Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "Orgulho e Preconceito", escrito pela inglesa Jane Austen em 1797 e publicado pela primeira vez em 1813. Eu li na edição da Editora Pé da Letra.
"Mais de uma vez, durante os seus passeios pelo parque, Elizabeth teve a surpresa de se encontrar com o Sr. Darcy. Ela sentia a perversidade do acaso, que o levava onde ninguém mais costumava aparecer. Para impedir que tal incidente voltasse a ocorrer, ela teve o cuidado de informá-lo de que aquele era o seu passeio favorito. Achou muito estranho, portanto, que o acaso se repetisse. Ele pouco falava e Elizabeth não se dava ao trabalho de escutá-lo com muita atenção." (página 117)
A obra é narrada em terceira pessoa e nos apresenta a família Bennet, composta por pai, mãe e cinco filhas (por ondem de idade: Jane, Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia). O objetivo da Senhora Bennet é ver suas filhas casadas, e ao saber que o Sr. Bingley, um rapaz solteiro e de boas condições financeiras, alugou uma propriedade próxima, ela fica animada com a possibilidade de ele se interessar por uma de suas garotas, o que de fato acontece. O simpático Bingley se encanta por Jane, mas mesmo que ela seja uma bela moça com um coração bondoso, ainda há certa diferença social entre eles, além da falta de refinamento da mãe da jovem e de alguns outros obstáculos.
Sr. Bingley trouxe para Meryton as duas irmãs, o cunhado e seu amigo Mr. Darcy. Ao contrário de Bingley, o orgulhoso Darcy não é simpático, além de ter um ar de superioridade e arrogância, parecendo desprezar as pessoas e os costumes da região. Elizabeth não sente nenhuma simpatia por ele, ainda mais pelo que supostamente Darcy teria feito com Wickham, obrigando o charmoso rapaz a ingressar na carreira militar ao invés do futuro promissor que lhe estava destinado. Mas, por ironia do destino, Darcy vai se apaixonar justamente por Elizabeth, e nas situações difíceis que a família Bennet enfrentará, ela perceberá que a forma como julgava Darcy estava errada. Para que um final feliz aconteça, Darcy precisará se livrar de seu orgulho, e Elizabeth, de seu conceitos prévios.
"Depois do café, o coronel Fitzwilliam lembrou a Elizabeth a promessa que ela lhe fizera de tocar para ele; e ela imediatamente se dirigiu ao piano. (... Darcy) dirigiu-se para o piano, colocando-se de maneira a obter uma visão perfeita do rosto da bela executante. Elizabeth teve consciência da sua presença e, na primeira pausa, voltou-se para ele e disse-lhe, com um sorriso malicioso:
- É para me assustar, Sr. Darcy, que se aproximou com toda essa imponência? Mas eu não ficarei alarmada, embora sua irmã toque tão bem. Existe em mim uma ousadia que a vontade dos outros é incapaz de intimidar. Nesses momentos a minha coragem não se faz ignorada.
- Não lhe direi que está enganada - replicou ele - pois nunca a Senhorita poderia realmente acreditar que eu tivesse a intenção de a alarmar. Tenho o prazer de a conhecer já há bastante tempo para saber que gosta ocasionalmente de exprimir opiniões que não são as suas.
Elizabeth riu com gosto da imagem que ele dela oferecia e disse para o coronel Fitzwilliam:
- O seu primo lhe dará uma bela ideia a meu respeito e o ensinará a não acreditar numa palavra do que eu digo. É azar meu encontrar alguém capaz de expor aos outros o meu verdadeiro caráter num lugar onde eu acalentara a esperança de deixar uma boa impressão. Realmente, Sr. Darcy, é uma falta de generosidade da sua parte mencionar aqui tudo o que descobriu sobre as minhas fraquezas. Considero, além disso, a sua atitude muito pouco delicada, pois me incita a represálias. Receio dizer coisas que escandalizem os seus parentes,
- Não tenho medo de você - disse ele, sorrindo.
- Oh, deixe que eu ouça as acusações que tem para lhe fazer - exclamou o coronel Fitzwilliam. - Gostaria de saber como ele se comporta entre estranhos.
- Eu lho direi... mas prepare-se para ouvir coisas horríveis. A primeira vez que o vi em Hertfordshire, foi num baile. E, nesse baile, que pensa o senhor que ele fez? Dançou apenas quatro danças! Dançou apenas quatro danças, embora os cavalheiros fossem escassos; e, de meu conhecimento, mais de uma rapariga ficou sentada por falta de par. Sr. Darcy, o senhor não pode negar isso.
- Na época não conhecia outras garotas do salão, além das do meu próprio grupo.
- É verdade; e ninguém pode ser apresentado a outro num salão de baile. (...)
- Talvez - disse Darcy - eu devesse ter solicitado uma apresentação, mas considero-me mal qualificado para me recomendar pessoalmente a pessoas estranhas.
(...)- Deveremos perguntar-lhe por que razão um homem bem educado e sensato e que tem a experiência do mundo se considera mal qualificado para se recomendar a pessoas estranhas?
- Posso responder à sua pergunta - disse Fitzwilliam - sem consultá-lo. É porque ele não quer ter esse trabalho.
- O que é certo é que eu não tenho o talento que muita gente possui - disse Darcy - de dirigir facilmente a palavra a pessoas que nunca vi anteriormente. Não sou capaz de entrar no estilo de conversa, ou fingir-me interessado por problemas dos outros, como vejo acontecer.
- Os meus dedos - disse Elizabeth - não se movem sobre este instrumento de modo tão magistral como os de muitas mulheres. Eles não têm a mesma força e a mesma rapidez, nem possuem a mesma força de expressão; mas disso eu me culpo só a mim, pois nunca me dei ao trabalho de praticar." (páginas 112, 113 e 114)
Eu estava curiosíssima para ler esse clássico que conquista leitores há séculos e por me interessar por histórias ambientadas em épocas passadas. Viciada que sou em romances de época de autoras contemporâneas, queria ver uma história de amor escrita por alguém que realmente viveu no período e no país que ambienta parte dos meus livros favoritos desse subgênero. E foi mesmo delicioso reparar nos costumes, no jeito de pensar e de viver do final do século dezoito, ainda que a autora não seja tão detalhista.
"A sua companhia era cansativa. E a sua afeição por ela devia ser imaginária. Mas mesmo assim seria seu marido. Sem ter grandes ilusões a respeito dos homens ou do matrimônio, o casamento sempre fora o seu maior desejo. Era a única posição tolerável para uma moça bem-educada, de pouca fortuna. E por mais incertas que fossem as perspectivas de felicidade, era ainda a forma mais agradável de ficar ao abrigo da necessidade. Esta proteção, agora a obtivera. Tinha 27 anos e jamais fora bela." (página 83, sobre Charlotte, amiga de Elizabeth)
Havia uma desigualdade ainda maior entre homens e mulheres, por exemplo: a propriedade dos Bennet, após a morte do pai, seria herdada por um parente distante e não pelas garotas, o que causava grande preocupação na Senhora Bennet sobre o futuro dela e das filhas. Mas questões como o amor pelos irmãos e a preocupação com os amigos são atemporais e causam facilmente empatia nos leitores atuais. E não imaginava que num livro publicado há dois séculos teríamos diálogos tão francos, ou seja, há bem menos formalidade do que pensei que encontraria na obra.
"- Tem razão, ele (Darcy) gosta bastante de fazer o que quer - replicou o coronel Fitzwilliam. - Como todos nós, aliás. Só que ele tem meios para se dar a tal luxo, pois ele é rico e os outros, na sua maioria, são pobres. Falo com sinceridade. Na minha qualidade de filho mais novo, como sabe, tenho de estar preparado para o sacrifício e a obediência.
- Na minha opinião, o filho mais novo de um nobre nunca se familiarizará de mais com tais aspectos da vida. Diga-me, seriamente, que sabe o senhor a respeito de sacrifício e obediência? Quando foi o senhor impedido, por falta de dinheiro, de se locomover livremente ou de obter coisas que desejava?
- Isso são perguntas de carácter privado, e talvez eu não possa dizer que tenha experimentado muitas dificuldades dessa ordem. Porém, em assuntos de maior importância, é possível que eu sofra pela falta de dinheiro. Os filhos mais novos nem sempre podem se casar segundo as suas inclinações." (página 117)
Acho que o destaque de "Orgulho e Preconceito" são os personagens, todos com características fortes, sejam elas boas ou ruins, defeitos ou qualidades. Chega a ser chocante como a Senhora Bennet parece gostar mais de algumas das filhas do que de outras. É admirável o bom coração de Jane, o jeito como sempre tenta ver as coisas e as pessoas de maneira positiva. Lydia é uma irresponsável como existem muitos jovens por aí. Mary vive perdida no mundo das artes e acaba tendo uma falsa noção de superioridade em relação aos que não partilham dos mesmos hábitos que ela. O Sr. Collins, herdeiro da propriedade dos Bennet, é realmente chato e capaz de dizer atrocidades, mas nem de longe tão perigosamente manipulador quanto Wickham. E chegamos às estrelas do livro: Darcy e Elizabeth!
"A Sra. Hurst veio cantar com a irmã, e, enquanto elas estavam assim ocupadas e folheava alguns livros de música espalhados sobre o piano, Elizabeth reparou na insistência com que os olhos do Sr. Darcy a procuravam.
Custava para ela admitir que pudesse constituir um objeto de admiração para tão grande homem. A ideia de que ele olhasse para ela porque ela lhe desagradava, lhe parecia mais estranho ainda. Concluiu, finalmente, que talvez lhe chamasse a atenção por, de acordo com as noções dele de decoro, encontrar algo de mais errado e repreensível que em qualquer outra pessoa presente. Tal suposição estava, porém, longe de a ferir. Não simpatizava com ele o suficiente para se preocupar com a opinião que ele pudesse formar a seu respeito." (página 37)
Darcy tem sim ações e falas que demonstram seu orgulho excessivo. O pai de Elizabeth, quando fica sabendo do suposto interesse dele pela filha, não crê, pois o vê como um homem "que não olha para uma mulher senão para criticar" (página 222). É super interessante ver como Elizabeth nem desconfia que os constantes olhares de Darcy para ela e suas tentativas de estar por perto possam ser um jeito de ele demonstrar seu interesse amoroso. Isso rende diálogos e cenas ótimas. Gostei muito da personalidade forte de Elizabeth. O livro até pode demorar um pouquinho para nos prender, mas quando vemos Darcy tentando deixar parte do seu orgulho de lado para ser alguém por quem Elizabeth se interessaria, e quando vemos ela descobrindo essa nova forma de interpretar Darcy, aí a leitura se torna bem mais envolvente e me vi lendo avidamente os capítulos finais.
"Quanto melhor eu conheço o mundo, menos ele me satisfaz; e a cada dia vejo confirmada a minha crença na inconsistência de todos os caracteres humanos e na pouca confiança que se pode depositar nas aparências do mérito e do bom senso." (página 90)
Essa edição da Pé da Letra, além de poder ser encontrada por preços baratos em feiras literárias, é muito bonita visualmente, com a capa florida, o corte colorida da lateral das folhas, algumas ilustrações e detalhes no início de capítulos. As páginas são amareladas, as margens e o espaçamento entre uma linha e outra são de bom tamanho, e a letra, apesar de não ser muito grande, permite uma leitura confortável. Mas a edição apresenta falhas de revisão, por exemplo, chega a ter um parágrafo repetido. Como podem notar, há citações grandes nessa resenha, e eu não digitei letra por letra delas; sendo um livro bem comentado (inclusive, tema de diversos trabalhos acadêmicos), foram facilmente pesquisadas no Google e copiadas para o post, o que me fez perceber que outras traduções podem ter algumas frases a mais do que essa que eu li. Sendo assim, pretendo futuramente reler a obra numa outra edição.
"Você não pode, por causa de um caso individual, mudar o sentido de 'bom senso' e 'integridade', nem procurar persuadir a você mesma ou a mim que o egoísmo é a prudência, e a insensibilidade diante do perigo, certeza de felicidade." (página 90)
Enfim, valeu a pena ler esse clássico e descobrir como um romance sem nenhuma cena de beijo conseguiu arrebatar tantos corações. Me tornei admiradora da Elizabeth, não me apaixonei perdidamente pelo Darcy, mas quem sabe numa segunda leitura ou vendo a adaptação cinematográfica isso mude?! Pelo menos nessa tradução, a linguagem não me parece muito difícil, e os capítulos são curtos, o que ajuda na fluidez da leitura. Se você ainda não leu, fica a minha recomendação para que dê uma chance à leitura. Se já leu, tem algum outro livro da autora para me recomendar?
Detalhes: 240 páginas, ISBN-13: 9788556710178, Skoob. Clique para comprar na Amazon (e-book da edição da Landmark disponível no Kindle Unlimited):
Sorteio de desapego de 12 livros usados, clique aqui e participe.
"Mais de uma vez, durante os seus passeios pelo parque, Elizabeth teve a surpresa de se encontrar com o Sr. Darcy. Ela sentia a perversidade do acaso, que o levava onde ninguém mais costumava aparecer. Para impedir que tal incidente voltasse a ocorrer, ela teve o cuidado de informá-lo de que aquele era o seu passeio favorito. Achou muito estranho, portanto, que o acaso se repetisse. Ele pouco falava e Elizabeth não se dava ao trabalho de escutá-lo com muita atenção." (página 117)
A obra é narrada em terceira pessoa e nos apresenta a família Bennet, composta por pai, mãe e cinco filhas (por ondem de idade: Jane, Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia). O objetivo da Senhora Bennet é ver suas filhas casadas, e ao saber que o Sr. Bingley, um rapaz solteiro e de boas condições financeiras, alugou uma propriedade próxima, ela fica animada com a possibilidade de ele se interessar por uma de suas garotas, o que de fato acontece. O simpático Bingley se encanta por Jane, mas mesmo que ela seja uma bela moça com um coração bondoso, ainda há certa diferença social entre eles, além da falta de refinamento da mãe da jovem e de alguns outros obstáculos.
Sr. Bingley trouxe para Meryton as duas irmãs, o cunhado e seu amigo Mr. Darcy. Ao contrário de Bingley, o orgulhoso Darcy não é simpático, além de ter um ar de superioridade e arrogância, parecendo desprezar as pessoas e os costumes da região. Elizabeth não sente nenhuma simpatia por ele, ainda mais pelo que supostamente Darcy teria feito com Wickham, obrigando o charmoso rapaz a ingressar na carreira militar ao invés do futuro promissor que lhe estava destinado. Mas, por ironia do destino, Darcy vai se apaixonar justamente por Elizabeth, e nas situações difíceis que a família Bennet enfrentará, ela perceberá que a forma como julgava Darcy estava errada. Para que um final feliz aconteça, Darcy precisará se livrar de seu orgulho, e Elizabeth, de seu conceitos prévios.
"Depois do café, o coronel Fitzwilliam lembrou a Elizabeth a promessa que ela lhe fizera de tocar para ele; e ela imediatamente se dirigiu ao piano. (... Darcy) dirigiu-se para o piano, colocando-se de maneira a obter uma visão perfeita do rosto da bela executante. Elizabeth teve consciência da sua presença e, na primeira pausa, voltou-se para ele e disse-lhe, com um sorriso malicioso:
- É para me assustar, Sr. Darcy, que se aproximou com toda essa imponência? Mas eu não ficarei alarmada, embora sua irmã toque tão bem. Existe em mim uma ousadia que a vontade dos outros é incapaz de intimidar. Nesses momentos a minha coragem não se faz ignorada.
- Não lhe direi que está enganada - replicou ele - pois nunca a Senhorita poderia realmente acreditar que eu tivesse a intenção de a alarmar. Tenho o prazer de a conhecer já há bastante tempo para saber que gosta ocasionalmente de exprimir opiniões que não são as suas.
Elizabeth riu com gosto da imagem que ele dela oferecia e disse para o coronel Fitzwilliam:
- O seu primo lhe dará uma bela ideia a meu respeito e o ensinará a não acreditar numa palavra do que eu digo. É azar meu encontrar alguém capaz de expor aos outros o meu verdadeiro caráter num lugar onde eu acalentara a esperança de deixar uma boa impressão. Realmente, Sr. Darcy, é uma falta de generosidade da sua parte mencionar aqui tudo o que descobriu sobre as minhas fraquezas. Considero, além disso, a sua atitude muito pouco delicada, pois me incita a represálias. Receio dizer coisas que escandalizem os seus parentes,
- Não tenho medo de você - disse ele, sorrindo.
- Oh, deixe que eu ouça as acusações que tem para lhe fazer - exclamou o coronel Fitzwilliam. - Gostaria de saber como ele se comporta entre estranhos.
- Eu lho direi... mas prepare-se para ouvir coisas horríveis. A primeira vez que o vi em Hertfordshire, foi num baile. E, nesse baile, que pensa o senhor que ele fez? Dançou apenas quatro danças! Dançou apenas quatro danças, embora os cavalheiros fossem escassos; e, de meu conhecimento, mais de uma rapariga ficou sentada por falta de par. Sr. Darcy, o senhor não pode negar isso.
- Na época não conhecia outras garotas do salão, além das do meu próprio grupo.
- É verdade; e ninguém pode ser apresentado a outro num salão de baile. (...)
- Talvez - disse Darcy - eu devesse ter solicitado uma apresentação, mas considero-me mal qualificado para me recomendar pessoalmente a pessoas estranhas.
(...)- Deveremos perguntar-lhe por que razão um homem bem educado e sensato e que tem a experiência do mundo se considera mal qualificado para se recomendar a pessoas estranhas?
- Posso responder à sua pergunta - disse Fitzwilliam - sem consultá-lo. É porque ele não quer ter esse trabalho.
- O que é certo é que eu não tenho o talento que muita gente possui - disse Darcy - de dirigir facilmente a palavra a pessoas que nunca vi anteriormente. Não sou capaz de entrar no estilo de conversa, ou fingir-me interessado por problemas dos outros, como vejo acontecer.
- Os meus dedos - disse Elizabeth - não se movem sobre este instrumento de modo tão magistral como os de muitas mulheres. Eles não têm a mesma força e a mesma rapidez, nem possuem a mesma força de expressão; mas disso eu me culpo só a mim, pois nunca me dei ao trabalho de praticar." (páginas 112, 113 e 114)
Eu estava curiosíssima para ler esse clássico que conquista leitores há séculos e por me interessar por histórias ambientadas em épocas passadas. Viciada que sou em romances de época de autoras contemporâneas, queria ver uma história de amor escrita por alguém que realmente viveu no período e no país que ambienta parte dos meus livros favoritos desse subgênero. E foi mesmo delicioso reparar nos costumes, no jeito de pensar e de viver do final do século dezoito, ainda que a autora não seja tão detalhista.
"A sua companhia era cansativa. E a sua afeição por ela devia ser imaginária. Mas mesmo assim seria seu marido. Sem ter grandes ilusões a respeito dos homens ou do matrimônio, o casamento sempre fora o seu maior desejo. Era a única posição tolerável para uma moça bem-educada, de pouca fortuna. E por mais incertas que fossem as perspectivas de felicidade, era ainda a forma mais agradável de ficar ao abrigo da necessidade. Esta proteção, agora a obtivera. Tinha 27 anos e jamais fora bela." (página 83, sobre Charlotte, amiga de Elizabeth)
Havia uma desigualdade ainda maior entre homens e mulheres, por exemplo: a propriedade dos Bennet, após a morte do pai, seria herdada por um parente distante e não pelas garotas, o que causava grande preocupação na Senhora Bennet sobre o futuro dela e das filhas. Mas questões como o amor pelos irmãos e a preocupação com os amigos são atemporais e causam facilmente empatia nos leitores atuais. E não imaginava que num livro publicado há dois séculos teríamos diálogos tão francos, ou seja, há bem menos formalidade do que pensei que encontraria na obra.
"- Tem razão, ele (Darcy) gosta bastante de fazer o que quer - replicou o coronel Fitzwilliam. - Como todos nós, aliás. Só que ele tem meios para se dar a tal luxo, pois ele é rico e os outros, na sua maioria, são pobres. Falo com sinceridade. Na minha qualidade de filho mais novo, como sabe, tenho de estar preparado para o sacrifício e a obediência.
- Na minha opinião, o filho mais novo de um nobre nunca se familiarizará de mais com tais aspectos da vida. Diga-me, seriamente, que sabe o senhor a respeito de sacrifício e obediência? Quando foi o senhor impedido, por falta de dinheiro, de se locomover livremente ou de obter coisas que desejava?
- Isso são perguntas de carácter privado, e talvez eu não possa dizer que tenha experimentado muitas dificuldades dessa ordem. Porém, em assuntos de maior importância, é possível que eu sofra pela falta de dinheiro. Os filhos mais novos nem sempre podem se casar segundo as suas inclinações." (página 117)
Acho que o destaque de "Orgulho e Preconceito" são os personagens, todos com características fortes, sejam elas boas ou ruins, defeitos ou qualidades. Chega a ser chocante como a Senhora Bennet parece gostar mais de algumas das filhas do que de outras. É admirável o bom coração de Jane, o jeito como sempre tenta ver as coisas e as pessoas de maneira positiva. Lydia é uma irresponsável como existem muitos jovens por aí. Mary vive perdida no mundo das artes e acaba tendo uma falsa noção de superioridade em relação aos que não partilham dos mesmos hábitos que ela. O Sr. Collins, herdeiro da propriedade dos Bennet, é realmente chato e capaz de dizer atrocidades, mas nem de longe tão perigosamente manipulador quanto Wickham. E chegamos às estrelas do livro: Darcy e Elizabeth!
"A Sra. Hurst veio cantar com a irmã, e, enquanto elas estavam assim ocupadas e folheava alguns livros de música espalhados sobre o piano, Elizabeth reparou na insistência com que os olhos do Sr. Darcy a procuravam.
Custava para ela admitir que pudesse constituir um objeto de admiração para tão grande homem. A ideia de que ele olhasse para ela porque ela lhe desagradava, lhe parecia mais estranho ainda. Concluiu, finalmente, que talvez lhe chamasse a atenção por, de acordo com as noções dele de decoro, encontrar algo de mais errado e repreensível que em qualquer outra pessoa presente. Tal suposição estava, porém, longe de a ferir. Não simpatizava com ele o suficiente para se preocupar com a opinião que ele pudesse formar a seu respeito." (página 37)
Darcy tem sim ações e falas que demonstram seu orgulho excessivo. O pai de Elizabeth, quando fica sabendo do suposto interesse dele pela filha, não crê, pois o vê como um homem "que não olha para uma mulher senão para criticar" (página 222). É super interessante ver como Elizabeth nem desconfia que os constantes olhares de Darcy para ela e suas tentativas de estar por perto possam ser um jeito de ele demonstrar seu interesse amoroso. Isso rende diálogos e cenas ótimas. Gostei muito da personalidade forte de Elizabeth. O livro até pode demorar um pouquinho para nos prender, mas quando vemos Darcy tentando deixar parte do seu orgulho de lado para ser alguém por quem Elizabeth se interessaria, e quando vemos ela descobrindo essa nova forma de interpretar Darcy, aí a leitura se torna bem mais envolvente e me vi lendo avidamente os capítulos finais.
"Quanto melhor eu conheço o mundo, menos ele me satisfaz; e a cada dia vejo confirmada a minha crença na inconsistência de todos os caracteres humanos e na pouca confiança que se pode depositar nas aparências do mérito e do bom senso." (página 90)
Essa edição da Pé da Letra, além de poder ser encontrada por preços baratos em feiras literárias, é muito bonita visualmente, com a capa florida, o corte colorida da lateral das folhas, algumas ilustrações e detalhes no início de capítulos. As páginas são amareladas, as margens e o espaçamento entre uma linha e outra são de bom tamanho, e a letra, apesar de não ser muito grande, permite uma leitura confortável. Mas a edição apresenta falhas de revisão, por exemplo, chega a ter um parágrafo repetido. Como podem notar, há citações grandes nessa resenha, e eu não digitei letra por letra delas; sendo um livro bem comentado (inclusive, tema de diversos trabalhos acadêmicos), foram facilmente pesquisadas no Google e copiadas para o post, o que me fez perceber que outras traduções podem ter algumas frases a mais do que essa que eu li. Sendo assim, pretendo futuramente reler a obra numa outra edição.
"Você não pode, por causa de um caso individual, mudar o sentido de 'bom senso' e 'integridade', nem procurar persuadir a você mesma ou a mim que o egoísmo é a prudência, e a insensibilidade diante do perigo, certeza de felicidade." (página 90)
Enfim, valeu a pena ler esse clássico e descobrir como um romance sem nenhuma cena de beijo conseguiu arrebatar tantos corações. Me tornei admiradora da Elizabeth, não me apaixonei perdidamente pelo Darcy, mas quem sabe numa segunda leitura ou vendo a adaptação cinematográfica isso mude?! Pelo menos nessa tradução, a linguagem não me parece muito difícil, e os capítulos são curtos, o que ajuda na fluidez da leitura. Se você ainda não leu, fica a minha recomendação para que dê uma chance à leitura. Se já leu, tem algum outro livro da autora para me recomendar?
Detalhes: 240 páginas, ISBN-13: 9788556710178, Skoob. Clique para comprar na Amazon (e-book da edição da Landmark disponível no Kindle Unlimited):
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Até o próximo post!
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Li "Orgulho e Preconceito" e acho que é uma obra que, a cada vez que lemos, nos surpreende mais. Sempre escapa algum detalhe aos leitores, porque Jane Austen sabe mesclar franqueza (chegando a ser "ácida" as vezes) e sutileza, e sua ironia pode camuflar uma ou outra ideia que nós, leitores, só nos daremos conta posteriormente, numa nova leitura. Acho que o Mr. Darcy encanta mais a quem, assim como eu, leu O&P sem prévio conhecimento da obra, pois me surpreendi com a "virada" do personagem tanto quanto a Lizzy. Isso gera um grande impacto no coração das garotas mais sensíveis... Recomendo todos os livros da Jane Austen, especialmente "Persuasão", obra (de arte!) que amo talvez tanto quanto O&P. Bj, Maria, amei a sua resenha.
ResponderExcluirEu também morria de curiosidade de ler este livro, e apesar de não ter me apaixonado profundamente pelo enredo, ainda foi possível ver a qualidade do texto, principalmente pela época em que foi feita.
ResponderExcluirBjs Rose
Foi o primeiro livro que li de Jane Austen por pressão de minha filha não gostei para mim foi difícil a leitura e para desencargo de consciência li Razão e Sensibilidade, mas entendi que realmente não consegui aproveitar a leitura (pode crucificar rs) gosto de romances de época, gosto de obras primas como exemplo Ana Kareninna. O Morro dos ventos Uivantes, Dom Quixote que mesmo relendo me impressiona, mas Jane não consegui ter prazer na leitura. Talvez um dia em outro momento rs
ResponderExcluirParabéns pela resenha. Bjs
Bela resenha, Mari. Estou enrolando para ler esse livro já faz uns bons anos. Tenho em versão física e também digital. Já li até aquela versão Orgulho, Preconceito e Zumbis que não me agradou nadinha. Claro que não é comparação com esse clássico universal, na verdade, é só para demonstrar meu desleixo... kkkkk... Logo vou me enganar nessa leitura. Beijos.
ResponderExcluirOi, Mari.
ResponderExcluirEsse livro está na minha lista de leituras desse ano, mas ainda estou procurando uma boa edição! Uma pena que essa edição que você mostrou tenha erros de revisão. Estou doida pela edição nova da Martin Claret. Rs...
A história me parece incrível!
Beijos
Camis - blog Leitora Compulsiva
Oiii,
ResponderExcluirCompartilho da demora em conferir o clássico, eu demorei anos até criar coragem de ler Orgulho e Preconceito, hoje tenho uma versão bilíngue é uma igual a sua, que por sinal é uma edição maravilhosa!!! Sou apaixonada com a cordinha roxa das folhas. Eu gosto muito das características fortes dos personagens, embora precise admitir que não me apaixonei perdidamente pelo Mr. Darcy rs. É uma ótima dica!!
Beijinhos...
http://www.paraisoliterario.com
Quero tanto reler essa história um dia.
ResponderExcluirEu achei essa edição dessa editora linda, apesar de não ter curtido tanto a diagramação =/
Sou apaixonada pelo Mr. Darcy =D
Sai da Minha Lente
Olá, tudo bem? Ainda não li esse clássico lindo, pois quero estar bem preparada quando for lê-lo, já que é uma história bem diferente de tudo o que estou acostumada a ler. Adorei tua resenha, arrasou!
ResponderExcluirBeijos,
Duas Livreiras
Oi, Mari!
ResponderExcluirEu li esse livro primeiro em inglês, depois em português, se não me engano pela Martin Claret. Gostei da tradução para o português, achei que a edição brasileira foi bem fiel. Quanto à história, Mr. Darcy pode não ser o melhor mocinho de Jane Austen, mas tem seus atrativos. rs
Recomendo que leia Razão e Sensibilidade e Persuasão. Os meus favoritos.
Bjos
Lucy - Por essas páginas
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirQue legal ver a sua experiência com a leitura, eu ainda não li nenhum dos livros da autora e não vejo a hora de mudar isso. Achei essa capa muito bonita, tão delicada! Eu gostei de ver um pouco mais sobre o livro através das tuas impressões, com certeza é uma leitura que eu vou amar.
Olá!
ResponderExcluirJá li esse livro há muitos anos e assim como você fiquei bem surpreendida com a leitura. Os diálogos da autora são muito inteligentes e Darcy e Elizabeth são de fato personagens inesquecíveis. É um romance que arrebata mesmo os corações, com a construção perfeita dos personagens.
Bjs.
Oi Mari tudo bem Esse livro é um clássico e meu favorito, apesar da arrogância de Darcy eu vejo que ele é mau compreendido, as vezes até mesmo timidez, por não saber conversar com as outras pessoas que não conhece e isso o bloqueia, e Lizzi que é espontânea, fala demais e diz a verdade doe a quem doer, é muito legal ver a interação sobre os personagens kkk, sua resenha me trouxe saudades e uma vontade de ler de novo, parabéns sua resenha foi sensacional e me deixou com gostinho de quero mais, bjs
ResponderExcluirQuando falamos de clássicos, como os livros de Jane Austen, muita gente torce o nariz, ou fica receosa de que será um livro maçante. Mas não, a história é tão envolvente. Com certeza há bastante variação entre as edições, principalmente com clássicos.
ResponderExcluirDebyh
Eu Insisto
Olá,
ResponderExcluirEu amo esse livro, e me deu uma vontade enorme de reler o livro que eu li e me apaixonei por ele esse ano. O Darcy é o meu amor de todos os tempos e eu vou reler essa historia pois sua resenha esta maravilhosa e me deu saudades desses personagens incrível.
Oi Marijleite, sua linda, tudo bem?
ResponderExcluirEssa é uma das minhas obras preferidas da vida. E ainda bem que você não morreu de amores pelo Darcy, porque ele é só meu, risos... Essa autora é incrível, pois ela consegue nos despertar todos os tipos de emoções. É muito mais intenso, mais romântico estar perto sem poder estar, sem poder tocar. Só de lembrar já fico suspirando, risos.. Deu vontade de ler novamente. Sua resenha ficou ótima!!!
beijinhos.
cila.
Eu amo essa obra! Acho que nenhum romance de época contemporâneo chaga aos pés do trabalho da Jane. Também acho que as características dos personagens é um dos pontos que mais conquista o leitor.
ResponderExcluirOlá Maria, como vai?
ResponderExcluirEu amo esse livro da Jane Austen, foi um o primeiro romance de época que eu li e, fiquei completamente apaixonada pelo mrs. Darcy, lembro que baixei o filme assim que terminei a leitura do livro e já perdi as contas de quantas vezes o assisti.
Espero conseguir realizar a leitura de outros livros da autora ano que vem, porque ela teve uma maneira de escrever os personagens e desenhar os cenários românticos que ainda não encontrei em nenhuma outra autora. Parabéns pela resenha e, tenho certeza que farei a releitura desse livro em breve.
Beijos e Abraços Vivi
Resenhas da Viviane
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirOrgulho e Preconceito é uma obra espetacular, acho incrível a construção dos personagens e como a Jane foi tão a frente do seu tempo escrevendo-o.
De fato, sua edição é linda! Ao mesmo passo que sua resenha.
Beijos,
Blog Diversamente
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA eu amo esse livro e a adaptação e você trouxe com essa capa maravilhosa, quero para mim. A Jane é espetacular para trazer nuances das mulheres em sua obra que precisa de muita atenção e delicadeza para distinguir. Espero que veja a adaptação ^^
ResponderExcluirOi, tudo bem?
ResponderExcluirVou te confessar que, mesmo esse sendo o romance mais famoso da Jane Austen, não é meu favorito dela; prefiro Persuasão. No entanto, eu amo Orgulho e Preconceito também e sou apaixonada pelo Mr. Darcy. Eu adoro a forma como a Jane desenvolveu bem os personagens, fazendo com que eles fossem complexos e, na maioria das vezes, cativantes. Além disso, amo o fato de que todas as obras dela contêm críticas e reflexões sobre a sociedade da época, além de um humor sarcástico e inteligente, que eu acho sensacional.
Fico muito feliz que você gostou do livro e, se quiser assistir alguma adaptação, recomendo a de 2005 com a Keira Knightley. É maravilhoso <3
Beijos!
Olá, esse é sem duvida um dos meus livros favoritos, lembro que li ele todo de uma vez e acabei tendo que ir para a faculdade virada por não ter dormido *-* Adoro como a autora conseguiu criar personagens fortes e carismáticos *-* Sua resenha ficou muito boa.
ResponderExcluirOlá, tudo bem? Ah Jane Austen e a maravilha chamada Orgulho e Preconceito. AMO o livro e a autora, por isso fui bem feliz em ler a resenha e relembrar um pouco meus sentimentos durante a leitura. De fato imaginava que por mais que a edição seja belíssima, iria faltar algumas coisas, por isso recomendo a releitura (; Outros da Jane que posso recomendar é Persuasão que para mim também é um dos melhores. Adorei a resenha!
ResponderExcluirBeijos,
http://diariasleituras.blogspot.com.br
Eu li Anna Karenina e achei mais envolvente do que Orgulho e Preconceito, mas também gostei do livro da Jane Austen. Por incrível que pareca achei mais difícil ler ela do que Tolstói...
ResponderExcluirmissbiblioteca.blogspot.com