Resenha: livro "Nove Desconhecidos", Liane Moriarty

 Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje, venho comentar sobre minha experiência de leitura com "Nove Desconhecidos", livro escrito pela Liane Moriarty e publicado no Brasil em 2019 pela Editora Intrínseca.

 "O que aconteceu com Dalila depois de cortar o cabelo de Sansão? Frances teve vontade de procurar no Google. Como ia passar dez dias sem respostas instantâneas para perguntas aleatórias?" (página 113)

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 É janeiro e Masha receberá novos hóspedes em seu spa: a escritora Frances cujos romances não fazem mais tanto sucesso na era dos suspenses sangrentos; o professor Napoleon com a esposa Heather e a filha Zoe de vinte anos; o jovem casal Ben e Jessica; Lars, advogado viciado em spas; Carmel, mãe de quatro filhas e insatisfeita com o próprio corpo; e Tony, que Frances suspeita que seja um assassino em série. Essas nove pessoas passarão dez dias na Tranquillum House, entre massagens, meditações, sucos detox e "outras atividades". A promessa de Masha é que eles saim de lá transformados! Será?


 "- Eu também trouxe contrabando - confessou Zoe.
 - É mesmo? - indagou Frances, radiante. - Eles encontraram?
 - Não. Se vasculharam minha mala, deixaram passar. Embrulhei como se fosse um presente para os meus pais.
 - Genial." (página 120)

 Poderia ser um spa como todos os outros, não fossem as "outras atividades" que mencionei acima. O fato é que esses nove desconhecidos vão encontrar algo bem diferente do que esperavam quando fizeram a reserva na Tranquillum House, talvez devessem ter prestado mais atenção nas avaliações negativas do spa, se bem que não adiantaria muito, já que eles seriam os primeiros a participar de um projeto que a Masha e a equipe estavam desenvolvendo e que poderia ou não sair como o esperado.

 Foi o meu primeiro contato com a escrita da Liane e eu gostei muito da narrativa dela, há desde momentos de reflexão, passando por cenas super tensas, até partes onde é impossível segurar a risada. Pela sinopse e pelo que li sobre os outros livros dela, eu não sabia bem o que esperar da história ou para que "gênero" ela iria. Comecei suspeitando que teríamos algo mais tenso e sombrio, mas aí fui me envolvendo com a rotina dos hóspedes e relaxando, até que aconteceram algumas coisas que me deixaram prendendo a respiração e eu voltei a acreditar que algo terrível ocorreria no spa (se vocês lerem, descobrirão, rsrs).

 O que eu achei mais legal nesse livro foi a fase onde os personagens estão se conhecendo. É hilário como as primeiras impressões que uns têm dos outros podem ser totalmente equivocadas! Não vou falar muito sobre o que levou cada um dos nove hóspedes a procurar o spa, pois é bacana ir descobrindo ao longo da leitura (será que o Tony é mesmo perigoso como aparenta?).

 A história fala sobre temas bem reais e com certeza o leitor vai se identificar com alguma das vivências dos personagens. Há desde jovens de vinte e poucos anos como Zoe e Jessica, que vivem na era das redes sociais onde algumas pessoas ultrapassam os limites em busca de likes e seguidores, até Frances, que tem cinquenta e dois anos e vê suas amigas sendo avós e se aposentando enquanto ela ainda quer viver tanta coisa, mesmo com a menopausa lhe trazendo inúmeros incômodos. Temos personagem homossexual, temos personagem que cai num golpe na internet, que sofre com a dor do luto ou com um parente que sucumbiu ao vício em drogas trazendo sofrimento para toda a família. A obra também traz uma conscientização importante sobre o suicídio e a depressão, e fala sobre a insatisfação com o corpo, onde principalmente as mulheres detestam o corpo que lhes garante a existência por causa de padrões impostos pela sociedade.

 "Mulheres e seus corpos! A relação mais abusiva e tóxica de todas. Masha já tinha visto mulheres beliscarem a pele da própria barriga com tanto desprezo e brutalidade que deixavam hematomas. Enquanto isso, seus maridos alisavam carinhosamente as próprias barrigas, muito maiores, com um orgulho pesaroso." (página 93)

 A ambientação na Austrália é um diferencial, e a autora conseguiu me fazer imaginar bem os cenários. É interessante o fato de Masha ter vindo de outro país e como ela meio que achava que a vida tinha sido mais fácil para aqueles que nasceram na Austrália, como se a gente tivesse alguma escolha sobre o país onde vai nascer e como se nascer em determinado país fosse uma garantia de não enfrentar problemas (a depressão está aí para mostrar que não importa nem idade, nem classe social ou orientação sexual e que a gente não deve medir o sofrimento de alguém pela nossa régua).

 Frances é uma das personagens que tem mais destaque, e o fato de ela ser uma escritora e mostrar um pouco do meio editorial é muito interessante para os apaixonados por livros. Só para deixar os nomes registrados, Yao e Delilah são os assistentes de Masha que mais aparecem na história, mas esse é um daqueles livros onde os detalhes são super importantes! Se prestarmos atenção, conseguiremos desvendar algumas coisas bem antes dos personagens.

 A história é narrada em terceira pessoa e os capítulos focam-se cada hora em um personagem. A autora conseguiu trabalhar bem com o grande número de personagens, os nove hóspedes e os funcionários da clínica, mas eu demorei um pouquinho a gravar, por exemplo, quem era o Lars e quem era o Tony. Nem todos os desfechos dos personagens podem sair como os leitores querem, mas se pensarmos em tudo o que eles passaram na Tranquillum House, até que o saldo foi satisfatório.

 "(...) Poderia ter viajado. Poderia ter se drogado. Por que não tinha se drogado, simplesmente? Que maravilha seria ter um filho que tomava decisões ruins, mas não decisões irreversíveis; um filho que usasse drogas, que traficasse drogas até, que fosse preso, que saísse dos trilhos. Napoleon o teria colocado de volta nos trilhos." (página 209, uma reflexão sobre como "enquanto há vida, há esperança")

 "No momento, o detetive austero se embriagava com uísque puro malte em um bar enfumaçado e uma moça de pernas compridas e com metade da sua idade sussurrava em seu ouvido, sem travessão (porque, afinal, aquela era uma ficção literária potente): quero muito trepar com você.
 Frances, que chegara ao limite, jogou o livro longe. Vai sonhando, mocinho!
 Ela se deitou com as mãos entrelaçadas no peito e lembrou de seu primeiro romance que tinha um bombeiro pianista que recitava poemas. Que meigo o autor de óculos imaginar que mulheres de vinte anos sussurram 'Quero trepar com você' no ouvido de homens de cinquenta e tantos anos. Ela daria tapinhas consoladores no ombro dele quando o visse em algum festival.
 Mas vai saber... Talvez jovens de vinte e poucos anos fizessem aquilo o tempo todo." (página 131)

 "Ela se lembrou de uma viagem de carro que fizera muito tempo antes com um namorado. Tinham se deparado com uma ema moribunda no meio da estrada, atropelada por um carro. Frances ficara sentada no banco do carona, uma princesa passiva, enquanto o namorado saiu do veículo e matou a pobre ema com uma pedra. Um golpe forte na cabeça. Quando voltou ao banco do motorista, ele estava suado e eufórico, um menino da cidade empolgado com o próprio pragmatismo cheio de compaixão. Frances nunca conseguiu perdoá-lo pela euforia suada. Ele gostara de matar a ema.
 Ela não sabia se seria capaz de matar um animal moribundo, mesmo agora, aos cinquenta e dois anos, com estabilidade financeira e velha demais para ser princesa." (página 19)

 "Frances tinha a impressão de estar só entrando no clima da coisa enquanto de repente as pessoas ao seu redor já começavam a ter atitudes de velho: ganhar netos, se aposentar, se mudar para uma casa menor, morrer (não em acidentes de carro ou avião, mas morrer tranquilamente durante o sono). (...)
 Não deveria ter ficado surpresa ao descobrir que a substituta de Jo era uma criança, porque elas estavam dominando o mundo. Para onde quer que Frances olhasse, havia crianças: crianças sentadas com seriedade atrás de escrivaninhas novas, controlando o tráfego, organizando festivais de escritores, tirando sua pressão, cuidando de seus impostos e medindo seus sutiãs." (página 37, é engraçado ver pessoas que eu conheço desde que elas não sabiam nem andar ainda ocupando cargos de "adulto")

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 A edição traz uma capa simples, com a imagem que remete ao spa, com nove pedrinhas coloridas  e de formatos diferentes empilhadas (assim que lemos o título do livro, eu e minha sobrinha fomos contar para ver se havia nove mesmo, rsrs), páginas amareladas, poucos erros de revisão e diagramação com letras, margens e espaçamento de bom tamanho.

 "Ela ousou olhar para cima, e as estrelas eram milhões de olhos atentos em busca de violações de regras na sua história: sexismo, etarismo, preconceito, tokenismo, capacitismo, plágio, apropriação cultural, discriminação contra gordos, contra mulheres, contra vegetarianos, contra agentes imobiliários. A voz da Internet Todo-Poderosa soou no céu: Que vergonha!
 Frances baixou a cabeça.
 - É só uma história - sussurrou ela.
 - É o que estou tentando dizer para você - rebateu Gillian." (página 247)

 "Nove Desconhecidos" foi uma leitura da qual eu gostei e que recomendo, especialmente para quem procura uma história imprevisível e com personagens interessantes. Recebi o livro da Intrínseca para participar do projeto Cubo Mágico Blogs, onde eu e os blogs literários (clique nos nomes para visitar) Eu Insisto!, Barda Literária, Uma Dose De Cacto e Tudo Que Motiva faríamos uma leitura coletiva, então fiquem ligados que também vai ter resenha nos outros blogs participantes e vocês vão poder conferir mais opiniões sobre essa história da Liane.

 Por hoje é só, espero que tenham gostado do post. Me contem: já leram esse ou outro livro da autora? O que acham que vai rolar no spa?

Até o próximo post!

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14 comentários

  1. Oi, adorei sua resenha! Não li esse livro e nenhum dessa autora, mas gostei de conhecer a história através de sua resenha. Abraços!

    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com

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  2. Ok, confesso que ao olhar para a capa não imaginei que pudesse me interessar pelo livro, maaaaas mudei completamente de opinião ao ler sua resenha. Agora quero conhecer cada detalhe desta história!

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  3. Eu amei a ideia de um advogado viciado em spas, não me pergunte porque, hahahaha. Mas sério, parece um livro super curioso, fiquei morrendo de vontade de ler.
    Beijos
    Mari
    Pequenos Retalhos

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  4. Eu só li uma obra da autora (O Que Alice Esqueceu), e adorei a escrita dela. Quero ter mais contato. Principalmente com outras obras que muitas amigas me recomendam!!! Só preciso de tempo e de vida pra isso hahahaha
    Sobre esse livro, elas amaram. Leram em grupo. Eu deveria ter lido junta!!!!
    Abraços

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  5. Oi Maria, eu tenho este livro na versão do clube Intrínsecos. Nunca li nada da autora, mas ela já está na minha meta de leitura. Este livro parece ser bem divertido. adorei tua resenha.
    Bjos
    Vivi
    http://duaslivreiras.blogspot.com/

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  6. Oiii Maria

    Eu nunca li nada da Liane e achei esse bem interessante, justamente por conta da história imprevisivel, que surpreende e faz rir e deixa tenso, gosto de livros que mexem com a emoção do leitor e mesclam sentimentos. Dica anotada.

    Beijos, Alice

    www.derepentenoultimolivro.com

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  7. Olá!! :)

    Eu confesso que nunca tinha ouvido falar deste livro, ainda bem que partilhaste a tua opiniao!

    Enfim, nao fiquei particularemnte curioso com a premissa (e a capa nao me chamaria tambem); ainda assim, acho otimo que exista tanta imprevisibilidade!!

    Boas leituras!! ;)
    no-conforto-dos-livros.webnode.com

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  8. Oi, tudo bem? Não conheço a escrita da autora mas achei a premissa muito interessante. Inclusive li algumas críticas bem positivas sobre o livro. Será que ficar nesse ambiente fará com que essas pessoas mudem? Qual será o aprendizado durante esse período? Espero ler em breve. Um abraço, Érika =^.^=

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  9. A primeira vez que vi esse livro eu imaginei que ele fosse de autoajuda kkkkk mas gostei bastante da premissa dele e saber a sua opinião me deixou ainda mais interessada.

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    1. Essa capa minimalista (apesar de ter a ver com spa) lembra autoajuda né?! rsrs

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  10. Acredito que seja a primeira resenha que leio desse livro e eu gostei. Gostei por falar de temos reais e também por ser uma história imprevisível. Vou, sem dúvidas, adicionar na minha listinha ;)

    Beijos,
    Blog PS Amo Leitura

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  11. eu ainda não tive oportunidade de ler nada da autora, mas a adaptação do livro dela é simplesmente fantástica, e ela tem vários livros, preciso ler algo dela pra ontem!
    Esse é o que eu mais quero ler, porque todo mundo que eu vejo falando dele diz que é ótimo, amei sua resenha também!

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  12. Olá, tudo bem?

    Achei a premissa bem legal.
    Acho que desfechos literários são questões complicadas, vão agradar uns, outros não, ainda mais quando vai ser de personagem em personagem.

    Fiquei curiosa, confesso, se o cara era assassino ou não. Kkkk

    Dica anotada! Aliás, curti o projeto de leitura.

    Beijo.

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  13. OOOiiiii,

    Tenho muita vontade de ler esse livro e sua resenha me deixou animada para a leitura!!! Espero conseguir ler em breve!

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