Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "Céu sem estrelas", escrito pela Íris Figueiredo e publicado em 2018 pela Editora Seguinte.
A edição traz uma capa linda e cheia de referências à história. Vem um marcador junto da orelha, só falta a coragem para cortar e usar. A revisão é boa, as páginas são amareladas, a diagramação traz letras, margens e espaçamento de bom tamanho.
"Era tudo na minha cabeça. A dor era toda na minha cabeça, mas isso não a tornava menos real." (página 191)Cecília acabou de completar dezoito anos, foi demitida da livraria onde trabalhava, brigou com a mãe e teve que sair de casa. Felizmente, pôde contar com a família de sua melhor amiga, Iasmin, e foi passar um tempo com os Campanati (a outra opção era voltar para a casa da avó em São Gonçalo, o que lhe deixaria muito longe da faculdade em Niterói).
"Segui cercada de gente, mas me sentindo absurdamente sozinha." (página 343)Cecília tinha uma quedinha por Bernardo, irmão mais velho de Iasmin, e morando sob o mesmo teto, eles acabariam se aproximando. Será que Bernardo se comprometeria com Cecília, mesmo ela não se encaixando no padrão de beleza socialmente aceito por ser gorda? E Cecília, conseguiria recolocar sua vida nos eixos?
"As pessoas queriam tanto saber quanto eu pesava, deixar claro que haviam percebido que eu tinha engordado, que parecia que meu corpo era de domínio público.Por favor, não se enganem com esse resumo extremamente superficial que fiz da trama, pois "Céu sem estrelas" é muito mais do que uma história de amor protagonizado por uma garota acima do peso! Aliás, a aparência de Cecília nem de longe é seu maior problema. A obra fala sim sobre gordofobia, mas desde os primeiros capítulos já dá para notar que há algo mais na jovem, algo que lhe causa sofrimento físico e mental. Cecília esconde seus verdadeiros sentimentos, tenta se mostrar sempre bem para os outros, para não ter que falar sobre suas aflições, sobre seus medos e as questões que lhe afetam por dentro e por fora. A história é, acima de tudo, sobre saúde mental, um tema que a autora conhece e que aborda nesse livro e nas redes sociais. Saber um pouco mais sobre o transtorno da protagonista foi enriquecedor.
(...) Eu sabia que era mais que meu corpo, mas naqueles instantes sempre me sentia reduzida a ele - fora do padrão, estranha, indesejável. A referência do que ninguém queria ser." (página 178)
"Nunca gostei de comprar roupas, por isso a maioria das peças que eu tinha já podiam quase andar sozinha. Era sempre um momento cansativo e vergonhoso. Como se meu corpo não tivesse direito de existir. Como se eu não tivesse direito de existir." (página 126)Amizade e relações familiares são outros assuntos discutidos na obra. Cecília foi fruto de uma gravidez não planejada e sua relação com a mãe e com o padrasto não era das melhores. Iasmin tinha reprovado e ainda estava no colégio, enquanto via as amigas já na faculdade. Ela e o irmão também não tinham uma família perfeita, o que acabava interferindo de certa forma nas escolhas do rapaz. Ele queria algo além da superficialidade dos seus colegas, só preocupados com festas e garotas. Relacionamentos abusivos, automutilação/autoflagelação também são abordados em "Céu sem estrelas".
"- Mas você não precisa entender as pessoas sempre. Ninguém consegue, por mais que tente. Mais do que compreensão, as pessoas buscam apoio, ou às vezes só alguém disposto a ouvir.Apesar de a narração ser feita por Bernardo e Cecília, a partir de certo momento, são os dilemas dela que ganham protagonismo. Então, tenham em mente que ela é a protagonista. No final, senti falta de saber um pouco mais sobre o desenrolar dos problemas da família do Bernardo, mas como me parece que todos os livros da Íris acabam tendo alguma ligação, quem sabe num próximo eu descubro mais sobre os rumos da Iasmin (doeu vê-la se submetendo à certas coisas).
Assenti e peguei o lápis mais uma vez, voltando minha atenção para a equação que tentava resolver. No final, sempre chegava a um resultado. Com as pessoas, não. Isso andava me deixando louco. Se eu pudesse ter calculado todas as possibilidades..." (página 237, Bernardo)
"Eu costumava odiar mentiras. Com o tempo, no entanto, acabei precisando delas e me tornando uma especialista. Não me orgulhava disso, mas às vezes era tão espontâneo que mal percebia." (página 152)Eu já acompanhava a Íris pelas redes sociais e estava bem curiosa para ler um livro dela. Já nas primeiras páginas fiquei extremamente feliz por ver como a escrita da Íris, uma autora nacional, não fica devendo em nada se comparada com outros livros estrangeiros publicados pela Seguinte ou por outras editoras grandes. É uma escrita fluida, sendo possível ler páginas e mais páginas rapidamente (embora eu tenha lido aos pouquinhos; talvez pela carga emocional que a trama me trouxe, ainda que meu entendimento maior seja sobre a depressão e não sobre o transtorno majoritariamente abordado pela escritora - o que me exigiu um exercício maior para me colocar no lugar da Cecília).
"- Sinto um vazio tão grande... Acho que ninguém é capaz de me amar. Que, a qualquer momento, todas as pessoas da minha vida vão acabar indo embora e eu vou ficar sozinha. Não quero que isso aconteça. Então faço tudo errado... Não sei quem eu sou." (página 342)Sinto falta de mais histórias contemporâneas para o público jovem ambientadas no Brasil, então foi delicioso ler "Céu sem estrelas" e imaginar todas as cenas acontecendo aqui, no nosso país, vendo características de Niterói ou de São Gonçalo tão parecidas com as do lugar onde vivo. Temos aos montes tramas que se passam em faculdades norte-americanas, e foi muito bom ter esse diferencial de ver Cecília e Bernardo numa faculdade pública como a UFF, vivendo a realidade educacional do nosso país (de quebra, ainda descobri um pouquinho sobre os cursos de desenho industrial e engenharia mecânica, dos quais eu sabia pouquíssimo).
A edição traz uma capa linda e cheia de referências à história. Vem um marcador junto da orelha
"(...) quando me desespero e quero sumir, lembro que a vida é muito mais do que esse sentimento que me sufoca.Enfim, fica a minha recomendação para que leiam "Céu sem estrelas", um ótimo livro nacional, bem ambientado, que aborda temas muito importantes como a saúde mental (em alta nesse Setembro Amarelo) e a gordofobia, tudo com muita representatividade (além de personagens acima do peso, temos negros, homossexuais, cadeirantes, inseridos de forma natural e nada forçado) na escrita maravilhosa da Íris. Me contem: já leram ou querem ler algo da autora?
Ao menos existe um nome para o que sinto. Uma explicação não torna as coisas mais fáceis, mas ajuda a lidar com elas.
Vivo um dia de cada vez. Descobri que sou forte, não só pelo meu gancho de direita ou pelo meu manequim, mas por seguir em frente.
Descobri que minha força sempre esteve dentro de mim - eu só não dava muita atenção a ela. E, sempre que vejo um fusca azul, lembro que dentro dele cabem pessoas o suficiente para me estender a mão se um dia eu precisar." (página 350)
"- Não existe um céu sem estrelas, Cecília. Mesmo quando estão cobertas pelas nuvens, ainda estão lá. A gente só não consegue enxergar.Detalhes: 360 páginas, ISBN-13: 9788555340697, Skoob, leia um trecho. Curiosidades: você sabia que em alguns lugares, quando passa um fusca azul, você corre o risco de levar um soquinho? "Ordinary People" do John Legend é uma das músicas citadas no livro, vale a pena ouvir e conferir a tradução (já viciei). Além de música, vários livros que a Cecília e o Bernardo gostam são citados na obra, todos já foram para minha lista mental de desejados. Clique para comprar na Amazon:
- É como a esperança - ela comentou, pensativa. Sempre existe uma saída, mesmo que a gente não consiga enxergar.
- Sim, sempre existe uma saída. Sempre existem estrelas." (página 347)
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Até o próximo post!
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Amei sua resenha, me fez ficar bem interessada e contém assuntos que gosto bastante, já adicionei na minha lista :)
ResponderExcluirhttp://submersa-em-palavras.blogspot.com/
Acompanho a Iris nas redes sociais e sempre fico muito feliz em ver que ela aborda temas tão importantes como a saúde mental e a gordofobia. Tinha em programado para ler Céu sem estrelas agora em setembro justamente pelo setembro amarelo, mas acabei lendo 13 Segundos (que foi muito bom também), mas pretendo ler no próximo mês. Eu meio que esperava que o desenrolar da história da Cecilia tivesse mais espaço mesmo, mas é legal ver que os outros personagens também têm seu espaço (e tomara que a Iasmin volte a aparecer numa próxima narrativa, mesmo!) e que há representatividade sem ser forçado! Beijos!
ResponderExcluirQuero tanto ler 13 Segundos!
ExcluirEu também não tenho coragem de recortar esses marcadores que geralmente vem nos livros, me parte o coração hahaha. Quando vi esse lançamento, imaginei que fosse uma histórinha fofa, mas todas as resenhas que leio mostram a carga emocional desse livro como algo extremamente forte ne? Vou anotar a dica!
ResponderExcluirEu também não tenho coragem de recortar esses marcadores que geralmente vem nos livros, me parte o coração hahaha. Quando vi esse lançamento, imaginei que fosse uma histórinha fofa, mas todas as resenhas que leio mostram a carga emocional desse livro como algo extremamente forte ne? Vou anotar a dica!
ResponderExcluirO livro aborda temas bem delicados e fortes, mas apesar de necessários, não fazem muito a minha cabeça, pois fico bastante comovida, me dá até tremedeira. Mas acho bacana abordar esses temas, pois é uma realidade dura muito presente em nossas vidas. É um livro lindo e essa capa transmite uma leveza sem igual. Que bom que gostaste da leitura!
ResponderExcluirOi! Tenho visto tantas resenhas elogiosas sobre esse livro.. Estou curiosa para conferir a história e feliz por ver um nacional sendo tão bem recebido. Achei que as temáticas trabalhas no enredo muito importantes e quero ver como Cecília vai encarar todas essas questões, pois são coisas bem complicadas, e eu até me identifico com algumas.. Obrigada pela resenha!
ResponderExcluirBjoxx ~ www.stalker-literaria.com ♥
Olá!
ResponderExcluirEu confesso que pulei algumas partes da sua resenha pois comprei esse livro e será uma das minhas próximas leituras.
Estou muito animada por ter um drama bem construído e uma personagem que vem para nos fazer refletir sobre a vida e nossas atitudes.
Acho que vou me emocionar bastante com essa leitura.
Beijos!
Camila de Moraes
Assim como vc sinto falta de histórias contemporâneas para o público jovem, especialmente quando o tema é tão importatnte qnto esse retratado nesse livro. Eu ainda não li esse, mas já li outro livro da autora e gostei bastante da escrita dela, espero poder ler esse em breve
ResponderExcluirbjo
Olá, tudo bem ?
ResponderExcluirRecebi esse livro e fiquei maravilhada primeiramente com a capa desse livro que é um arraso que só, depois fiquei vislumbrada com a premissa dele. Tanto que já dei um jeito de incluir na minha lista de leituras. Vi muitas pessoas falando que esse livro tem que ser lido com uma mente bem aberta, pois assim como você citou ele fala sobre vários assuntos que algumas pessoas julgam como tabu. Amei saber que a ambientação é em certa parte em uma universidade publica. Não vejo a hora de podr fazer a leitura. Parabéns pela resenha.
Comprei esse livro na Bienal e estou planejando ler nas férias, mas confesso que todos esses elogios e indicações positivas estão me deixando agoniada para ler o mais rápido possível. A capa e os tema que o enredo trazem me deixaram curiosa e eu tenho certeza que será uma leitura muito positiva.
ResponderExcluirbeijos
Beijos
Oi.
ResponderExcluirEu já tinha visto uma resenha desse livro e gostei muito do que li. Vi que a narrativa dele é muito boa e que a mensagem que ele traz é muito importante. Sua resenha aumentou minha vontade de ler o livro. Não vou consegui ler ele este ano, mas pretendo lê-lo logo no início do próximo ano.
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirEu já li algumas resenhas desse livro e adorei as críticas, super positivas. Essa edição merece destaque, pois a capa é linda. Gostei da sua resenha e impressões, fiquei com mais vontade de ler o livro.
Abraço!