Resenha: livro "Quando a selva sussurra"

Olá pessoal, tudo bem? O livro da resenha de hoje é "Quando a selva sussurra - contos amazônicos", publicado pela Editora Selo Lendari em 2015, reunindo 22 contos baseados em lendas amazônicas, contando com 15 autores (sendo 13 de Manaus e 2 de São Paulo).

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 No livro, várias lendas da Amazônia são citadas, alguns contos falam sobre o surgimento desses seres lendários, outros falam de suas aparições, do embate entre lenda e homens, e algo que pude perceber em alguns textos foi a ideia de que talvez, nós, humanos, estejamos nos tornando mais perigosos e mais cruéis do que as temidas lendas.

 "Os monstros da mata não conseguiriam competir com os homens da cidade." (página 13, "Mapinguari Urbano", Alcides Saggioro Neto)

 Acho que a lenda do boto é uma bem conhecida, com a história dos homens sedutores que surgiam de noite, conquistavam as moças e depois sumiam, deixando mulheres grávidas e filhos sem pai. O conto "Filhos de boto", da Patrícia Ferreira, me fez pensar como essa lenda pode ter sido usada para mascarar a cruel verdade sobre a paternidade dessas crianças, seria melhor dizer que uma criatura sobrenatural era a responsável.

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 Confesso que esperava algo mais leve, mais mágico, contos mais felizes (como algumas dessas lendas me foram apresentadas na época em que, todo ano, fazia trabalhos sobre o folclore na escola), porém, "Quando a selva sussurra" tem um estilo mais sombrio e pesado, com desfechos mais trágicos, e mesmo assim, interessantes.

 "A promessa de Boró era que ela sempre estaria na escuridão para iluminar o caminho de Curó, e que ele, tal como ela, não precisaria mais temer a noite." (página 96, "A índia que não temia a noite", onde Mário Bentes que fala sobre o surgimento da Lua)

 "Daniela suspirou, decepcionada. Esperava respostas coerentes e não um roteiro de conto folclórico. Ficou imaginando como explicaria ao chefe que o Curupira era o principal suspeito do crime." (página 118, "Os mistérios dos corpos rasgados", o texto de Andrés Pascal, que tem uma narrativa super ágil)

 Eu ainda não conhecia algumas lendas, como a da Matinta Perera (velha que se transforma em ave agourenta e insistente ao desejar algo) abordada em "Suindara Maldita" do Raphael Alves (onde Rui escutava histórias sobre ela quando era criança, mas não imaginava que a encontraria no futuro, muito menos que conviveria com ela) e "A Casa 26" de Rossember Freitas (um dos meus preferidos, que fala sobre Viviane e sua avó, que se mudaram para uma casa assombrada, só o fato de ela estar próxima ao cemitério já poderia ser um indício disso, mas ainda tinha um gato estranhíssimo lá). A palavra "anhangá" não me era estranha, e foi interessante vê-lo no conto "A longa noite de Antônio Félix", onde Maria Santino fala sobre Félix, um caçador valentão que, certa noite, pagou o preço por suas maldades. Os contos sobre as Amazonas também foram interessantes para mim.

 "Não sei o que mais me enfeitiçou: o caldo ou seus olhos..." (página 110, "Olhos de Icamiabas", Attaíde Marttins)

 A degradação e a preservação da natureza também são temas de alguns textos.

 "Não há como deter o processo evolutivo, os homens ainda não compreenderam isso, jamais entenderam que eles é que são os estrangeiros, alienígenas, os corpos estranhos em um mundo perfeito. Eles é que são os detratores da beleza, os massacradores de vida... mas é natural tudo ter um fim! Faz parte da vida caminhar para a morte." (página 143, "Lauaretê", Virgínia Allan)

 Enfim, não é possível falar sobre cada conto separadamente, pois o post ficaria enorme, mas espero ter conseguido passar um pouco da essência da obra. "Quando a selva sussurra" não se tornou um favorito como os dois últimos livros do gênero que eu li ("Eu me ofereço" e "Respeite o medo"), mas eu gostei bastante dele. Não sei como foi definida a ordem em que os contos foram colocados na obra, mais acho que se eles tivessem sido colocados de forma que os que falam sobre o surgimento de certo mito viessem primeiro, talvez ficaria mais fácil para leitores que, como eu, ainda não conhecessem aquela lenda, pudessem se situar; ou então, se o livro fosse dividido por temas (por exemplo: todos os textos sobre o Curupira juntos), talvez fosse uma boa ideia. Senti falta de saber um pouquinho sobre os autores também; nas antologias da Editora Illuminare, por exemplo, no final do livro há uma pequena biografia sobre cada autor, poucas linhas, mas que já nos ajudam a ter uma noção sobre quem escreveu determinado conto.

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"O pescador solitário", Emerson Quaresma

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"O porão do Ataíde", Emerson Quaresma

 Sobre a parte visual: a edição está ótima! A capa é bonita e condizente com a obra, as páginas são amareladas, as margens, o espaçamento e as letras tem um bom tamanho, a primeira linha de cada conto tem uma fonte diferente, e cada conto tem uma ilustração, foi até difícil escolher só algumas para mostrar no post, pois todas são muito bonitas.

 Detalhes: 184 páginas, ISBN-13: 9788569243007, Skoob (minha nota: 4/5)página no Facebook. Onde compra online: e-book na Amazon.

 Por hoje é só, espero que vocês tenham gostado da resenha. Fica a indicação de leitura para quem gosta de literatura nacional voltada para o nosso folclore, uma área que ainda tem bastante potencial para ser explorado em nossa literatura. Me contem: alguém aí já conhecia a obra ou alguma das lendas citadas?

 Deixo o convite para que vocês visitem o site da editora: www.lendari.com.br e para que passem a acompanhá-la no Facebook (caso ainda não acompanhem). Quem acompanha o blog já deve saber, mas para quem ainda não sabe, a editora está com uma campanha de financiamento coletivo para lançar três livros na Bienal de São Paulo, ela é a única do Amazonas que estará no evento, a campanha já está na reta final e quem quiser contribuir (e ganhar alguns brindes em troca) é só clicar aqui. Ressalto também que a editora está recebendo textos para sua nova antologia, "O último Gargalo de Gaia: distopias, steampunk e dias finais" (que tem uma capa linda!) até 31 de maio, para saber mais é só clicar aqui.

Até o próximo post!


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16 comentários

  1. Olá,

    Desde que vi esse livro fiquei muito interessada, não sei nada a respeito das lendas amazônicas mas a curiosidade a respeito assunto é grande. A diagramação do livro também parece excelente em? Espero poder ter contato com essa obra em breve.

    Abraços
    http://colecoes-literarias.blogspot.com.br/

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  2. Olá, eu ainda não conhecia o livro e m esmo você tendo falado tão bem sobre ele, eu não me senti interessada em realizar essa leitura. Não que o livro pareça ruim, não parece mesmo. É que nã faz muitoo meu estilo, gosto de contos e crônicas mas os abordados nesse livro não me atraíram

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  3. Oii,

    Eu já tinha visto resenha deste livro em outro blog, confesso que ele continua a não me encher os olhos, eu definitivamente não curto conto, acho que li pouquissimos na vida, e o tema foco deste me chama a tenção muito menos, mas creio que quem tem que se agrada e quem lê não e mesmo? Parabéns pelo trabalho.

    Beijos

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  4. Olá
    No começo eu fiquei com medo, mas lendo os relatos de vários contos me despertou a cruiosidade, gosto demais dos contos folcloricos, só fico meio com medo quando começa a explicar demais eles.
    Beijos

    www.poyozodance.blogspot.com.br

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  5. Oie!
    Eu ainda não li esse livro, mas achei bem interessante os contos apresentados. Ainda mais por ser nacional, fico mais curiosa para poder ler mais sobre eles. E achei a edição linda! Ficou perfeita.
    Bjks!
    Histórias sem Fim

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  6. Olá!
    Nossa, eu imediatamente vou adicionar às minhas leituras! Gosto de livros inusitados, diferentes, ainda mais em se tratando de literatura nacional (FOLCLORE NACIONAL).
    Acho engraçado que lemos tantos livros internacionais e não damos nenhum valor a obras como essa.
    Precisamos valorizar mais nossa própria cultura.
    Parabéns pela leitura!
    Beijos,
    Um Oceano de Histórias

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  7. Oi.
    Eu amei as ilustrações, já compraria.. rsrs
    adorei a resenha!bjs

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  8. Olá tudo bom?
    não conhecia o livro, mas foi uma ótima surpresa.
    Eu não conheço a maioria dos contos, e os que eu já ouvi falar eu não sei conheço muito profundamente. Mas é um bom livro para ler, já que fala de alguns folclores daqui do BR.
    ótima dica! obrigada

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  9. Oioi! Tudo bem?
    Adoro conhecer livros novos e esse Quando a selva sussurra nao conhecia.
    COnfesso que sou meio por fora de livros nacionais que ressaltam a cultura brasiliera, ainda mais o nosso folclore tao rico.
    A edição está uma obra prima mesmo, gostei das fotos que mostrou.
    Achei a premissa interessante, parabens pela resenha.
    Beijos.

    Livros e SushiFacebookInstagramTwitter

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  10. Oie
    uau a edição está linda e parece ser uma leitura muito boa, adorei a resenha e a dica, belo post

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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  11. Nossa!!!! que resenha encantadora!!!!

    Não conhecia o livro, e só essas fotos já despertaram a minha curiosidade!!!

    Parabéns.... e obrigada pela dica!!!

    bjs

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  12. Olá Mari!!!
    Mulher que livro é esse?? :O
    Me arrepiei todinha e estou com medo posso dizer isso, pois sou um pouco medrosa mas muuuuuito curiosa!!!
    E esse livro despertou minha curiosidade, eu conhecia a lenda do Boto e do Curupira e realmente pensando aqui sobre o que você disse talvez a lenda do Boto tenha sido inventada para contornar outras coisas que aconteciam com as moças mesmo O.O
    Tipo se uma moça perdesse a virgindade antes do casamento os pais podiam dizer que foi o boto que a seduziu rsrsrsrs

    lereliterario.blogspot.com

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  13. Olá flor, adorei o livro...o título é ótimo e por se tratar de contos já me ganhou com certeza.
    Adoro temáticas mais sombrias e estou certa que amaria essa leitura.

    Já marquei a dica aqui.

    Abraços

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  14. Olha, só de saber que são contos amazônicos já me interessou imensamente, pois adoro esse tipo de literatura. Inclusive tenho alguns livros sobre o tema. Adorei a dica!

    Tatiana

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  15. Olá, sou um dos autores da antologia e preciso dizer que adorei sua resenha! Além de dizer o que achou, vc pontuou sugestoes bem bacanas. Obrigado mesmo 😊

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    1. Olá, Jan, fico contente que tenha gostado, eu é que agradeço!

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