Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "Persépolis", escrito pela Marjane Satrapi e publicado em 2007 pelo selo Quadrinhos na Cia da editora Companhia das Letras.
"Perséplis" é uma autobiografia em quadrinhos da Marjane Satrapi, que nasceu no Irã (antiga Pérsia) em 1969. Ela é bisneta de um imperador do país, e toda sua família foi marcada pelas disputas de poder que ocorreram no Irã. Quando ela tinha 10 anos, passou a ser obrigatório para as garotas o uso do véu, e esse foi só o começo da repressão imposta pelo governo islâmico de vertente xiita. Sucedeu-se a isso, um período de guerra (uma delas foi entre Irã e Iraque), e os pais da Marjane, que queriam que a filha pudesse crescer livre, ter um futuro longe daquela ditadura, enviaram a garota, então com 14 anos, para a Áustria.
Eu leio poucas histórias em quadrinhos, então, não sou especialista no assunto, mas gostei bastante do traço de "Persépolis", a obra consegue passar claramente as emoções. Sendo uma graphic novel/HQ, é uma leitura rápida. Eu tinha expectativas elevadíssimas sobre a leitura, mas a história foi diferente do que eu imaginava, visto que é um relato real de uma garota que precisa crescer sozinha, longe de seu amado país, que está mergulhando nas trevas.
"Na vida você vai encontrar muita gente idiota. Se te ferirem, pensa que é a imbecilidade deles que os leva a fazer o mal. Assim você vai evitar responder às maldades deles. Porque não tem nada pior no mundo do que a amargura e a vingança... Seja sempre digna e fiel a você mesma.
O que temos em "Persépolis" é a história do Irã, marcada por disputas do poder, e a história de Marjane, uma garota criada numa família politizada e liberal, que via na educação um futuro de independência para a filha. Vemos como Marjane sofreu ao ter que se separar de sua família e ir para outro país, como ela era vítima de preconceito na Europa por sua origem e como ela já não se sentia mais uma iraniana quando visitava sua terra natal, nem uma europeia quando estava na Áustria. Se a adolescência já é um período complexo, imagine quando se está longe de casa, da família e dos amigos! Marjane teve altos e baixos, foi tocante vê-la como uma menina sonhadora e com uma proximidade encantadora com Deus no início, e depois ver os caminhos que ela trilhou, quase se perdendo de si mesma, para posteriormente ir em busca de sua essência.
É possível observar como a guerra, mesmo que seja em países e em décadas diferentes, tem sempre elementos semelhantes: morte, destruição, mutilações, torturas, vidas interrompidas, soldados muitos jovens e despreparados sendo obrigados a ir para o combate, perda de civis, traumas causados em pessoas que se assustam com qualquer barulho pensando que pode ser um tiro ou uma bomba, manipulação do povo pelos governantes... E tudo isso por sede de poder, por ganância.
Foi interessante conhecer um pouco mais sobre a vida num país islâmico, ver as formas encontradas para conseguir sobreviver com tanta repressão: as festas clandestinas, e até mesmo os estudos clandestinos. Deve ser difícil ver a terra que você ama regredindo. Algo que é dito, é que o medo é usado para controlar, enquanto a pessoa se preocupa se o véu não esta mostrando cabelo demais, se a roupa não está colada demais para ser considerada um crime passível de chibatadas, ela se esquece de pensar sobre a situação política do país.
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"O regime tinha entendido que uma pessoa que saía de casa se perguntando: 'Será que minha calça está justa demais?', 'Meu véu está no lugar?', 'Dá pra ver minha maquiagem?', 'Será que vão me dar chibatadas?', não se perguntava mais: 'Cadê minha liberdade de pensamento?', 'Cadê minha liberdade de expressão?', 'Minha vida é passível de ser vivida?', 'O que está acontecendo nas prisões políticas?' Normal! Quando temos medo, perdemos o senso de análise e de reflexão, o terror nos paralisa. Aliás, o medo sempre foi o motor de repressão em todas ditaduras. Mostrar os cabelos ou se maquiar viraram, obviamente, atos de rebeldia."
"Descartes e Marx estavam lá. 'O mundo material não existe, é apenas um reflexo da nossa imaginação.' 'Vai nessa!' 'Quer dizer que você vê esta pedra na minha mão mas ela não existe, está apenas na sua imaginação?' 'Isso mesmo.' 'Ai, ai. O que você está fazendo, Karl? Você quebrou a minha cabeça.'"
"'Deram isso pro meu filho na escola. Disseram que, se eles combaterem e tiverem a sorte de morrer, vão entrar no paraíso com essa chave.' (...) 'Eu sofri tanto... Suei muito pra criar meus 5 filhos. Agora esses senhores querem trocar o mais velho por essa chave...'"
"A verdade é que, enquanto existir petróleo no Oriente Médio, não vamos saber o que é paz..."
"Como você sabe, por lei, não se pode matar uma virgem... Então casam a garota com um guardião da revolução... Que a estupra antes de executá-la!"
"Persépolis" havia sido lançada inicialmente em quatro volumes, que depois foi reunida nessa edição que estou resenhando. A capa representa um momento em que Marjane "sente o ar" do Mar Cáspio (um lugar importante do seu país) no rosto antes de partir, ela está se abastecendo de memórias. A HQ é em branco e preto, com boa revisão e tamanho de letras.
"Persépolis" foi uma história que eu gostei e que recomendo, não só por ser praticamente um "romance de formação" pela vida da Marjane Satrapi, mas também para que reflitamos sobre e estejamos sempre atentos à essa relação entre governantes e governados, algo importantíssimo no momento que nosso país vive. Espero que tenham gostado da resenha de hoje. Me contem: já conheciam a obra ou a autora?
Detalhes: ISBN-13: 9788535911626, 352 páginas, Skoob. Clique para comprar na Amazon:
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Até o próximo post!
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Olá, tudo bem? Tive a oportunidade de ler poucos quadrinhos até agora, porém os que li me agradaram bastante. Já vi falarem super bem desse livro, mas ainda não o li. Adorei tua resenha!
ResponderExcluirBeijos,
Duas Livreiras
aaaaaah que delicia, eu amo quadrinhos e quando se trata de autobiografias e de pessoas que nasceram em lugares tão complicados assim, meu coração até bate mais forte, já quero ler!!!
ResponderExcluirSua resenha ficou ótima!
Já faz um tempo que li este livro, emprestei e nunca mais o vi. Preciso comprar outra edição, porque é uma que dá gosto de ter na estante. Demorei muito para concluir a leitura, mesmo sendo uma Graphic Novel. Eles connseguiram resumir bem a história, através dos diálogos, mas foi preciso tempo (desse lado) para absorver as informações. Sua resenha me deixou com vontade de reler <3
ResponderExcluirSai da Minha Lente
Oiii Maria
ResponderExcluirEu nem sabia que esse livro tratava sobre o Irã e a própria história da autora, que louco todo o procesos pelo qual o país passou, esses dais vi uma foto das garotas no Irã antes da revolução com os aiatolás e nossa, pareciam garotas ocidentais... Nada contra o Islã, mas acho a repressão no país, especialmente contra as mulheres, algo bem duro, me custa entender. Não sei com muita profundidade a história desse país e acho que através de uma graphic novel fica bem mais fácil para o leitor absorver, eu vou anotar e quero ler com certeza.
Beijos
www.derepentenoultimolivro.com
Que ótima indicação!
ResponderExcluirEu ainda não conhecia essa história, nem mesmo sabia que era uma série com quatro volumes, mas adorei essa edição com todos os volumes reunidos. Eu gosto muito de graphic novels e já me interessei bastante por essa. Acho que a história tem uma mensagem para passar. Gostei bastante da sua resenha.
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirEu já li algumas resenhas sobre Persépolis e tenho muita vontade de realizar essa leitura. Gosto muito de graphic novels e esse é outro motivo para querer essa obra. Deve ser uma leitura bem reflexiva.
Abraço!
Eu conhecia esse quadrinho em um evento de literatura e suicidio, porque a personagem em determinado momento pensa em se matar, e é feita uma análise a partir disso, no entanto, achei o traço e a maneira de autora de introduzir assuntos tão importantes, sensacional demais, ela propoe o riso em alguns momentos, mas sem deixar de falar de temas tao sérios, é maravilhoso demais isso.
ResponderExcluirOlá Maria, tudo bem? Eu gosto muito de biografias porque, eles nos mostram como era a vida daquela pessoa que, fez algo importante durante a sua vida ou em algum momento dela. Quando estou lendo um livro de um determinado autor que eu gosto muito, sempre me pergunto: como é a vida dele? o que o inspirava a escrever tão bem? entre outras perguntas e esse é o principal motivo da minha paixão por biografias.
ResponderExcluirEu ainda não conhecia essa autobiografia em quadrinhos, muito menos a história da Marjane Satrapi e todo o sofrimento que ela viveu, gostei que os pais dela tiveram entendimento de enviá-la para outro país.
Beijos e Abraços Vivi
Resenhas da Viviane
Olá,
ResponderExcluirSó consigo ficar imaginando o quanto é triste você chegar ao ponto de ter que abandonar seu próprio país, porque não dá mais pra viver lá. Seja por estar ocorrendo uma guerra, ou por estar durante uma ditadura, sair da sua terra sempre será doloroso.
Debyh
Eu Insisto
Olá, tudo bem? Está ai uma HQ que quero ler tem tempos, mas o preço nunca ajuda :/ sempre vejo falar bem dela, não só pelos traços, como pelo enredo, pelas reflexões que a história traz e acho maravilhoso. Sua resenha só me confirmou aquilo que imaginava: preciso ler haha Adorei, principalmente as fotos com trechos dela <3
ResponderExcluirBeijos,
http://diariasleituras.blogspot.com.br
Olá,
ResponderExcluirSempre escuto alguém elogiado ou recomendando essa Graphic, não costumo fazer esse tipo de leitura, no entanto diante de um enredo tão bom e com tanto a agregar, com certeza eu abriria uma exceção. Essa edição é linda!
Beijos,
oculoselivrosblog.blogspot.com.br/
Eu não tenho o livro, mas já li e ainda trabalho com ele em sala de aula, infelizmente o valor do livro ainda não facilita para que eu possa trabalhar com um público grande, então, apenas indico aos alunos que quando podem, compram.
ResponderExcluirOi Maria,
ResponderExcluirEu não tenho o hábito de ler HQs, mas tenho gostado de ler obras sobre estados islâmicos e fiquei muito contente por a autora retratar isso nessa obra. Eu também gostei da forma como ela mostra como a mulher é oprimida.
O livro parece ser doloroso por conta disso também. Vou anotar a dica, sem dúvidas.
Beijos