Resenha: livro "Quando Finalmente Voltará a Ser Como Nunca Foi", Joachim Meyerhoff

 Olá, pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje, venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "Quando Finalmente Voltará a Ser Como Nunca Foi", escrito pelo Joachim Meyerhoff e publicado no Brasil pela Editora Valentina em 2016.

Resenha: livro "Quando Finalmente Voltará a Ser Como Nunca Foi", Joachim Meyerhoff, Editora Valentina, Blog Pétalas de Liberdade

 "inventar significa recordar."

 A história é narrada por Joachim, também chamado de Josse. Acompanharemos Josse desde seu primeiro dia de aula, aos sete anos, até se tornar adulto. A casa onde ele mora com os pais e os dois irmãos mais velhos, na Alemanha, fica dentro dos muros de uma instituição psiquiátrica, pois seu pai é médico e diretor de um hospital psiquiátrico para crianças e adolescentes com mais de 1000 pacientes.

 "A entrega dos presentes ocorria de maneiras muito diferentes. Havia unidades em que pessoas sem braços nem pernas, às vezes até sem cérebro, fitavam inconscientes. Somente quando fiquei mais velho é que pude ir lá também. Essas unidades eram silenciosas, tudo permanecia intacto, e os presentes eram colocados nos travesseiros, ao lado da cabeça deformada dos pacientes. Ou a unidade em que só residiam quatro moças. Durante toda a cerimônia de entrega dos presentes, elas não tiravam os olhos de mim, fulminando-me de maneira ameaçadora. Cantavam canções de Natal maravilhosas. Cantavam com o corpo inteiro, balançando-se de um lado para o outro ao som melódico da flauta que um objetor de consciência tocava com empenho."

 A capa, o título e a sinopse me fizeram colocar o livro nos desejados, e acabei pegando o e-book no Kindle Unlimited. Mas a leitura não me prendeu tanto quanto eu imaginava, pois parece que a história não tem um fio condutor, um destino, são apenas relatos soltos da vida de um garoto: momentos entre pai e filho, brigas com os irmãos, a escola...

 Os pacientes do hospital não tiverem tanto destaque quanto eu esperava, alguns poucos são mostrados apenas pelos olhos do Josse que, muitas vezes, não sabia muito sobre eles.

 Pensei em abandonar a leitura por volta da metade, mas persisti até o final, na esperança de ter algo marcante no desfecho, o que não aconteceu, porém, nos últimos 25% do livro, a leitura teve um ritmo um pouco mais ágil e pude perceber, nas entrelinhas, como a forma como Josse via os pais mudou: na infância, tanto a mãe quanto o pai eram dignos de admiração, um porto seguro, mas, com o passar dos anos, os problemas do casal foram aparecendo, as fragilidades do relacionamento, os defeitos, algo que muitos de nós passamos a ver ao crescer.

 "Durante toda uma vida, ou melhor, durante toda a vida dele, ela punha em prática o que ele concebia na teoria. Sempre teve de assumir pelo meu pai toda a parte prática. Anos antes, ela chegara até mesmo a escrever a tese de doutorado e de livre-docência para ele, que sabia tudo, mas não conseguia se sentar e pôr as ideias em ordem. Fumando, passou 14 dias no quarto, andando de um lado para o outro e ditando para minha mãe todo o seu trabalho de livre-docência. Era mestre em delegar as coisas, mas um zero à esquerda para realizá-las."

 Fiquei sabendo que "Quando Finalmente Voltará a Ser Como Nunca Foi" faz parte de uma série, onde o autor conta mais de suas memórias nos outros volumes que, infelizmente, não foram publicados no Brasil. A obra não superou minhas expectativas, pela de uma ligação mais firme entre um relato e outro, mas é uma leitura que tem citações marcantes e que pode agradar leitores em busca de narrativas sobre registros familiares.

 Mais algumas citações:


 "Muitas vezes, junto aos dois portões e também na frente das entradas principais dos prédios, ocorriam cenas dramáticas. Pacientes novos, que acabavam de chegar, recusavam-se a entrar na área ou nos prédios, agarravam-se aos parentes e chutavam os enfermeiros; ou, então, pacientes antigos defendiam-se com unhas e dentes para não deixarem a área ou os prédios, agarravam-se aos enfermeiros e chutavam os parentes. Para muitos, tanto o caminho para entrar no hospital psiquiátrico quanto para dele sair era puro horror."

 "Ficava me perguntando por que justamente aquilo que mais se deseja no mundo causa um medo tão feroz."

 "Quando eu dormia em outro lugar, na casa dos meus avós, em Munique, ficava com uma enorme saudade de casa. O silêncio me deprimia. Eu odiava ouvir meu sangue murmurar no travesseiro e ficar deitado no escuro como uma múmia preparada para a eternidade. Sentia saudades dos gritos, da gritaria tranquilizadora dos doentes."

 "– Que loucura toda é essa, filho? A gente pensa que na velhice, de certo modo, vai melhorar – da dor de amor, da saudade –; tudo bobagem."

Detalhes: 352 páginas, Skoob, ISBN-13: 9788565859974, tradução: Karina Jannini. Clique para comprar na Amazon:

3 comentários

  1. Esse livro foi uma surpresa por aqui. Eu imaginava uma coisa e ao ler me deparei com um drama que me deixou bem envolvida. E não fazia ideia de que esse livro fazia parte de uma série, agora fiquei com vontade de ir atrás hahahaha que pena que a editora não trouxe para cá, pq realmente gostei dessa leitura - mesmo sendo um pouco arrastada

    Sai da Minha Lente

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  2. Oi Mari.

    Que pena que a leitura não superou sua expectativa. Infelizmente nós leitores sofremos muito com séries incompletas.A maiorias das editoras acabam deixando alguns livros de fora das publicações no Brasil. Eu tenho pelo menos três série na minha estante nessa situação. O livro que você resenhou não despertou meu interesse no momento. Vou deixar para pegar outra dica sua na próxima visita.

    Bjos
    https://historiasexistemparaseremcontadas.blogspot.com/

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  3. Oi Mari!
    Que pena que a leitura não te prendeu, acho que as vezes criamos expectativas e não somos correspondidos deixando-nos frustrados e ainda mais quando sabemos que faz parte de uma série que pode mudar todo o contexto de um livro, mas mesmo assim obrigado pela dica, vou procurar saber mais do autor. Parabéns pela resenha e por sua sinceridade, bjs!

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