quem tem pensamentos suicidas pode entender.

 "Acho que existem crianças mais solitárias que os velhos."

 "porque as coisas boas continuam existindo, elas sempre existem."

 Certamente não esquecerei tão cedo a garota tão especial que encontrei nesse livro, nem o Leo com seus questionários (vocês vão conhecê-lo se lerem a história). "Se deus me chamar não vou" é meu primeiro livro favorito do ano, terei que devolver o e-book mas quero comprá-lo ou comprar o livro físico, para poder reler e grifar as muitas citações de que gostei.

 Com apenas 114 páginas, pode ser uma leitura rápida, mas muito marcante. Fica a minha recomendação de leitura, mas preparem-se, pois a história pode tocá-los muito.

 Sobre a edição, a capa é simples, não encontrei erros de revisão ou problemas na diagramação do e-book.





 Mais algumas citações:

 "Acho que meus pais começaram esse ano muito frustrados, minha mãe me explicou que é culpa dos Planos. Disse que os Planos são uns moços muito bonitos que ficam caminhando em volta da cabeça dos jovens e vão sumindo bem devagar, ninguém percebe, e a pessoa acorda um dia que nem minha mãe com muita saudade deles, mas não tem mais nada, os Planos todos desapareceram e ninguém sabe dizer exatamente quando."
 "Daí fico um tempo pensando que só tenho isso mesmo, tamanho. Muito tamanho. Era meu aniversário, no dia mais triste do ano, a loja quente, eu só tinha tamanho, não tínhamos garfo flexível com engrossador pro pai do cliente parado ali, e eu procurava uma posição na banqueta em que meus pés não alcançassem o chão, porque é assim que as coisas deviam ser na minha idade."
 "Eu fazia 11 anos e entendi que dali em diante só precisaria de mais e mais coisas, e que um dia alguém mais novo que eu teria de estudar e investigar e até inventar objetos que me ajudassem a continuar fazendo as coisinhas de sempre. E que a nossa loja era isso, era um cuidado, não era uma maldição que um dia causaria nossa ruína, nem um abuso nem uma extorsão do dinheiro de velhinhos. Eu precisava salvar a loja, ainda que fosse no dia mais triste do ano."
 "Talvez seja assim com os velhinhos também, como os capítulos. Ninguém precisa decidir que certa parte da vida acabou. O corpo sente sozinho que não dá mais pra andar sem ajuda de alguma coisa que vendem na loja de velhos, e então, naturalmente, alguém vai lá e compra, e começamos um novo capítulo da vida. Vai ver é assim, e nem assusta tanto."
 "Às vezes o cliente entra, e a gente fica toda atenta, achando que ele vai comprar um assento ortopédico e vai salvar o dia, e ele pergunta se tem CD de música para relaxamento, e logo sai. Ou olha a primeira estante e já desiste, deixa a gente angustiado com a porcaria da estante, o que deveria estar lá e não está. As pessoas tinham que aprender a não entrar desse jeito na vida dos outros."
 "eu não sei por que as pessoas não informam tudo de uma vez, deixam a gente ficar aprendendo de pouquinho e fazendo confusão."
 "Eu nunca tinha escutado alguém falar dessa forma, daí eu entendi que é por isso que a morte normalmente faz tanto barulho e escândalo, é deus gritando bem alto o nome da pessoa até ela obedecer. No caso do meu vizinho que ficou muito tempo morto sozinho é porque bastou um sussurro de deus e ele já foi."
 "Acho que vem daí a palavra solidão, pessoas tão sólidas que ninguém vem checar se estão ruindo."

 Por hoje é só, espero que tenham gostado do post. Me contem: já conheciam esse livro? Já favoritaram alguma leitura esse ano?

Até o próximo post!

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