Resenha: livro "Quando eu parti", Gayle Forman

 Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "Quando eu parti", escrito pela Gayle Forman e publicado no Brasil pela Editora Record em 2016.

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 "- Oi, sou eu - disse ela. - Dá para você providenciar o jantar de hoje?
- Se não está com vontade de cozinhar, vamos pedir no delivery.
- Não podemos. É o jantar dos Pais de Gêmeos. Seremos os anfitriões - lembrou a ele. Porque, embora estivesse no calendário e ela tenha lhe falado no início daquela semana, e embora os jantares viessem acontecendo de dois em dois meses havia mais de dois anos, era um evento que ainda os pegava de surpresa. - Não estou me sentindo muito bem - acrescentou Maribeth.
- Então cancele - disse ele.
Ela sabia que ele diria isso. Jason adorava a saída fácil. Mas a única vez em que alguém cancelou um jantar foi dois anos antes, logo depois do furacão Sandy. E, sim, ela sabia que aquele tipo de evento não fazia o estilo de Jason. Mas ela havia ingressado no grupo quando os gêmeos tinham seis semanas, e, na época, estava morta de cansaço de tudo e se sentia incrivelmente solitária por ficar sozinha em casa o dia inteiro só com eles. E, sim, talvez alguns pais fossem irritantes (...). Mas aqueles foram seus primeiros amigos-pais. Mesmo que ela não gostasse exatamente de todos, eram seus companheiros de guerra.
- Estou esgotada - confessou ela a Jason. - E é tarde demais para cancelar.
- É que meu dia está muito louco - disse Jason. - Temos dezenas de milhares de arquivos para migrar antes da atualização do banco de dados.
 Maribeth imaginou um mundo no qual um dia louco a isentava de lidar com o jantar. Isentava de qualquer coisa. Ela adoraria viver num mundo assim.
- Não dá para só preparar alguma coisinha? Por favor. - Não me diga para pedir pizza, pensou Maribeth, o peito apertado, mas não do estresse, como havia pensado, e sim devido ao estrangulamento do sangue pela artéria coronária estreitada."

 Maribeth Klein fugiu de casa, em Nova York, poucos dias depois de passar por uma cirurgia no coração. Ela tinha quarenta e quatro anos e deixou para trás o marido Jason, seus dois filhos gêmeos de quatro anos e sua mãe adotiva que estava passando uns dias com o casal, supostamente para ajudar Maribeth no seu período de recuperação.

 Quando passou mal, Maribeth pensou que a dor poderia ter sido causada por algo que comeu e não fez bem ou ser fruto do estresse, do excesso de trabalho na revista onde sua antiga amiga Elizabeth era sua chefe. Mas era um infarto, e ela teve que passar por uma complicada operação e precisaria de repouso depois. Mas como repousar se a louça se acumulava na pia, a correspondência precisava ser separada e os gêmeos necessitavam de tantas coisas? Maribeth ia se esforçando mais do que podia, o que lhe causava dores. Jason ficava muito tempo no trabalho e a mãe não era de grande ajuda, para piorar, Maribeth ficou sabendo que foi substituída no trabalho e Elizabeth sequer lhe contou isso pessoalmente.

 "Verificou a data no envelope. Dia 12 de outubro. O pacote ficou ali por mais de duas semanas, em um envelope expresso da FedEx, endereçado aos dois, marcado como urgente, e Jason sequer pensou em abri-lo." (página 56)

 Então, Maribeth pegou algum dinheiro e foi embora, deixando apenas um bilhete de despedida. Ela foi para uma cidadezinha próxima, alugou uma casa de um senhor que aceitou receber o aluguel em dinheiro, e foi procurar um médico que aceitasse atendê-la recebendo diretamente, sem passar pelo plano de saúde, para não deixar rastros que pudessem localizá-la. Será que a família de Maribeth iria procurá-la? Ela conseguiria se recuperar longe deles? Quanto tempo ficaria afastada?

 "- Qual é seu problema?
 - Qual é o problema? Eu fico aqui sozinha o dia inteiro com minha mãe e as crianças, e ainda me sinto uma merda.  - Ela calou-se, esperando que Jason reagisse, mas ele não disse nada. - Você nunca está presente. Não sei se você está tentando evitar sua casa, ou se acha que uma semana no hospital, uma semana de recuperação, foi luxo suficiente para a velha Maribeth.
 - Do que você está falando?
 - Você me prometeu uma bolha - disse ela, a voz falhando.
 - Estou tentando, Maribeth. Mas manter você na bolha, a casa em ordem e dar conta do trabalho não é uma proeza fácil.
 - Bem-vindo à porra de todo dia da minha vida." (página 53)

 Comprei "Quando eu parti" há poucas semanas, e como a embalagem chegou com uma marquinha de mofo, resolvei tirá-lo do plástico para limpar e não correr o risco de se espalhar para outros livros. Acabei lendo a primeira página, a segunda, e quando vi, já tinha lido vários capítulos. Foi meu primeiro contato com a escrita super fluida da autora.

 A obra nos faz refletir sobre como as mulheres podem ficar sobrecarregadas, tendo que cuidar dos filhos, da casa e ainda trabalhar fora, sem que a figura masculina da relação faça a sua parte das responsabilidades (recomendo que pesquisem por "quadrinho carga mental" no Google). Pode parecer cruel da parte de Maribeth se afastar dos dois filhos pequenos, mas ela não os deixou sozinhos no mundo, e sim com o pai e a avó; se fosse ao contrário, ninguém condenaria um pai por deixar os filhos com a mãe e a avó (um homem cis não pode gerar um bebê dentro de si ou amamentá-lo, mas depois dessa etapa, não há diferença entre o que o pai e a mãe podem fazer pelos filhos). Se fosse Jason no lugar dela, quem o condenaria por procurar um lugar mais tranquilo para se recuperar? Se bem que provavelmente ele não precisaria sair de casa, pois não se ocuparia de tantas obrigações como Maribeth. E se Maribeth tivesse ficado em casa, sua recuperação certamente seria prejudicada e ela poderia morrer, aí Jason e as crianças ficariam sem ela para sempre, então não tem como condenar a Maribeth por fazer o que era necessário para cuidar de si. A citação abaixo resume bem a situação de muitas mulheres, que dão tanto de si mas não tem garantia de receber apoio quando necessitarem:

 "Egoísta! Ela estava sendo egoísta? Tudo que fazia na vida era cuidar de todo mundo. Pela primeira vez precisava que cuidassem dela, e era isso que recebia?" (página 54)

 Além da reflexão sobre o papel feminino, temos outros pontos interessantes, como a preocupação de Maribeth sobre suas origens. Seu problema no coração poderia ser genético, inclusive sendo herdado pelos seus filhos, e ela resolve finalmente procurar sua mãe biológica, ocasião em que conhece Janice, que ajuda pessoas a se reencontrarem. Maribeth enfrenta muitas dificuldades alimentares também, ao passar a analisar o que realmente está consumindo em cada alimento. Temos reflexões sobre a amizade, sobre os caminhos diferentes que Maribeth e Elizabeth seguiram, como se distanciaram com a rotina. Maribeth conhece seus novos vizinhos, Sunny (de descendência indiana) e Todd (gay), amigos que moram juntos, e temos essa nova amizade de pessoas com idades diferentes. Stephen Grant é seu novo médico, e há algo estranho no fato de seu consultório parecer sempre tão vazio e ele cobrar tão pouco. O fato é que Sunny, Tod, Janice e Grant formarão a base de que Maribeth necessitava para se reencontrar, e eu nunca vou esquecer as risadas que dei com esse grupo tentando preparar o jantar de Ação de Graças!

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 A capa da edição é bonita, com o fundo branco, linhas coloridas e o título e o nome da autora na cor preta, ainda que não traga elementos que remetam à história. As páginas são amareladas, a revisão é boa e a diagramação é simples, com letras, margens e espaçamento de bom tamanho.

 Sobre o final, confesso que queria mais alguns capítulos para saber como as coisas ficariam daquele ponto em diante, mas pelo menos alguns personagens conseguiram reconhecer seus erros e estavam tentando melhorar. Não superou minha altas expectativas, mas foi uma leitura que me envolveu (me fez ficar tensa, rir, torcer pelos personagens; a descrição do infarto da personagem mexeu comigo, tantos sinais que o nosso corpo dá e nem percebemos...) e que traz temas reais com os quais certamente os leitores vão se identificar (problemas de saúde, busca pelas origens, sobrecarga de trabalho, amizades, relacionamentos, o que é realmente importante para viver...). Então, fica a minha recomendação de leitura e a sugestão para os futuros leitores fazerem o exercício de se imaginar na pele da protagonista.

 Detalhes: 308 páginas, ISBN-13: 9788501107657, Skoob, leia um trecho, tradução: Ryta Vinagre. Clique para comprar na Amazon (e-book disponível no Kindle Unlimited):

 E por hoje é só, espero que tenham gostado do post. Me contem: já leram esse ou algum outro livro da autora?

Até o próximo post!
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10 comentários

  1. Gostei muito do post e fiquei curioso em saber mais sobre a história, ainda mais em saber que no final pedimos mais. Anotei a indicação e quero ler a trama na íntegra.

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  2. Olá!
    Eu já vi muitos comentários positivos a respeito desse livro e ele já está na minha lista de leitura! Achei muito interessante a premissa de falar sobre o cotidiano de estar sobrecarregada com a casa e não ter tempo de descansar, esse tempo que a personagem ficou fora provavelmente levou a família a muitas reflexões, além de retratar o nossos diferentes papeis dentro da sociedade.
    Bjs.

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    1. As reflexões que o livro propõe são muito interessantes.

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  3. Oi Mari, tudo bem?

    Eu sou apaixonada na escrita da Gayle, já li alguns livros dela, e a mesma figura entre minhas autoras preferidas. O que mais gosto, é o fato dela retratar temas reais e que ainda não são tão abordados. Ainda não tive a oportunidade de ler "Quando eu parti", mas pela sua resenha é perceptível o quanto ela nos leva a refletir sobre o papel da mulher que se sobrecarrega com tantas atividades. Como você citou, se fosse o homem saindo de casa seria "ok", mas para a mulher é diferente. Já quero ler esta obra, creio que irei gostar.

    Beijos!

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    1. Se você é fã da autora, provavelmente vai mesmo curtir essa leitura ♥.

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  4. Olá!
    Eu tô pra esse livro já tem um tempo, mas aparecem sempre outros e acabo me esquecendo dele, foi ótimo saber sua opinião que só reforça a vontade de ler! Bjs

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  5. Olá! Eu até agora só li um título de autora, não foi um livro que me envolveu completamente, mas consegui entender sua mensagem. Pela sua opinião, acho que esse tem a mesma linha, mas o fato dos problemas serem mais adultos, me chamam a atenção para querer saber mais. Acredito que a autora quis mostrar exatamente isso: a fuga do sufoco que muitas vivem dentro dos seus próprios lares. É um tema bem forte, porque são as mulheres quem dupla e tripla jornada de trabalho. Obrigada pela dica!

    Bjoxx ♥

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  6. Sem dúvida nós mulheres somos sobrecarregadas, e não ajuda em.nada o fato de tomarmos em nossos ombros responsabilidades que poderia ser divididas com nossos parceiros. Coisa de criação mesmo. Eu conheço o livro, mas não tive oportunidade de ler.
    Bjs Rose

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  7. Olá,
    Eu estou agora bem arrependida por não ter adquirido esse livro, eu não sabia do que ele se tratava agora quero saber mais dessa protagonista que foi se cuidar fora de casa. E como a amizade dela com a Elisabeth ficou depois disso e do afastamento do trabalho

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