Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "Maria Isabel & Soraia", escrito pela Nara Tosta e publicado em 2017 pela
Bambual Editora.
A obra é composta por duas histórias independentes. A primeira é sobre Maria Isabel, uma mulher na casa dos quarenta anos, casada e com um filho adolescente, moradora do Rio de Janeiro. Maria Isabel, além de dona de casa, vende moda fitness para as amigas. É uma mulher ativa, que gosta de se exercitar, de frequentar a academia. É bonita e atrai olhares dos homens, mas os olhares de admiração que ela mais queria atrair, faz tempo que não se voltam para ela. O problema é seu marido, que só vive pensando no trabalho.
"Maria Isabel quase morria de indignação quando isso acontecia, percebia que o mau humor e a falta de assunto do marido eram só com ela. Enquanto se consumia de raiva, retirava a mesa." (página 13)
Ao longo da leitura é visível as inúmeras tentativas que Maria Isabel faz para tentar recuperar seu casamento, para fazer com que seu marido dê atenção à relação dos dois. Ela tenta conversar, ela tenta fazê-lo se interessar novamente por ela, ela ameaça, mas nada parece dar resultado. Seu marido acha que é tudo "coisa de mulher sensível", problemas que a Maria Isabel tem consigo mesma e que precisa resolver sozinha.
Só que numa relação a dois, não tem essa de resolver os problemas conjugais sozinho. Para uma relação funcionar bem, os dois tem que se entender. Quando os objetivos e os desejos dois dois não combinam mais, não tem como a relação se sustentar. Através de Maria Isabel, a autora Nara Tosta trouxe muito da realidade das mulheres atuais; eu, casada há um ano, me identifiquei em diversos momentos com a personagem, nas tentativas de diálogo, na frustração quando os problemas voltam a se repetir, e acredito que quem vive um casamento também vá se identificar em algum ponto.
"'Primeiro precisa praticar o autoamor, depois compreender que o amor entre um casal pode acabar.' Fez uma pausa. 'Quando admitir isso, entenderá que o amor é libertador, é sincero', sorriu." (página 49)
Maria Isabel vive o dilema de continuar numa relação cômoda em alguns aspectos ou se arriscar sozinha em busca dos seus desejos e sonhos. Numa sociedade machista como a nossa, onde as mulheres são ensinadas que o casamento é mais importante do que seus desejos, Maria Isabel se sente culpada em diversos momentos, tem esperança de que as coisas possam melhorar na relação. Mas a autora conta a história de uma forma tão interessante, de modo que vamos conhecendo mais da protagonista e de seu marido a cada página. No início até podemos discordar de algumas atitudes da protagonista, mas chega o momento em que a máscara de um certo personagem cai e a gente lembra que a infidelidade não é só se envolver fisicamente com outra pessoa, mas também brincar com os sentimentos dos outros, deixar que a outra pessoa acredite que é amada e aceita de verdade, quando, na verdade, isso nunca aconteceu.
A segunda história é sobre Soraia, uma mulher batalhadora, também na casa dos quarenta anos. Conseguiu se livrar de um marido violento com quem foi obrigada a se casar muito jovem, tem dois filhos que são bons rapazes e é dona de um salão de beleza. No passado, Soraia não pôde viver seu grande amor, mas a notícia de que não existe mais qualquer chance de recuperar esse relacionamento, abala as estruturas da nossa protagonista.
O que vemos na história de Soraia, são pessoas que se deixaram acovardar, que desperdiçaram o tempo que tinham para viver e ser feliz, e quando perceberam, já era tarde demais. No passado, Soraia foi ingênua e inocente demais, e brincaram com a vida dela, e continuaram brincando com o passar do tempo. Fiquei até a última página esperando uma revelação, algo que explicasse o que levou a mãe de Soraia a agir como agiu. O homem que a protagonista amou, construiu uma ilusão, algo próximo de uma obsessão doentia, só lendo para vocês entenderem. E o que era para ser um amor, se tornou algo sombrio que destroçaria Soraia.
"- Estou cansada, muito cansada. - admitiu Soraia de olhos fechados em frente ao espelho, para não se encarar. (...) - Essa estória com Gustavo pôs fim a uma vida de fachada, de mentira, que vivia comigo mesma, fingia que era uma mulher feliz e realizada. Mas era frustrada e muito infeliz. (...) - Sempre fui só. Nunca consegui ser plena. Sucumbi ao meu fracasso como mulher que lutou pelos bens materiais e pelo amor dos filhos. Mas e eu, o que vivi pra mim? O que foi só meu nessa vida? - chorou. - Nada!" (página 157)
A história de Soraia não é uma história bonita, é sobre alguém que vai ao fundo do poço, é sobre segredos que destroem, ao contrário da história de Maria Isabel, onde a verdade liberta. Em comum, as duas protagonistas tem a idade e o hábito de conversarem com suas consciências, além de relações conturbadas com a figura materna. Das duas tramas, a primeira foi minha favorita.
A edição da Bambual é linda e inovadora: menor que um livro convencional e maior que um de bolso. A capa é muito bonita e na sua parte interna há uma poesia da irmã da autora, manuscrita pela mãe de ambas. As páginas são de um rosa claro e as letras são em uma cor entre o rosa escuro e o roxo. A diagramação tem fonte, margens e espaçamento de bom tamanho, além de ilustrações (ou fotos). Não me lembro de ter encontrado erros de revisão.
Fica a recomendação de leitura, certamente você será tocado em algum momento pelas histórias de Maria Isabel e Soraia. Esse livro faz parte da coleção Mulheres Em Cena, das irmãs Nara Tosta e Lara Braga, a Lara escreveu
"Em poesia", o melhor livro de poemas que eu já li na vida, já resenhado aqui no blog. Me contem: qual das duas histórias parece mais interessante? Já conheciam o livro ou a autora?
Até o próximo post!
Me acompanhe nas redes sociais: