Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "Dez Contos Escolhidos de Eça de Queirós", antologia organizada por Mário Feijó e que, como o próprio nome já diz, traz dez contos escrito pelo autor português Eça de Queirós. O livro foi lançado em 2017 pela José Olympio (Grupo Editorial Record).
Um pouco sobre cada conto:
A obra se inicia com as trinta e sete páginas de "Singularidades de uma rapariga loura", onde conheceremos Macário, um rapaz que trabalhava com o tio, e se encantou pela nova vizinha. Para que pudesse se casar com ela, ele teria que batalhar muito. Porém, essa rapariga loura tinha uma "mania" inadequada, que eu previ logo na primeira vez que se manifestou, mas com a qual Macário não quis lidar. Eu acho que a história dos dois não precisava ter terminado da forma que terminou, se Macário sentisse mesmo um amor tão grande por ela. Se bem que, o que hoje sabemos que é uma doença ou distúrbio, no século dezenove não era visto da mesma forma.
"Existe, no fundo de cada um de nós, é certo, - tão friamente educados que sejamos -, um resto de misticismo; e basta às vezes uma paisagem soturna, o velho muro de um cemitério, um ermo ascético, as emolientes brancuras de um luar, para que esse fundo místico suba, se alargue como um nevoeiro, encha a alma, a sensação e a ideia, e fique assim o mais matemático, ou o mais crítico, tão triste, tão visionário, tão idealista - como um velho monge poeta." (página 10)
O segundo texto é "O defunto", 43 páginas, onde voltamos ao século quinze para conhecer a história de D. Rui, um rapaz que se encantou por D. Leonor. O problema é que ela era casada com o Senhor de Lara, um homem tão ciumento, mas tão ciumento, que o único momento em que a esposa podia sair de casa era para ir à Igreja aos domingos, por insistência do padre, e mesmo assim o marido ainda ficava espiando os passos da esposa pela janela. Claro que ele reparou em D. Rui olhando para sua esposa. E o Senhor de Lara seria tão corroído pelo ciúme, que prepararia uma emboscada para D. Rui, mas como o rapaz e também Eleonor eram muito devotos, aconteceria algo inimaginável!
Imagine andar a cavalo com um morto-vivo na garupa! Acho que não vou esquecer dessa história tão cedo, pois não esperava encontrar um conto de terror (ou de ficção fantástica com um toque sombrio) entre os escritos do Eça de Queirós.
"– Que me queres?
O enforcado, suspirando, murmurou:
– Senhor, fazei-me a grande mercê de me cortar esta corda em que estou pendurado.
D. Rui arrancou a espada, e de um golpe certo cortou a corda meio apodrecida. Com um sinistro som de ossos entrechocados o corpo caiu no chão, onde jazeu um momento, estirado. Mas, imediatamente, se endireitou sobre os pés mal seguros e ainda dormentes – e ergueu para D. Rui uma face morta, que era uma caveira com a pele muito colada, e mais amarela que a Lua que nela batia. Os olhos não tinham movimento nem brilho. Ambos os beiços se lhe arreganhavam num sorrido empedernido. De entre os dentes, muito brancos, surdia uma ponta de língua muito negra. "(páginas 70 e 71)
O terceiro conta fala sobre José Matias, outro caso de amor proibido, já que a mulher por quem ele se apaixonou era casada. Porém, o tempo passou e esse amor dos dois pudesse ter se concretizado, mas José Matias preferia esse amor platônico, que não sofre com a rotina do dia-a-dia mas que, creio eu, também não possa trazer a felicidade.
"Já, porém, no tempo de Aristóteles, se afirmava que amor e fumo não se escondem; e do nosso cerrado José Matias o amor começou logo a escapar, como o fumo leve através das fendas invisíveis de uma casa bem fechada que arde terrivelmente." (página 94)
Com menos de dez páginas, "A aia" é o menor dos contos, e fala sobre o sacrifício que uma mulher, uma aia, foi capaz de fazer por sua senhora, a rainha, e seu reino. Em "Um dia de chuva", um rapaz vai conhecer uma propriedade que desejava comprar, mas como estava chovendo, ele teve que aumentar seu tempo de estadia na propriedade, e acabou se interessando por outra coisa além da casa.
"Frei Genebro" era um religioso que queria seguir os paços de São Francisco de Assis, talvez até pudesse ter sido um santo, se não tivesse se esquecido que o amor e a caridade não deveriam ser feitos só para os humanos, mas para todos os seres da Terra. Quantas vezes nos esquecemos disso?! Ainda no campo religioso, temos "O suave milagre", história que se passa na época em que Jesus fazia seus primeiros milagres. Assim como hoje, muitos buscavam a cura vinda das mãos dele, mas esqueciam da humildade, da simplicidade e da pureza que facilitariam o recebimento das bençãos.
Você se tornaria amigo de alguém que roubou um livro seu? O narrador de "Um poeta lírico" não ficou muito bravo com o gatuno, pelo contrário, passou algum tempo conversando com o rapaz e entendeu o motivo de alguém tão interessado pelo saber estar num trabalho braçal. Amor não correspondido! A vida tem dessas coisas. Foi o conto que menos me tocou.
O penúltimo conto da obra é "No moinho", protagonizado por Maria da Piedade, uma mulher casada com um homem de saúde frágil e que também teve filhos adoentados. Ela era praticamente uma enfermeira em tempo integral, até que apareceu um visitante que a fez querer mais, que lhe mostrou que a vida poderia ser diferente, mas talvez ela tenha ido com muita sede ao pote. Eu é que não vou julgá-la!
"Era como uma rajada de ar impregnado de todas as forças vivas da natureza, que atravessava, subitamente, a sua alcova abafada; e ela respirava-a deliciosamente..." (página 216)
E a antologia termina com "Civilização", protagonizado por Jacinto, um homem que tinha acesso à todas as tecnologias da época. Eram máquinas e mecanismos para tudo o que se podia pensar! Até que ele foi obrigado a viver sem o conforto que essas tecnologias proporcionavam. O fato é que ele descobriu que a vida com simplicidade poderia ser muito agradável!
Minhas considerações gerais sobre a obra:
A capa tem uma textura porosa, como se fosse um papelão, que eu achei interessante, mas me dá uma certo nervoso ao pensar que pode encher de poeira! As páginas são amareladas. A diagramação tem letras, margens e espaçamento de bom tamanho. A revisão está bem feita.
Foi o meu primeiro contato com a escrita do autor (que também escreveu "Os Maias", "O primo Basílio" e "O Crime do Padre Amaro"). Todos os contos são interessantes, mas tem muitas palavras que não são mais usadas ou conhecidas nos dias atuais, o que torna a leitura mais lenta (imagine ter que ler com o dicionário do lado!).
Eu estou acostumada a ler romances de época e conhecer um pouco dos costumes dos séculos passados, mas a maioria dos que leio se passam na Inglaterra, então, foi interessante vez como era o século dezenove em Portugal. Amores proibidos, religiosidade, costumes da época, aparatos tecnológicos, palavras (nem tão) novas, um toque de sobrenatural e, talvez, uma certa obsessão por personagens loiras é que vocês podem encontrar em "Dez Contos Escolhidos de Eça de Queirós". Eu recomendo a leitura, ainda que ela não seja tão fluida. Certamente algum dos contos irá ficar marcado na memória de cada leitor.
Detalhes: 256 páginas, ISBN-13: 9788503013147, Skoob leia um trecho. Compre online na Saraiva.
Por hoje é só, espero que tenham gostado do post. Me contem: já leram algo do autor? Qual dos contos acharam mais interessantes?
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Até o próximo post!
Me acompanhe nas redes sociais:
Tenho receio em ler certas obras mais antigas por isso. Essa questão de algumas palavras, termos não serem mais usados atualmente. E isso acaba mesmo deixando a leitura uma pouco cansativa e demorada.
ResponderExcluirNunca li nada do do autor também, mas fiquei curiosa em relação a alguns contos dessa antologia.
Também leio muitas obras com a abordagem na Inglaterra e seria interessante conhecer um pouco mais de Portugal.
Beijos
Caroline Garcia
Olá !
ResponderExcluirDo autor eu já li " O Primo Basílio " que foi uma leitura obrigatória na escola !
Não gosto muito de contos mas eu daria uma chance ao livro por se tratar dos contos de Eça !
Bjo
Oi Mari. De vez em quando eu leio livros antigos. Já li o Primo Basílio é não gostei muito, inclusive do filme também. Mas a história é bastante real.
ResponderExcluirGostei dos contos retratados. Esses casos de amor proibido era bem comum na época pq eram casamentos negociados. Fiquei com vontade de ler sobre o sacrifício que a Aia fez pela senhora. Sei de muitas histórias tristes sobre o passado dessas mulheres.
Mari!
ResponderExcluirMuito bom poder ter contato com um clássico mundial como Eça de Queiros.
Realmente a escrita dele é um tanto prosaica para nós que somos contemporâneos, mas o bom é justamente poder aprender novo vocabulário, abandonado no decorrer do tempo.
Gosto porque você detalha cada conto, achei bem interessante.
Bom final de semana!
“Educar é semear com sabedoria e colher com paciência.” (Augusto Cury)
Cheirinhos
Rudy
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Oi, Mari!
ResponderExcluirNunca li nada do autor. Sou meio adversa a clássicos hahhahahhaa
Acho que essas palavras "mortas" devem atrapalhar um pouco a leitura.
Beijos
Balaio de Babados
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Oi, Maria!!
ResponderExcluirGostei da resenha que você fez desse livro de contos de Eça de Queiros, ainda não tive oportunidade de ler nada dele, mas quem sabe um dia.
Beijoss
Oi Maria,
ResponderExcluirEu amooo os livros do Eça!! Achei esse livro maravilhoso!!
Blog Entrelinhas
Olá, o autor é talentosíssimo e essa obra, além de ser bem diversa, fala bastante sobre os costumes da sociedade portuguesa, algo bem interessante. Beijos.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirNunca li esse livro. Já li alguns livros do Eça há algum tempo e estou precisando mesmo reler <3
Beijos
Oii Maria ;)
ResponderExcluirNão gosto muito de antologias, mas já ouvi falar bem dos livros do Eça, tenho vontade de ler.
Acho que procuraria um outro livro, esse não me deixou tão interessada, uma pena!
O que eu não gosto nesses livros antigos é justamente isso de terem palavras que não são mais usadas hoje em dia, pra mim torna cansativa a leitura.
Mas gostei da sua resenha, apesar de não ter interesse em ler esse.
Bjos