Olá pessoal, tudo bem? No post de hoje, venho comentar minha experiência de leitura com o livro "Confissões do Crematório", escrito pela Caitlin Doughty e publicado pela DarkSide Books em 2016.
"Escrevi minha tese sobre bruxas medievais acusadas de assarem bebês mortos e moerem seus ossos. Um ano depois, me vi literalmente assando bebês mortos e moendo seus ossos. A tragédia das mulheres acusadas de bruxaria era que elas nunca moeram de fato os ossos dos bebês para ajudá-las a voarem para um sabá do Diabo à meia-noite. Contudo, foram injustamente mortas por esse motivo ainda assim, queimadas vivas na fogueira. Eu, por outro lado, moí ossos de bebês. Várias vezes, ouvi agradecimentos dos pobres pais por meu cuidado e minha preocupação. As coisas mudam." (página 106)
Vocês já imaginaram como é trabalhar numa funerária? Caitlin Doughty viveu boa parte de sua vida no Havaí, e, depois de se formar num curso de história medieval, foi para os Estados Unidos. Lá, conseguiu emprego numa casa funerária, que, além de serviços como embalsamento, também oferecia cremação. Caitlin era a responsável por operar os fornos crematórios, que transformam os corpos em cinza (depois os ossos precisavam ser triturados em outra máquina), além de ajudar na preparação dos mortos (leia-se: barbeá-los, vesti-los, banhá-los) quando seus parentes gostariam de um velório e também buscar os corpos (ou as partes que sobravam deles) nos hospitais, centros de pesquisas ou em suas residências.
No livro, a autora nos conta sobre a sua motivação para trabalhar nessa área, assim como fala sobre a relação de diferentes culturas, em diferentes épocas, com a morte e o destino dos corpos sem vida. Dá para perceber que o ramo funerário é um mercado com muitas semelhanças com outras áreas, inclusive nas formas de "manipular o consumidor" para obter um lucro maior que alguns empresários usam.
Eu não sei como é na cidade de vocês, mas na minha, que é pequena, já vi muitas vezes o dono da funerária daqui e a família dele serem causadores de medo e vítima de preconceito, quando, na verdade, ele executa um trabalho honesto e de extrema importância. Por isso, acho que o livro da Caitlin e o fato de ela falar sobre um assunto que tantas pessoas evitam, é de extrema importância para nos tirar da ignorância a respeito da morte e nos ajudar a tratar o tema com mais naturalidade, afinal, todos nós vamos morrer um dia, né?! E o que será feito com o nosso corpo?
"Confissões do Crematório" é um livro pequeno, com cerca de 250 páginas e capítulos não muito longos. Ele pode ser uma leitura rápida, mas também pode causar alguns incômodos a quem tem estômago fraco. Como a própria autora avisa no início, há descrições claras de processos de cremação, embalsamento (o que mais me embrulhou o estômago) e de corpos em diversos estados de decomposição. Mas é a descrição da realidade, e por isso merece ser lido. Felizmente, não há fotos nem é possível sentir os cheiros descritos!
"Quatro mil anos atrás, os Vedas hindus determinaram que a cremação era necessária para que a alma aprisionada pudesse ser libertada do corpo morto impuro. No momento em que o crânio se abre, a alma é libertada e voa para o mundo dos ancestrais. Como pensamento é lindo, mas se você não está acostumado a ver um corpo humano queimar, a cena pode ser quase infernal." (página 32)
Apesar de me proporcionar uma noite de sono não muito tranquila (eu fui dormir antes do meu marido, e acabei acordando meio perdida quando ele foi se deitar, e senti a necessidade de confirmar verbalmente que era ele que estava ali do meu lado), o livro me fez refletir sobre a morte e os processos funerários, e acho que me sinto mais preparada quando chegar a hora de passar por essas situações. Obrigada, Caitlin!
A escrita da autora é muito boa, proporcionando uma leitura fluida. Ela soube unir muito bem as suas vivências pessoais com o que ela pesquisou sobre o assunto (no final do livro há uma lista de referências de suas pesquisas), assim como conseguiu me fazer ficar interessada sobre sua rotina nos seis primeiros anos em que trabalhou na indústria funerária dos Estados Unidos e sobre os caminhos que ela decidiu trilhar conforme o trabalho ia tendo impacto em sua vida.
"Cada cultura tem rituais de morte capazes de chocar os não iniciados nela e desafiar nossa teia de significados pessoal, desde a carne torrada da tribo Wari' ao monge tibetano destruído pelo bico dos abutres até o longo trocarte prateado perfurando os intestinos de Clif. Contudo, existe uma diferença crucial entre o que os Wari' faziam e o que os tibetanos fazem com seus falecidos em comparação ao que Bruce fez com Cliff. A diferença é a crença. Os Wari' acreditavam na importância da destruição total do corpo. Os tibetanos acreditam que um corpo pode alimentar outros seres depois que a alma o deixou. Os norte-americanos praticam o embalsamento, mas não acreditam nele. não é um ritual que nos traz consolo; é uma cobrança adicional de 900 dólares na conta da funerária." (página 94)
Mais do que o tema, a edição da Darkiside (e o fato de eu ter comprado o livro em uma super promoção [com cupons de desconto, foram 5 livros por R$50,00]) foi o que me motivou a adquirir a obra. Eu gosto da combinação das cores vermelho, branco e preto. A capa é dura, com baixo-relevo em algumas áreas, na lombada há apenas o logo da editora e alguns desenhos. A lateral das páginas é vermelha, e há algumas folhas pretas e ilustrações. As demais páginas são amareladas, a diagramação tem letras, margens e espaçamento de bom tamanho e a obra está bem revisada. Lá no canal tem um vídeo onde mostro mais detalhes da edição, clique para assistir: PREVIEW: livro "CONFISSÕES DO CREMATÓRIO", Caitlin Doughty, Darkside Books.
Enfim, fica a sugestão para quem quer saber mais sobre os ritos e os procedimentos funerários. Mesmo que você ache que tem estômago fraco, quem sabe você lê e descobre que consegue vencer seus medos, e de quebra ainda aprende um pouco sobre o tema.
"Olhar diretamente nos olhos da mortalidade não é fácil. Para evitar isso, nós escolhemos continuar vendados, no escuro em relação às realidades da morte. No entanto, a ignorância não é uma benção - é só um tipo mais profundo de pavor." (página 13)
Por hoje é só, espero que vocês tenham gostado da resenha. Me contem: já conheciam o livro ou a autora? Quem tem vontade de ler “Confissões do Crematório?
Até o próximo post!
A Darkside tem edições maravilhosas. Eu amo, apesar de muitos não fazerem meu estilo, como esse. Não leria, mas adorei sua resenha, foi super completa :D
ResponderExcluirwww.vivendosentimentos.com.br
Olá, Maria.
ResponderExcluirApesar de ser da Darkside e ter uma edição maravilhosa o assunto é um que não me interessa muito. Eu nunca entrei em um cemitério nem em um crematório. E confesso tenho medo até de chegar perto hehe.
Prefácio
Oi Maria
ResponderExcluirEstou doida pra ler este livro!
A edição esta linda, a DarkSide capricha muito!
Eu adoro este tema...rs e esta na minha lista, só esperando baixar o preço...kkk
Que promoção maravilhosa vc pegou!!Adorei
Bjks mil
www.maeliteratura.com.br
Esse livro está na minha listinha de desejados!
ResponderExcluirA DarkSide sabe como ganhar e prender leitores, viu? rs
Beijos
www.saidaminhalente.com
Oi, Mari! Tudo bem? Não tenho interesse em ler o livro, mas tenho que confessar: acho essa edição divina! *--*
ResponderExcluirAbraço
http://tonylucasblog.blogspot.com.br/
Esse livro é muito bom. Já estou curioso para ler a próxima obra da autora!
ResponderExcluirAbraços
Blog do Ben Oliveira
Mari,
ResponderExcluirEu comprei esse livro depois do suicídio de um sobrinho de meu marido. Nós fomos ao seu funeral em um crematório. Eu confesso, nunca tinha entrado em um crematório e fiquei muito impressionada, não sei se com o fato de ser desconhecido para mim ou por causa do peso daquele local, de imaginar que alguém vai ser incinerado, já que essa não é a nossa cultura aqui no Brasil, ou não ter sido por muito tempo. Estamos acostumados a enterrar os entes queridos de forma tradicional, em covas abertas em cemitérios. Depois, pensar o que fazer com as cinzas... etc...
Eu tive uma idéia errada a respeito do livro, pensei que seria um livro que insinuaria terror, ou medo, mas o assunto foi abordado de uma forma tão centrada e tão respeitosa. De maneira suave a autora falou da morte e dos processos que giram em torno dela. Dá para passar um filme na cabeça da gente, não é? Adorei o livro. Superindico!
Abraços,
Drica.