Resenha: livro "A Devolvida", Donatella Di Pietrantonio

 Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje, venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "A Devolvida", escrito pela italiana Donatella Di Pietrantonio e publicado no Brasil em 2019 pela Faro Editorial. Vocês podem apertar o play para conferir um vídeo sobre o livro ou continuar lendo para conferir a resenha escrita e com citações:

 "- Não sou um pacote, vocês têm de parar de me mudar de um lugar para o outro." (página 99)

 A história se passa na Itália, em 1975, e é narrada por uma garota de treze anos (cujo nome não é mencionado). Certo dia, seus pais lhe dizem que ela é adotada e que será devolvida para a família biológica que a quer de volta.


 De uma hora para outra, a protagonista se vê saindo de uma casa próxima à praia, onde era filha única e tinha uma boa situação financeira, e indo para outra cidadezinha, para morar numa casa pequena onde já vivem o pai e a mãe biológicos, uma irmã e quatro irmãos (se não me engano, o nome de um dos irmãos também não é mencionado), bem mais pobres e que definitivamente não sabem como demonstrar afeto.

 "Estou certa de que a senhora Bice intuiu no primeiro olhar que o que me faltava não era comida. Nos anos que passamos juntas, entretanto, ela não se ofereceu como substituta, limitou-se a me nutrir com afeto, a apreciar meu empenho nos estudos, a inventar o ritual do chá de camomila depois do jantar para me reconciliar com o sono, sempre difícil de pegar. E já era muito mais do que lhe fora pedido. (...) Até hoje sou grata a ela, mas não a visitei depois do exame final do ensino médio. Falta-me o hábito de voltar aos que deixei." (página 123)

 Acompanharemos a personagem tentando se adaptar nessa nova dinâmica familiar, enquanto procura entender o que aconteceu para que ela fosse devolvida: será que sua mãe adotiva estava doente, será que ela fez alguma coisa que desagradasse os antigos pais, será que eles viriam lhe buscar algum dia?

 "E se ele tivesse decidido me mandar embora? Nunca havia imaginado essa possibilidade. Mas qual podia ser a minha culpa? Contaram-lhe de um beijo no corredor da escola? Muito pouco para se livrar de uma filha. Mesmo ainda tão jovem, nas fantasias agigantadas da noite, eu compreendia. Se alguma vez errei, não me lembrava." (página 88)

 É um livro curto, com apenas 160 páginas, com capítulos pequenos e uma escrita fluida. Poderia ser uma leitura feita em um dia, mas eu li em mais dias por dois motivos. O primeiro foi o fato de eu estar gostando muito da trama e não querer me afastar logo dos personagens. O segundo foi a forte carga emocional da história.

 "A Devolvida" foi um livro muito emocionante, a autora nos faz visualizar com muita clareza os sentimentos da protagonista: a mágoa, a saudade e a esperança em relação à mãe adotiva, o sentimento de não pertencer à casa em que agora está, o carinho pela irmã Adriana e por Giuseppe, o irmão menor. Mais ou menos na metade da obra, temos uma cena relacionada a um personagem secundário que é uma das coisas mais tristes e fortes que já li, e que não sei se algum dia esquecerei. E o livro segue nos trazendo pequenas emoções até o fim.

 A devolução da protagonista é uma história que poderíamos ver pelo ponto de vista de vários personagem: dos pais biológicos cujo motivo para entregar a filha não é inédito, do irmão mais velho que não vê aquela garota como irmã e por isso tem comportamentos questionáveis, da irmã mais nova que pega para si a responsabilidade de cuidar da recém-chegada, da mãe adotiva que era rica mas continuava sendo uma mulher dos anos setenta. A autora escolheu nos contar a história pelos olhos da menina que desejava saber a verdade sobre as escolhas que, até então, fizeram para sua vida.

 "- Não, não, ela não! - Era o grito de Adriana que acabava de chegar com Giuseppe. Não pude escutar o barulho da porta. - Agora pode deixar que eu limpo, não precisa bater nela também - insistiu, imobilizando o braço da mãe, na tentativa de defender a minha unicidade, a diferença entre e mim e os outros, ela incluída. Nunca entendi o gesto de uma menina de dez anos que apanhava todo dia, mas queria salvar o privilégio que eu gozava, a irmã intocável chegada há pouco." (página 80)

 Eu gostei da escrita da autora e da forma como ela me fez visualizar as cenas com muita clareza, além de mostrar a cultura, os costumes e a época em que a história se passa, mesmo sem ser muito descritiva.

Capa de uma edição estrangeira

 A edição tem uma capa que considero bem bonita, a parte interna da capa é vermelha, não me lembro de ter encontrado erros de revisão, as páginas são amareladas e a diagramação tem letras, margens e espaçamento de bom tamanho.

  Enfim, "A Devolvida" foi um livro que gostei muito, me cativou da primeira à última página, me fez torcer pela personagem, sofrer por alguns acontecimentos, sorrir ao ver sua amizade com a irmã e algumas outras mulheres da trama, e ficar muito curiosa para entender os motivos de seus pais adotivos e biológicos para fazerem o que fizeram. Fica a minha recomendação para que leiam "A Devolvida", mas estejam preparados para uma história forte e marcante.

 Mais algumas citações:

 "Eu não conhecia a fome, e morava como uma estranha entre esfomeados. O privilégio que portava comigo da vida de antes me distinguia, isolava-me a família. Eu era a devolvida. Falava outra língua e não sabia mais a quem eu pertencia." (página 94)

 "Com seu jeito simplório, pedia a ela para gostar de mim como uma filha, hoje consigo acreditar nisso." (página 123)

 "Minha irmã. Como uma flor improvável, crescida em um pequeno monte de terra grudado numa rocha. Com ela, aprendi a resistência. Hoje somos menos parecidas nos traços, mas o fato de termos sido jogadas no mundo tem o mesmo significado para nós duas. Na cumplicidade, nos salvamos." (página 158)

 "Aos meus olhos, ambos pareciam eternos, a velha e o carvalho.
 Disseram-me que uma vez ela estivera com a morte... Tinha ficado com ela muitos dias, mas não pôde suportar a solidão e voltou." (página 111)

 "Eu fiquei órfã de duas mães vivas. Uma me entregou quando eu ainda tinha seu leite na língua; a outra me devolveu quando eu tinha treze anos. Eu era filha de separações, de laços de parentesco falsos ou omitidos, de distâncias. Não sabia mais de quem eu provinha. No fundo, até hoje não sei." (página 106)

 "Com o tempo, perdi também a ideia confusa de normalidade e, hoje, ignoro de fato qual lugar seja o de uma mãe. Isso me falta, do mesmo modo que pode faltar saúde, proteção, certezas. É um vazio persistente, que conheço, mas não supero. Olhar para o nosso interior dá vertigem. É uma paisagem desoladora que à noite tira o sono e fabrica pesadelos no pouco que deixa. A mãe que nunca perdi é a mãe dos meus medos." (página 100)

 Detalhes: 160 páginas, leia um trecho, ISBN-13: 9788595810891, tradução: Mario Bresighello, Skoob. Curiosidade: a obra teve uma edição para os assinantes da Tag Inéditos. Clique para comprar na Amazon:


 Por hoje é só, espero que tenham gostado do post. Me contem: já conheciam o livro ou a autora?

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Até o próximo post!

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