Resenha: livro "Invisível", Tarryn Fisher

 Olá, pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje, venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "Invisível", escrito pela Tarryn Fisher e publicado no Brasil em 2020 pela parceira Faro Editorial.

 "Nada é melhor do que a descoberta de outro humano vivo e que respira, que luta da mesma forma que você, que ama o mesmo que você, e que o entende com tanta clareza que parece erótico." (página 50)

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 A narradora é Margô. Apesar da ausência paterna e de morar em Bone, uma área habitada por traficantes e ex-presidiários, ela teve uma boa infância, até que a mãe perdeu o emprego e se tornou uma prostituta, recebendo seus clientes em casa e se afastando da filha.

 Margô foi muito negligenciada durante a adolescência. Mas, ao se tornar amiga de Judah, um rapaz cadeirante que morava na mesma rua que ela, Margô passou a ter alguém com quem contar.

 Bone era uma área marginalizada, e o desaparecimento de uma criança poderia ser só mais um entre tantos casos de violência local, porém, Margô conhecia a menina que desapareceu, e acompanharemos como nascerá um desejo por justiça em Margô, e quais consequências isso trará.

 "Odeio que nada possa ser feito quanto ao sofrimento das crianças, e que a maior parte do mundo bloqueie esse sofrimento para lidar com a incapacidade de ajudar. Os poucos que carregam o fardo, como assistentes sociais e professores, ficam cansados, exaustos depois de apenas alguns anos, forçados a carregar o peso que deve ser compartilhado por uma sociedade. As crianças são muito negligenciadas. Sua importância é subestimada pelo seu tamanho.
 Nos meus 18 anos, ouvi de passagem a frase de que as crianças são resilientes meia dúzia de vezes, mas nos livros eles dizem que a personalidade de uma criança é definida quando ela tem 4 anos de idade. Isso dá aos pais uma janela de quatro anos para moldá-las e amá-las de acordo. E graças a Deus que minha mãe ainda me amava quando eu tinha 4 anos, que ela só se distanciasse mais tarde da minha vida, com a totalidade de quem eu era já definida como um molde de gelatina. Posso ser abalada; posso ter uma mãe me rejeitando de novo e de novo, e ainda permaneço alguém acostumada o suficiente ao amor para inda procurá-lo. Desejo uma conexão profunda porque tive uma conexão profunda. Rejeite-me e vou procurar em outro lugar. Vou lançar menos e menos das minhas pérolas aos porcos a cada vez." (página 118)

 Comecei "Invisível" sem saber bem o que esperar da leitura. E cheguei ao último capítulo achando muito interessante a história que a Tarryn contou, afinal, quem nunca desejou, ao menos uma vez, fazer justiça com as próprias mãos? E o que nos tornaríamos se levássemos adiante esse desejo?

 O título da edição brasileira, assim como consta na sinopse, pode fazer uma referência ao fato de como Margô, uma jovem pobre, sem família, sem um bom emprego, vinda de uma região marginalizada, vivia como alguém invisível para a sociedade, uma pessoa com quem ninguém se importava. Ou, o título também poderia ter ligação com um plot twist, uma reviravolta bem surpreendente e inesperada na trama. Pule para o próximo parágrafo para não pegar spoiler sobre essa reviravolta. Falando bem superficialmente sobre a questão: ao finalizar a leitura, a minha opinião era de que a doutora Elgin mentiu para Margô por algum motivo, mas confesso que, ao reler trechos que selecionei para a resenha, comecei a ter dúvidas.

 Acho a escrita da Tarryn bem diferente e única, ela consegue nos fazer imaginar as situações com clareza, mesmo que não descreva tudo com todos os detalhes. A Tarryn cria personagens cheios de problemas, com partes boas e ruins, fraquezas e qualidades, por exemplo: Judah nem sempre está satisfeito com o fato de ser cadeirante, Margô tem questões com sua aparência, e isso os torna mais próximos da realidade.

 Eu recomendo a leitura de "Invisível", mas já aviso que há algumas cenas fortes de violência (ler a do capítulo 20 foi terrível para mim). É um livro sobre enfrentar os desafios do mundo adulto sem estrutura familiar, sobre os limites do que é certo e errado, com toques de suspense.

 Outros leitores comentaram que há referências a "O Lado Obscuro" (a Lana, colaboradora do blog, leu e resenhou ele), outro livro da autora, em "Invisível", e que quem ler os dois pode ter outra compreensão de "Invisível". Por enquanto, da Tarryn, só li a trilogia "Amor e Mentiras" (de que gostei muito) e "Stalker" (de que gostei menos do que de "Invisível").

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 A edição da Faro tem uma capa sombria que combina com o enredo, com detalhes em alto-relevo no título, páginas amareladas, boa revisão e diagramação com letras, margens e espaçamento de bom tamanho.

 Detalhes: 256 páginas, Skoob, ISBN-13: 9788595811003, tradução: Monique D'Orazio. Clique e compre os livros da autora na Amazon:


 Mais algumas citações (leia por sua conta e risco, pode conter spoilers):

 "- Eu sou meia pessoa - ele diz baixinho. - Eu sempre vou ter limites e nunca vou ter pernas. Às vezes, isso me faz querer... desistir.
 Engulo o seu 'desist, tir' porque eu também queria 'desistir' em muitas ocasiões. Em especial quando estou paralisada pelo pensamento de que pode não haver mais nada nesta vida além de Bone. Um vazio profundo me toma, e tenho que dizer a mim mesma que sou muito jovem para ter certeza. Tente mais alguns anos antes de desistir, Margô. Neste momento, o pensamento de Judah desistindo me deixa em pânico.
 - E daí? - eu digo.
 Ele olha para mim. Espera. Também espero. Não quero misturar minhas palavras - dizer algo superficial. Eu nunca vou ser boa o suficiente para Judah Grant, então quero que minhas palavras sejam aquilo pelo qual ele tenha sede. Encontrar uma necessidade faz com que você se sinta mais enraizado.(...)
 - Eu tenho pernas, Judah, e não sei como usá-las. Sua vida anda, e você vai sair de Bone e ser alguma coisa. O resto de nós, com nossas pernas funcionando, vai viver e morrer em Bone.
 - Margô... - a voz dele falha. Seu queixo afunda no peito, e não tenho certeza se ele está chorando até que eu o ouço fungar. Ele me agarra, antes que eu possa pegá-lo, e me abraça apertado.
 - Margô - ele diz no meu cabelo. - Eu vou te salvar, se você me salvar.
 Faço que sim, as palavras presas na minha garganta, embargadas de emoção. Esse é o melhor acordo que a vida já me ofereceu." (página 41)

 "A tristeza é um sentimento em que você pode confiar. É mais forte do que todos os outros. Ela faz com que a felicidade pareça instável e indigna de confiança. Ela permeia tudo, dura mais e substitui os bons sentimentos com uma facilidade tão eloquente que você nem sente a mudança, até que, de repente, você está enrolado em suas correntes. Como nos esforçamos para conquistar a felicidade! E quando afinal temos o sentimento indescritível ao nosso alcance, nós o seguramos brevemente, como a água que flui entre nossos dedos. Eu não quero segurar água. Eu quero segurar algo pesado e sólido. Algo que eu possa entender. Eu entendo a tristeza, e por isso confio nela. Estamos destinados a sentir tristeza, mesmo que apenas para nos proteger da breve conversa-fiada de felicidade. A escuridão é tudo que eu vou conhecer; talvez a chave seja fazer poesia disso." (página 44)

 "- Maggie - diz ele. - As pessoas, nossos pais, nossas mães, nossos amigos, estão tão arrasadas que nem sabem que a maior parte do que fazem reflete essa condição. Elas só machucam quem quer que esteja no caminho. Não se sentam para pensar sobre o que a dor delas faz com a gente. A dor torna os humanos egoístas. Bloqueados. Focados para dentro em vez de para fora." (página 79)

 "- O que você quer?
 Eu sorrio.
 - Nada. Nada mesmo. Tenho tudo de que preciso agora.
 E, com isso, levanto-me e saio, mantendo a cabeça abaixada.
 Eu não sei o que acontece depois disso. Não procuro saber. Mas coloquei veneno na comida dele e peço ao inferno que ele morra." (página 97)

 "E, depois de tudo isso, encontrei em mim estas verdades: eu mato porque posso. Eu mato porque ninguém me detém. Eu mato porque ninguém os está detendo. Eu mato para proteger os inocentes." (página 190)

 Por hoje é só, espero que tenham gostado do post. Me contem: já leram algo da autora?

Até o próximo post!

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9 comentários

  1. Confesso que até curto o gênero mais no momento que to vivendo talvez não realizaria a leitura devido as cenas fortes e violência, preciso estar preparada, adorei sua resenha e observações sobre o livro.

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  2. Eu cheguei a ler uma resenha desse livro, mas não dei muita atenção pro enredo.
    Agora, lendo a sua, percebo que tem muito mais nessa história. Fiquei aqui imaginando como é a vida da Margô e todas as negligências que ela sofreu. Nunca li nada da autora, mas gosto de ser surpreendida e saber que ela consegue despertar vários sentimentos, já me conquistou hauhauhauha

    Sai da Minha Lente

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  3. Amei a resenha! Super completa! Eu não conhecia não!

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  4. Tenho muita vontade de ler algo da Tarryn, dela só li Nunca Jamais que ela escreveu em parceria com a Colleen Hoover, e agora com a sua resenha fiquei super curiosa com esse livro!

    Beijos.
    https://aleitoraintrovertida.blogspot.com/

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  5. Eu nunca li nada da autora, mas a cada resenha nova deste livro, o interesse aumenta ainda mais. Não sabia que haviam capítulos de violência. Cenas assim realmente mexem muito com a gente :( vou deixar a dica anotadíssima!

    Beijos,
    Blog PS Amo Leitura

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  6. Li esse livro e fiquei completamente apaixonada... Fui totalmente envolvida pela história da Margô, a referência de O Lado Obscuro realmente traz mais entendimento, mas não atrapalha em nada quem não leu!

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    1. Pelo amor de Deus me diga, Judah existe ou não existe? Tô ficando louca

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  7. Acabei de ler esse livro e queria saber se a doutora Elgin mentiu ou não.... não ficou claro na leitura pra mim e esse é o único ponto que deixou a desejar na leitura. Quando li esse capítulo achei um BAITA PLOT TWIST, mas depois parece que o assunto morreu e que a vida da personagem continuou sendo a mesma.... fiquei procurando pistas pra ver se era ou não mentira da doutora e caso fosse, porque mentiu, mas.... nao achei nada e como disse, parece que o assunto morreu no meio da história. O livro como um todo é muito legal, mas esse ponto me pegou.

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    1. *SPOILER AQUI* Fui pesquisar, e essa doutora aparece em outro livro aprontando, então creio que ela mentiu pra Margô e o Judah existe sim.

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