Olá pessoal, tudo bem? O livro da resenha de hoje é "Neblina", escrito pela Adalgisa Nery em 1972, a obra foi relançada em 2016 pela editora José Olympio.
"Só uma morta conhece o peso do sofrimento que um corpo vivo carrega a cada minuto da sua existência com arrependimentos." (página 39)
Em Neblina, conheceremos uma narradora protagonista que não conta seu nome, assim como não conta o nome das pessoas com quem mora: o marido, uma irmã mais nova, o pai e a mãe. A obra começa quando o corpo da narradora está morto, mas não o seu espírito, e lhe surge uma segunda cabeça falante no ombro. Aí voltamos no tempo, para descobrir como foram os últimos anos da narradora.
Ela ficou doente, não se comunicava verbalmente com ninguém, estava muda. E sendo considerada uma inválida pela família por causa da sua mudez sem soluções médicas, ela foi sendo deixada de lado, afastada do convívio com a família, isolada. Foi mudada para um quarto escuro na casa, para que o seu antigo quarto fosse alugado para que a família gananciosa tivesse mais dinheiro.
"Sentia-me, não apenas um peso para a minha família, mas principalmente para mim mesma. Sabia que me suportavam, mas que não me amavam. Principalmente o meu marido. Ninguém ama o que tolera. O ambiente que me cercava era o da tolerância." (página 49)
Porém, a nova inquilina se interessou pela protagonista, passando a visitá-la frequentemente e, com o tempo, passou a levar também os seus amigos para que a vissem e conversassem com ela, pois a protagonista falava em alguns momentos. Creio que esteja aí o ponto que me descontentou com a trama: a protagonista não estava muda, ela simplesmente não queria falar, tinha momentos de apatia em que não tinha vontade de se comunicar (não sei se por já saber da sua futura morte), e por isso deixava que sua família fizesse o que quisesse com ela, não tentava se defender. Toda a história poderia ser diferente se ela quisesse viver, quisesse retomar as rédeas da sua vida, mas ela não queria.
A história de vida de Adalgisa Nery é admirável, e por isso quis ler seu livro, mas não é ela quem está em foco nessa resenha e sim a trama que ela escreveu, uma história que não me cativou, onde eu não encontrei uma mensagem que me interessasse enquanto leitora. No início, até me revoltei com a forma desrespeitosa como a família da narradora a tratava, como se não fosse mais uma pessoa, aquela família só se interessava em causar inveja nos vizinhos, em ter bens materiais para aparecer, não era aparecer no sentido de ser amada ou admirada pelos outros, mas no sentido de ser invejada; só que ficou muito repetitivo, não há uma mudança ou uma evolução nos personagens, é sempre a mesma coisa do início ao fim!
Felizmente, é um livro curto, e por isso eu não o abandonei, além de eu ser uma pessoa persistente que acredita que até no último parágrafo pode ter uma reviravolta que faça valer a pena a leitura, o que não foi o caso em Neblina. Tem alguns pensamentos sobre a existência humana e a divina que podem ser interessantes, embora repetitivos (como já disse anteriormente). Adalgisa Nery é famosa por sua poesia, e talvez eu tenha encontrado em "Neblina" um toque excessivo de poesia intimista que não busca um sentido global, e sim uma beleza estética ou autobiográfica, sobrando pouco espaço para a prosa e para a narrativa.
Enfim, o que quero dizer é que, ao ler "Neblina", foi como se estivesse posta uma camada de neblina na minha frente, camada que me impediu de ver se há realmente algo admirável na obra, mesmo com os textos complementares presentes na edição. Leio em busca, primeiramente, de entretenimento, coisa que não encontrei na leitura. O que não impede que outros leitores gostem da obra, é apenas uma opinião pessoal.
Sobre a edição: uma capa linda e chamativa, não encontrei erros de revisão, as páginas são amareladas e a diagramação tem margens, espaçamento e letras de bom tamanho.
"O presente tem a importância débil de servir de elo no processamento do que foi e do que será." (página 26)
Detalhes: 208 páginas, ISBN-13: 9788503012676, Skoob. Onde comprar online: Submarino, Saraiva, Americanas.
Achei interessante toda premissa da obra, mas a repetição é algo com que eu não consigo lidar numa leitura. Não sou persistente, pelo contrário, se um livro me parece monótono eu dou espaço a outra leitura. Preciso melhorar isso, haha! De qualquer forma, muito boa a resenha. Abraços, e até mais.
ResponderExcluirDefinitivamente não é um livo que vou pegar o nome. Cansaria de repetição, e já sabendo disso, prefiro pular.
ResponderExcluirBjs!
Oii... Já li algumas frases da autora que me chamaram atenção, mas não conhecia o livro. Gostei da tua resenha, principalmente pela sinceridade nas palavras. Confesso que o fato da protagonista ter desistido de lutar pela vida, me faz decidir não ler o livro :/ ... Também sou como você, persistente na leitura, mas é ruim quando vamos esperando por "algo mais" até a ultima página e isso não acontece. Bjss
ResponderExcluiruma pena vc não ter gostado da leitura... uma miga minha leu e recomendou, e como nossos gostos são super parecidos, vou pela dica dela, pois certamente irei gostar... pena que não rolou com vc...
ResponderExcluirbjs...
Que curiosa, sua resenha tem um discurso ideológico Behaviorista. Eu apreciei muito essa obra o simbolismo entre o mudo da personagem e a neblina é genial, lógico que é um livro de uma carga emocional forte e um viés introspectivo, que pode fazer o leitor oscilar entre caos e cosmo em poucas linhas.
ResponderExcluirMai, infelizmente a história não me interessou, menos ainda depois do seu ponto de vista.
ResponderExcluirAchei meio chato, é uma pena que tenha se perdido.
Ainda mais com essa pegada de poesia intimista é que eu fugiria mesmo.
Lisossomos
Olá, adorei a resenha. Não conhecia a obra e achei bem interessante o enredo.
ResponderExcluirPena que você não curtiu tanto a leitura.
Abraços