Resenha: livro "Quando ela desaparecer", Victor Bonini

 Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje venho comentar sobre minha experiência de leitura com "Quando ela desaparecer", livro escrito pelo Victor Bonini e publicado em 2019 pela Faro Editorial. Você pode apertar o play e conferir a resenha em vídeo no Youtube (mais curtinha) ou continuar lendo a resenha escrita (mais extensa e com citações):

 Esse suspense é escrito em forma de livro reportagem pela Sara, uma jornalista que resolve falar sobre o que aconteceu anos antes, quando ela era só uma adolescente que estudava na mesma escola da Kika, uma garota de 16 anos que desapareceu num passeio do colégio em 2012.

 Por meio de trechos de notícias publicadas em jornais na época, entrevistas com envolvidos no caso e pela própria Sara, vamos acompanhando o andamento da investigação e a extensa lista de suspeitos, que vai crescendo conforme as semanas passam.

 "- Porque eu imagino que a Kika, ela queria cura pra uma parte muito pessoal dela, uma que ela não queria compartilhar com mais ninguém, que ela tentava manter em segredo, apesar de todo o mundo saber. Tô falando daquilo... Desde que ela começou a sofrer na mão daquelas meninas horrorosas até o dia em que elas tiveram a coragem de fazer aquilo com a Kika." (página 106)

 Dois anos antes, a Kika já tinha passado por um episódio onde escapou por pouco da morte. Ela tinha problemas na escola: alguns diziam que ela era vítima de bullying por ser muito bonita e causar inveja nas outras garotas, outros diziam que a questão era a forma como ela se comportava. Tudo isso só aumenta as suspeitas em torno do que aconteceu com a Kika. Será que teve algo a ver com o fato de anos atrás? O culpado pelo desaparecimento dela seria um dos colegas, um professor, um conhecido da família ou alguém da própria família? Será que a Kika sobreviveria mais uma vez?

 "- Durante toda a investigação da Kika foi esse aperto por resultados. Éramos pouquíssimos pra tanta coisa. A gente dava uma garfada e já vinha um prato cheio em seguida. Até hoje a gente é assim, qualquer DP é assim. Mas a agente acabou dando atenção redobrada e imediata pra Kika por causa da pressão da mídia e da sociedade. Senão, ia entrar na fila e ficar esperando, igual aos outros casos. A gente atende quando dá tempo.
 Sobre as frustrações na primeira busca, justamente nas 48 primeiras horas do desaparecimento - conhecidas como as mais importantes para apuração dos fatos após um crime -, Elise Rojas diz que se surpreendeu:
 - Geralmente, num caso assim, a gente mergulha nos arredores e consegue pelo menos alguma coisa: um indício de pra onde a pessoa foi, câmera mostrando onde ela passou, testemunha que viu. No caso da Kika, não tinha nada, nada. Ficávamos olhando um pro outro, tentando entender, 'gente, o que aconteceu aqui?'. É que, claro, não sabíamos ainda o tamanho da coisa." (página 42)

 Eu era super curiosa pra ler algo do Bonini, por sempre ver comentários positivos sobre "O Casamento" e "Colega de Quarto", outros dois livros dele. E finalmente tive a oportunidade de ler uma obra do autor através da parceria com a Faro Editorial. No grupo de parceiros da editora, algumas pessoas que já tinham lido "Quando ela desaparecer", comentavam que o começo do livro podia ser um pouquinho confuso (os capítulos vão e voltam no tempo e, obviamente, é impossível desvendar tudo o que está nas entrelinhas nas primeiras páginas), então eu iniciei a leitura sem aquela fixação para entender tudo logo de cara, fui me deixando levar e juntando as peças aos poucos.

 "- Você tem que acreditar que aquilo que aconteceu há dois anos foi porque todas as meninas odeiam a Kika por um motivo maior, que nem elas sabem explicar. Elas nem olham pra cara da Kika. Nunca olharam. Ou se olham é pra tirar um puta sarro ou xingar ela de, sei lá, biscate.
 - Filha.
 - Mas é verdade, mãe. No fundo, ela é uma coitada. Acho que a reação natural dela a esse ódio todo foi virar uma menina pedante, egoísta, que precisa de atenção. Uma menina que, às vezes, chega a ser insuportável." (página 17)

 Gostei do fato de pequenas revelações serem feitas ao longo dos capítulos. Em determinada página já sabemos se a Kika está viva ou morta, o que não diminui a nossa curiosidade pra entender como tudo aconteceu. E quando achamos que já entendemos tudo, que já juntamos todas as peças do quebra-cabeças, somos surpreendidos mais uma vez com um desfecho inesperado. Mas ao ler o último parágrafo, fiquei pensando em como todas as evidências estavam ali, em várias pequenas informações dadas ao longo das páginas. Como consta na sinopse, temos mortes na história, e terminei esse livro chocada com até onde a maldade de uma pessoa pode chegar, e com uma sensação agridoce, com o coração despedaçado pelo desfecho de um personagem que foi o meu favorito e que é a razão de ser dessa história.

 "Eu via meus amigos próximos virarem bárbaros, estavam seriamente falando em espancar gente. Perdi o chão ao refletir como a violência é fácil. Lembrei-me daquilo que o próprio pastor Bartolomeu tinha exclamado à mesa, durante o jantar. 'O diabo é nosso vizinho no dia a dia, sabe? É tão presente que... bem, que poderia estar aí, sentado na mesa com a gente.'
 O diabo estava naquela escola. O diabo estava naquela cidade inteira." (página 124)

 Sobre a edição: a capa tem detalhes em alto relevo e combina com uma trama sobre desaparecidos, a revisão é boa, as páginas são amareladas (há algumas na cor cinza ou preta), a diagramação tem letras, margens e espaçamento de bom tamanho, além de vários detalhes como fotos e trechos de jornais.

 "- Ele nunca tinha sido violento de verdade.
 - Isso tudo era ser violento de verdade, Kika. Violência vai muito além de levantar a mão durante um desentendimento ou brincar de vítima e agressor na gora do sexo." (página 232)

 Meu primeiro contato com as obras do autor não poderia ter sido melhor (quem já leu algo dele, talvez tenha a vantagem de já saber quem é o Conrado Bardelli, personagem que participa de seus outros dois títulos, e ligue alguns pontos mais rápido). "Quando ela desaparecer" é um suspense muito bom, uma leitura envolvente e surpreendente do início ao fim, um nacional bem escrito e bem ambientado no Brasil, mais especificamente no bairro Cecap em Guarulhos (que realmente existe).  Com toda certeza é uma leitura que eu recomendo.

 Por hoje é só, espero que tenham gostado do post. Me contem: já leram o livro ou outro do Bonini? Imaginam o que pode ter acontecido com a Kika? Se já tiverem lido e quiserem alguém para conversar sobre o livro, não hesitem em me mandar um e-mail ou uma mensagem nas redes sociais.

 Detalhes: 272 páginas, Skoob, ISBN-13: 9788595810587, leia os primeiros capítulos. Clique para comprar na Amazon:

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Até o próximo post!

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