Olá, pessoal! Como estão? Na resenha de hoje, venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "Coração Mecânico", escrito pelo Lucas Vieira e publicado pela Editora Xeque-Matte em 2018.
"A Cidade não nos mantém seguros do que há no lado de fora. A Cidade nos mantém presos. Ela teme o que há depois dos muros, mas nós não devemos temer."
A narração dessa distopia é intercalada entre dois personagens: Rafael, que era um guarda da Cidade Mecânica, e Artur, um membro dos chamados "Selvagens", pessoas que viviam do lado de fora dos muros da Cidade Mecânica, em Ruínas, precisando se mudar de vez em quando em busca de um lugar melhor para morar.
"Nós, Mecânicos, somos aperfeiçoados conforme vamos crescendo. Partes de ferro são introduzidas em nosso corpo, substituindo alguns membros aqui, outro ali. Assim, tornamo-nos perfeitos: fortes e resistentes.Nossa primeira troca é o coração. Substituem nossos corações por corações mecânicos, porque os corações comuns não suportam o ambiente. Durante as guerras, uma grande radioatividade se acumulou no ar, em todo o mundo. A primeira operação pela qual passávamos, era a troca de nossos corações por um coração mecânico, que era responsável por liberar uma substância que nos deixava imunes à radiação e, consequentemente, anestesiava algumas emoções e grande parte de sentimentos."
Por causa da radiação deixada por guerras, as pessoas precisaram substituir alguns de seus órgãos por peças mecânicas, como foi o caso de Rafael, que tinha um coração de ferro. Além disso, devido aos ataques dos selvagens que a cidade sofria, algumas pessoas eram "reiniciadas", tendo suas lembranças apagadas no processo. Rafael passou por essa reinicialização após uma invasão dois anos antes.
"— Eu não acho que a Cidade Mecânica está escondendo algo de nós, eu tenho certeza."
Juliana era amiga de Rafael e plantaria nele a desconfiança de que a Ordem Mecânica que governava a cidade estava escondendo coisas sobre o passado de Rafael. A partir daí, Rafael se veria envolvido em mistérios sobre o seu passado e os segredos da Cidade Mecânica.
Paralelamente à história de Rafael, acompanharemos a vida de Artur nas Ruínas, precisando sobreviver a ataques, viajando pelo deserto, etc.
"— Desde criança escuto sobre as Cidades Exteriores. Grandes cidades construídas e movimentadas por humanos como nós, ela são seguras, e estão ao Sul. Há alguns pontos durante o deserto que poderemos ficar durante algumas noites, e logo depois do deserto poderemos encontrar outras Ruínas como a nossa."
Eu havia lido uma resenha de "Coração Mecânico" anos atrás e, desde então, tinha colocado o livro nos desejados pela premissa (e confesso que pela capa bonita também). Quando ele entrou no Kindle Unlimited, peguei o e-book para ler. Durante a leitura, minha curiosidade era grande para saber como Rafael e Artur iriam se encontrar, e esse encontro foi surpreendente para mim, com certeza um ponto positivo (assim como a representatividade LGBT+) .
Por outro lado, apesar de a história ter me prendido até certo ponto, acho que a trama poderia ter sido melhor desenvolvida. O livro é o primeiro de uma série e tem pouco mais de 100 páginas, onde são apresentados os mecânicos, os selvagens, e ainda tem as anomalias, os amaldiçoados e aberrações, acho que foram muitas "espécies" abordadas em pouco espaço. O cenário distópico é super interessante, mas pode ficar confuso de ser entendido por alguém que não tenha lido muitas distopias, pois algumas explicações necessárias demoram para ser dadas. E o final é bem aberto, com um epílogo inserindo coisas totalmente novas na trama.
"— E o que seria exatamente anomalias? — perguntei.
— Não faço a mínima ideia. Mas dizem nos arquivos que são extremamente perigosas — disse Juliana, mudando o tom ao dizer ao dizer “extremamente”."
"— Suas caras são deformadas, parecem que são derretidas. Eles têm partes mecânicas por todo o corpo, algumas são até mesmo enferrujadas. E eles... eles mordiam e arrancavam parte da pele das pessoas. As aberrações estavam acompanhadas por dois Mecânicos, normais, eles ficavam..."
Enfim, valeu a pena ter lido para matar a curiosidade, talvez leitores mais aficionados por fantasia, ficção científica, distopia e steampunk possam curtir mais a leitura do que eu. Fico na torcida para que a obra passe por uma nova revisão e que o enredo seja melhor desenvolvido nos próximos volumes, pois a ideia para a trama é boa.
Detalhes: 165 páginas, ISBN-13: 9788593344107, Skoob. Hoje não encontrei nem o físico no site da editora nem o e-book na Amazon, mas fiquem de olho na página do autor para saber se "Coração Mecânico" voltar a ficar disponível para venda.
Mais algumas citações:
"As pessoas constroem seus próprios destinos com suas escolhas, há quem diga que elas simplesmente estão destinadas a fazer essas escolhas, talvez seja verdade, mas é necessário lembrar que toda escolha tem sua consequência, e nada jamais será apagado, nem mesmo esquecido."
"Angústia, desespero, medo, frustração, decepção, pavor e ansiedade… tudo crescia em meu peito. E então, eu percebi que não deveria sentir isso. O coração mecânico anula emoções e sentimentos fortes. Mas eu sentia, e crescia contra meu peito e minha garganta."
"O mundo muda, as pessoas mudam… é por isso que também é necessário mudar as regras."
"As Ruínas não toleram amaldiçoados, eles são mortos, pois “são criaturas ruins, de outro mundo”."
"Eu possuía um coração de ferro, que anualmente tinha manutenções, era ajustado, e recarregado com novas doses da substância, que continuaria ali, liberando e bombeando em meu sangue por meses até a próxima manutenção."
"Um governo só cai para outro se levantar"
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