Resenha: livro "Românticos Incuráveis", Frank Tallis

 Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje, venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "Românticos Incuráveis: quando o amor é uma armadilha", escrito pelo Frank Tallis e publicado no Brasil pela Faro Editorial em 2019.

 "Sintomas têm de ter causas. Podem ser produzidos por anormalidades no cérebro, desequilíbrios dos neurotransmissores, lembranças reprimidas ou pensamentos distorcidos. Mas os sintomas são também o estágio final das histórias." (página 8)

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 "A vida é um empreendimento precário e o amor é seu ingrediente essencial. À medida que envelheço, acho salutar lembrar a mim mesmo desses truísmos com regularidade cada vez maior. Nós humanos, parece-me, tendemos a nos esquecer do óbvio." (página 236)


 Além de escritor, Frank Tallis é psicólogo e, nesse livro, traz relatos de alguns casos com os quais teve contato através das sessões de psicoterapia em hospitais e consultórios. O anonimato dos pacientes foi garantido. Em comum, os 12 capítulos têm o fato de abordarem a necessidade de amar e de ser amado e os problemas que surgem quando esse amor não é correspondido ou satisfatório.

 Uma mulher que se apaixonou pelo dentista e passou a persegui-lo; uma senhora em luto pela morte do marido; uma mulher extremamente ciumenta; um homem viciado em ser amado; um rapaz que não consegue aceitar do término do namoro; um gay que não se sente bem com o namorado; um jovem que se diz possuído por um demônio; um homem que sabe que sentir atração por meninas é errado e afirma nunca ter abusado de uma criança, mas sofre com suas "preferências"; um casal muito excêntrico mas que se completa, são alguns dos casos que o autor traz no livro. Temos também o relato de algo que aconteceu quando ele ainda não exercia a profissão, morava com o filho pequeno e a esposa num vilarejo distante, e presenciou um homem "enlouquecer de amor".

 Ciúme, amor não correspondido, término de relacionamento, luto, compulsão, obsessão... Certamente vocês já viram (ou, até mesmo, vivenciaram) alguma das situações descritas acima, em maior ou menor grau. E é interessante como o autor disseca os casos, nos mostrando até onde o que o paciente sentia ou fazia era "normal" e em que ponto passava a ser um problema.

 "As pessoas podem sofrer quando se apaixonam ou quando o amor não dá certo. Entretanto, em geral temem falar abertamente sobre sua dor (ainda mais com um profissional de saúde mental) porque sentem que seu sofrimento é adolescente, tolo ou embaraçoso - ou que suas fantasias e seus impulsos sexuais são sujos e pervertidos. O que lhes é dito é que se controlem e que se envergonhem. Mas é dificílimo controlar emoções tão profundamente arraigadas em nosso cérebro. E, mesmo com ajuda profissional, não há garantias de que doenças relacionadas com a atração e com o desejo possam ser tratadas com êxito. Frequentemente, o objetivo da terapia é a administração, e não a cura, dessas doenças." (página 235)

 Igualmente interessante são as formas com que o psicoterapeuta trabalhava as questões com os pacientes, seja ao tentar fazê-los colocar para fora as informações que estavam escondendo (alguns casos tem desdobramentos surpreendentes), seja nas maneiras de sanar o problema. Em algumas situações, não havia uma cura definitiva (como arrancar fora um sentimento?), apenas uma forma de lidar melhor com as questões.

 Achei curioso como o psicoterapeuta precisa estar atento à possibilidade de estar sendo manipulado, não podendo confiar cegamente no que o paciente diz, ao mesmo tempo em que tem que tomar muito cuidado com suas palavras e ações, pois uma frase ou expressão errada pode prejudicar todo o tratamento. E também há limites em sua atuação, visto que muitos pacientes se dão alta por conta própria e não voltam mais às sessões.

 "Ser um profissional é como ter uma personalidade dividida. Somos um indivíduo, mas somos também um serviço, um cargo, os meios para fazer um trabalho. Eu não atendia como Gordon como uma mera pessoa, mas como um psicoterapeuta, os psicoterapeutas não podem usar seus juízos de valor para fazer seu trabalho." (página 213, Gordon era um paciente que se sentia atraído por crianças, embora se envergonhasse, soubesse que isso era errado e nunca tivesse abusado de uma)

 "Um número alto de pacientes não consegue comparecer às sessões, o que significa que o psicoterapeuta passa muitas horas sem trabalhar, tamborilando, acertando as horas no relógio e olhando pelas janelas. É algo como levar um cano em um encontro - só que isso acontece todos os dias." (página 56)

 Eu estava curiosa para ler "Românticos Incuráveis" pois achei interessante a temática dos problemas amorosos, mas não sabia bem o que esperar do livro. Felizmente, encontrei uma narrativa surpreendentemente fluida, a escrita do autor é muito boa. Frank Tallis conseguiu costurar bem os casos reais com informações sobre o corpo e o cérebro humano, as origens primitivas do homem (quando a reprodução da espécie era uma necessidade básica) e a evolução ao longo dos tempos, as diferentes correntes da psicologia e de nomes importantes da área, como Josef Breuer, Freud, etc., trazendo uma contextualização histórica com décadas passadas e também com nossa cultura atual, das ideias de amor e relacionamentos representadas na literatura e até mesmo no cinema.

 Mais algumas citações interessantes:

 "A atração por crianças pode ser estimulada por fatores sociais e culturais. A facilidade de acesso à pornografia infantil aumentará as oportunidades de condicionamento masturbatório e as crianças são frequentemente sexualizadas nas propagandas. No mundo ocidental, a magreza e a ausência de pelos (duas características de corpos pré-púberes) tornaram-se cada vez mais desejáveis. A redução dos lábios vaginais está se tornando uma forma de cirurgia estética popular e uma vagina perfeita e sem pelos faz uma mulher se parecer com uma criança. Essa nova estética sexual normaliza aquilo que, até o presente momento, era considerado pedófilo." (página 209)

 "- Ela foi muito clara, Paul. Imogen quer que você a deixe em paz.
 Paul olhou para o lenço, inclinou-se sobre o braço da poltrona e jogou a bola amassada no cesto de lixo.
 - Parece errado deixá-la. Quero dizer, há tantas canções e filmes, todos com a mesma mensagem: o amor encontra um jeito, o amor conquista tudo.
 - São músicas e filmes de Hollywood...
 - Claro, claro, mas é nisso que nós acreditamos. Por isso são populares." (página 115, sobre como a TV, o cinema e outras artes podem influenciar as pessoas)

 "Os problemas da dependência frequentemente aumentam por causa da tolerância - um conceito médico que pode ser empregado para explicar desregulação comportamental e perda de controle. (...) Os libertinos são sempre retratados na ficção como cínicos, indiferentes e infinitamente entediados. É uma caracterização que admite uma verdade paradoxal: a perseguição intempestiva do prazer faz o prazer ser algo difícil de encontrar." (página 95, olha os libertinos dos romances de época aí...)

 "No final dos anos 1960, o psicólogo Paul Ekman realizou um estudo com pacientes deprimidos que fingiam sentir-se melhor. A razão para o fingimento é que eles queriam escapar da supervisão para tentar o suicídio. Quando as entrevistas filmadas com esses pacientes eram projetadas em câmera lenta, tornava-se possível identificar expressões momentâneas e negativas congruentes com a intenção suicida. Quando projetadas normalmente, essas expressões momentâneas duravam apenas milissegundos. É possível que os psicoterapeutas, cujo trabalho diário inclui analisar as expressões do rosto e tentar interpretá-las, tornem-se mais sensíveis à aparência negativa dessas microexpressões. Elas são percebidas de forma subliminar e produzem uma vaga sensação de que há algo errado. (...) O que chamamos de intuições, pressentimentos e palpites podem não ser nada mais que um subproduto do processamento pré-consciente". (página 91)

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 A edição traz uma capa com verniz localizado em relevo no título, a imagem de um homem e uma mulher como se estivessem deitados num divã, e trabalha bem com as cores preto, vermelho e branco. A parte interna da capa é vermelha com coraçõezinhos, uma lindeza! As páginas são amareladas, a diagramação tem letras, margens e espaçamento de bom tamanho, e não encontrei erros de revisão.

 "Na verdade, a conclusão do desenvolvimento do córtex pré-frontal não ocorre antes do vinte anos de idade.
 Talvez essa seja a informação mais importante sobre crianças e adolescentes que os pais precisam saber, pois explica muita coisa. Muitos jovens esquecem-se de fazer coisas, agem por impulso, correm riscos estúpidos e tomam decisões erradas, não porque estejam provocando de propósito, mas porque seus cérebros ainda estão inacabados. Além do mais, na adolescência, a volatilidade emocional do cérebro inacabado torna-se ainda mais extremada dadas as flutuações repentinas dos níveis dos hormônios." (página 103, informação super importante)

 Enfim, "Românticos Incuráveis" foi uma leitura da qual eu gostei e que recomendo, especialmente para quem procura um livro de não-ficção de leitura fluida e que certamente trará novas reflexões e aprendizados ao leitor.

 "Pessoas são como livros de história vivos. A cura pela palavra abre as capas e liberta as histórias." (página 8)

 Por hoje é só, espero que tenham gostado do post. Me contem: sentem curiosidade pela temática dos sentimentos humanos?

 Detalhes: Skoob, 240 páginas, ISBN-13: 9788595810907, leia as primeiras páginas. Clique para comprar na Amazon:


Até o próximo post!

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9 comentários

  1. Oi
    Eu adorei a dica 😊 o livro é bem interessante,não conhecia o trabalho do Frank Tallis...

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  2. Olá! O amor é certamente um tema que intriga e escrito por um psicólogo então, parece ainda mais fantástico! E como você disse, ele precisa estar atento pois, qualquer passo em falso já era!

    Me interesso muitos por livros assim e este parece estar incrível.
    As citações estão belíssimas!

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  3. Este não é um livro que eu ficaria louca para ler caso visse em uma livraria, mas ele chama a atenção pelo seu enredo, a forma como a história é conduzida. Achei a premissa muito boa a trata de assuntos que tenho me interessado no momento.

    Silviane, blog Memento Mori• Siga no Instagram: @kzmirobooks

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  4. Adorei saber que a leitura propõem reflexões para quem a lê. Gostei muito da resenha de forma geral como o livro é novo para mim senti muita curiosidade e vou procurar para tentar ler também!

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  5. Oi Mai.
    Eu ainda não tinha visto este livro e pela sua resenha eu fiquei curiosa para lê -lo. Ainda mais sabendo que foi escrito pelo psicólogo, com certeza deve ser bem conduzido. Parabéns pela resenha e obrigada pela dica.

    Bjos

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  6. É um tema super interessante, deve ser bem legal conhecer melhor todas as faces da paixão de uma maneira profunda.
    Beijos
    Mari
    Pequenos Retalhos

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  7. Olá, tudo bem? EU jurava que por essa capa a temática seria algo completamente diferente, mas estou feliz por encontrar algo igualmente interessante. Vou querer analisar junto do autor, caso a caso e tirar minhas conclusões. Adorei e dica anotada!
    Beijos,
    http://diariasleituras.blogspot.com/

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  8. Se meu psicólogo usasse a minha história para criar outra, ele teria pauta para uma trilogia no mínimo ahuahuhauha. Gostei da proposta, deve ser interessante ver esse relatos e imaginar as pessoas que viveram/vivem esse sentimento. Admito que ao ver a capa e o título, imaginei que era outra coisa XD~~

    Sai da Minha Lente

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  9. Ooi,
    Achei super legal que o autor tenha usado influências reais no livro, mas confesso que pela capa e pela pequena sinopse não é um livro que me interessa muito. De qualquer forma gostei de conhecer e também adorei todos os quotes!

    Beijos

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