Olá pessoal, tudo bem? No post de hoje, venho comentar sobre a minha experiência de leitura com o livro "Esposas & Filhas", escrito pela romancista inglesa Elizabeth Gaskell; originalmente publicado em uma revista no ano de 1865, a história chega ao brasil em 2016 pela Editora Pedra Azul.
A história se passa numa cidadezinha chamada Hollingford, onde mora Molly Gibson, a filha do médico e órfã de mãe. Quando a garota chega na adolescência, o pai dela decide que precisa de uma mãe para a menina, pois com sua jornada longa de trabalho e por ser homem, acredita não poder oferecer a devida educação e o aconselhamento que a menina precisa. Como médico, Mr. Gibson tem muitos amigos, entre eles, os Hamleys, uma família aristocrática composta pelo fazendeiro, sua esposa e seus dois filhos, eles moram em Hamley Hall e é para lá que Mr. Gibson manda a filha para passar algum tempo, pois a esposa do fazendeiro gostaria de conhecê-la e de ter uma companhia feminina já que não tem filhas. Dessa temporada em Hamley Hall, nasceria uma forte amizade entre Molly e a família, porém, seu pai surgiria com uma novidade que magoaria a garota: ele havia encontrado uma noiva! Para ela, que sempre se sentiu feliz ao lado do pai e fazia tudo o que podia por ele, a ideia de ter uma madrasta era desagradável, especialmente pela mulher que foi a escolhida.
Próximo de Hollingford, ficava Towers, residência onde o conde Cumnor passava algumas temporadas juntamente com sua família. Todo ano, Lady Cumnor recebia as senhoras e jovens da região para um dia de atividades na propriedade, era o acontecimento mais aguardado do ano, e anos antes da decisão do pai, Molly foi convidada para esse dia de atividades por Lord Cumnor, um homem extremamente simpático e conversador. A garota foi super animada para o passeio, mas por ser, na época, muito pequena, acabou se cansando demais, dormindo e perdendo a hora de voltar para casa, o que deixou a menininha muito constrangida e magoada, especialmente por ter confiado em uma pessoa que não a ajudou conforme prometera: a ex-governanta de Towers, Mrs. Kirckpatric, ou Clare, como também era chamada.
"'Mas você sabe, meu bem, eu lhe contei a razão pela qual não convém que Molly fique em casa agora', disse Mr. Gibson ansiosamente. Quanto mais conhecia sua futura esposa, mais ele sentia a necessidade de lembrar que com todas as suas fraquezas, ela seria capaz de ficar entre Molly e quaisquer aventuras como a que tinha ocorrido com Mr. Coxe. Assim, um dos bons motivos para a decisão que tinha tomado estava sempre claro para ele, como se aquilo tivesse escapado livremente da lembrança de Mrs. Kirkpatrick. Ao ver a expressão ansiosa de Mr. Gibson, ela se lembrou.
Contudo, o que Molly sentiu com essas últimas palavras de seu pai? Ela tinha sido retirada de casa, por algum motivo mantido em segredo, mas revelado àquela estranha. Deveria haver perfeita confiança entre os dois, e ela ser para sempre excluída? Os assuntos dela e os que diziam respeito a ela, mesmo que não soubesse, seriam discutidos entre eles no futuro e ela não seria informada? Uma pontada amarga de ciúme machucou seu coração." (página 112)
Sete anos depois, adivinhem quem Mr. Gibson escolheu para ser sua noiva? Mrs. Kirckpatric! Ela era viúva e tinha uma filha quase da mesma idade de Molly. Seria esse um bom casamento? A garota conseguiria se adaptar com essa nova família? E a filha de Mrs. Kirckpatric, como seria? Essa pergunta eu já vou lhes responder em partes: Cynthia Kirckpatric é uma das personagens mais bem construídas que já vi! Diferente de todas as que já conheci, ela era linda e usava sua beleza e seus bons modos para encantar, mas guardava alguns segredos e se sentia incapaz de amar.
"'Eu gostaria de poder amar as pessoas como você, Molly!'
'Você não pode?', peguntou Molly com surpesa.
'Não. Acredito que muitas pessoas me amam, ou pelo menos é o que penso, mas nunca me importo muito com ninguém. Acredito que amo mais você, Molly, que conheço há dez dias, mais do que a muitos." (página 182)
"Esposas & Filhas" não é uma leitura rápida, talvez por ter um número elevado de páginas e por trazer parágrafos longos. Mesmo que se demore um bom tempo para terminá-lo, é uma daquelas histórias muito boas das quais dificilmente esqueceremos! Eu já havia lido e me encantado com um outro livro da Elizabeth Gaskell, "Cranford", que é bem menor do que "Esposas & Filhas", mas pude ver que a temática da amizade é comum nas duas obras. Foi emocionante ver como Molly, mesmo tão jovem, foi capaz de conquistar todos da família Hamley e ajudá-los tanto nos momentos difíceis pelos quais passaram, se tornando uma filha para o fazendeiro e uma amiga em quem os filhos dele confiaram seus maiores segredos.
Os personagens criados pela autora são muito interessantes por suas diversas facetas. Mrs. Kirckpatric pode ser detestável em alguns momentos, mas ela era uma mulher pobre que vivia entre os ricos, parecia não ter um lugar no mundo e precisava lutar para encontrá-lo, agarrando a oportunidade de um segundo casamento como a chance de não mais precisar trabalhar em algo de que não gostava para ter um teto sobre a cabeça e comida na mesa. É visível durante a trama que Mr. Gibson se arrependia da escolha feita, mas precisava conviver com a consequência dela já que, na época, separação parecia ser algo complicado. O fazendeiro Hamley é como muitos pais, que querem escolher os caminhos dos filhos, e com isso correm o risco de fazer com que eles se afastem e não compartilhem seus verdadeiros sonhos com ele. Roger e Osborne Hamley são dois dos personagens mais marcantes que encontrei, assim como a família Cumnor (especialmente Lady Harriet), a já mencionada Cynthia e Mr. Preston.
"No início, sentiu-se desconfortável ao questionar-se sobre até que ponto estava certa ao deixar despercebido os pequenos fracassos, as tramas domésticas, as distorções da verdade que prevaleciam em sua casa desde o segundo casamento de seu pai. Sabia que muitas vezes desejava protestar, mas não o fazia para poupar seu pai de qualquer discórdia. Podia ver que ele também, ocasionalmente, estava ciente de certas coisas que lhe causavam sofrimento ao demonstrar que o padrão de conduta de sua esposa não era tão alto como ele gostaria. (...) Mas, possivelmente, o exemplo de silêncio de seu pai e muitas vezes um pouco de bondade por parte de Mrs. Gibson (do jeito dela, e quando estava de bom humor, ela era muito gentil com Molly) a fizeram segurar sua língua." (página 300)
Eu amo romances de época (especialmente os da Lisa Kleypas e os da Julia Quinn), e poder ler uma obra de uma autora que realmente viveu no período onde a maioria deles se passa foi muito bom, pois torna possível entender melhor as regras da sociedade da época. Nos romances de autoras atuais, nem sempre são explorados os conflitos entre os nobres e os plebeus (que por mais ricos que fossem, ou mesmo tendo profissões indispensáveis, como no caso do médico, ainda eram considerados inferiores aos que tinham títulos de nobreza).
"'Mas você sabe, meu bem, eu lhe contei a razão pela qual não convém que Molly fique em casa agora', disse Mr. Gibson ansiosamente. Quanto mais conhecia sua futura esposa, mais ele sentia a necessidade de lembrar que com todas as suas fraquezas, ela seria capaz de ficar entre Molly e quaisquer aventuras como a que tinha ocorrido com Mr. Coxe. Assim, um dos bons motivos para a decisão que tinha tomado estava sempre claro para ele, como se aquilo tivesse escapado livremente da lembrança de Mrs. Kirkpatrick. Ao ver a expressão ansiosa de Mr. Gibson, ela se lembrou.
Contudo, o que Molly sentiu com essas últimas palavras de seu pai? Ela tinha sido retirada de casa, por algum motivo mantido em segredo, mas revelado àquela estranha. Deveria haver perfeita confiança entre os dois, e ela ser para sempre excluída? Os assuntos dela e os que diziam respeito a ela, mesmo que não soubesse, seriam discutidos entre eles no futuro e ela não seria informada? Uma pontada amarga de ciúme machucou seu coração." (página 112)
"'Eu gostaria de poder amar as pessoas como você, Molly!'
'Você não pode?', peguntou Molly com surpesa.
'Não. Acredito que muitas pessoas me amam, ou pelo menos é o que penso, mas nunca me importo muito com ninguém. Acredito que amo mais você, Molly, que conheço há dez dias, mais do que a muitos." (página 182)
"Esposas & Filhas" não é uma leitura rápida, talvez por ter um número elevado de páginas e por trazer parágrafos longos. Mesmo que se demore um bom tempo para terminá-lo, é uma daquelas histórias muito boas das quais dificilmente esqueceremos! Eu já havia lido e me encantado com um outro livro da Elizabeth Gaskell, "Cranford", que é bem menor do que "Esposas & Filhas", mas pude ver que a temática da amizade é comum nas duas obras. Foi emocionante ver como Molly, mesmo tão jovem, foi capaz de conquistar todos da família Hamley e ajudá-los tanto nos momentos difíceis pelos quais passaram, se tornando uma filha para o fazendeiro e uma amiga em quem os filhos dele confiaram seus maiores segredos.
Os personagens criados pela autora são muito interessantes por suas diversas facetas. Mrs. Kirckpatric pode ser detestável em alguns momentos, mas ela era uma mulher pobre que vivia entre os ricos, parecia não ter um lugar no mundo e precisava lutar para encontrá-lo, agarrando a oportunidade de um segundo casamento como a chance de não mais precisar trabalhar em algo de que não gostava para ter um teto sobre a cabeça e comida na mesa. É visível durante a trama que Mr. Gibson se arrependia da escolha feita, mas precisava conviver com a consequência dela já que, na época, separação parecia ser algo complicado. O fazendeiro Hamley é como muitos pais, que querem escolher os caminhos dos filhos, e com isso correm o risco de fazer com que eles se afastem e não compartilhem seus verdadeiros sonhos com ele. Roger e Osborne Hamley são dois dos personagens mais marcantes que encontrei, assim como a família Cumnor (especialmente Lady Harriet), a já mencionada Cynthia e Mr. Preston.
"No início, sentiu-se desconfortável ao questionar-se sobre até que ponto estava certa ao deixar despercebido os pequenos fracassos, as tramas domésticas, as distorções da verdade que prevaleciam em sua casa desde o segundo casamento de seu pai. Sabia que muitas vezes desejava protestar, mas não o fazia para poupar seu pai de qualquer discórdia. Podia ver que ele também, ocasionalmente, estava ciente de certas coisas que lhe causavam sofrimento ao demonstrar que o padrão de conduta de sua esposa não era tão alto como ele gostaria. (...) Mas, possivelmente, o exemplo de silêncio de seu pai e muitas vezes um pouco de bondade por parte de Mrs. Gibson (do jeito dela, e quando estava de bom humor, ela era muito gentil com Molly) a fizeram segurar sua língua." (página 300)
Eu amo romances de época (especialmente os da Lisa Kleypas e os da Julia Quinn), e poder ler uma obra de uma autora que realmente viveu no período onde a maioria deles se passa foi muito bom, pois torna possível entender melhor as regras da sociedade da época. Nos romances de autoras atuais, nem sempre são explorados os conflitos entre os nobres e os plebeus (que por mais ricos que fossem, ou mesmo tendo profissões indispensáveis, como no caso do médico, ainda eram considerados inferiores aos que tinham títulos de nobreza).
Sobre a edição: capa linda, páginas amareladas, diagramação com margens, espaçamento e letras de bom tamanho, além de ilustrações. As edições da Pedrazul sempre são muito caprichadas!
Elizabeth Gaskell faleceu antes de o último capítulo ser escrito, mas felizmente o editor da revista onde a história era publicada tinha conhecimento sobre os planos da autora para o desfecho da obra e pôde concluí-la para os leitores.
Eu poderia dizer muitas coisas mais sobre "Esposas & Filhas", porém o post ficaria extremamente extenso, por isso, resumidamente, digo que o subtítulo "Uma história cotidiana" tem tudo a ver com a trama, pois mesmo se passando há tanto tempo, os dramas vividos pelos personagens são muito reais e atuais. A perda da mãe, as diferenças sociais, os segredos, a vontade de ter um lar estruturado, a amizade e quando ela vira algo mais, o amor não correspondido e o desejo de ser aceito. É uma leitura válida e recomendada para quem quer conhecer uma outra época e passar um bom tempo na companhia de personagens complexos e bem construídos. Lhes garanto que encontrarão momentos para se divertir e rir, mas que também se emocionarão várias vezes e se encantarão com Molly, uma verdadeira heroína.
Deixo um enorme agradecimento à Pedrazul Editora, pelo belíssimo e importantíssimo trabalho que faz ao trazer para os leitores brasileiros, obras como as de Elizabeth Gaskell e de tantos outros escritores marcantes de séculos passados, impedindo que eles caiam no esquecimento e que o preconceito com clássicos (sim, isso existe!) seja desconstruído ao conhecermos o quanto suas histórias são fantásticas e gostosas de se ler.
Detalhes: 540 páginas, ISBN-13: 9788566549249, Skoob, curta a página da editora no Facebook para ficar por dentro das novidades e promoções. Onde comprar online: loja da editora (vem com marcadores).
"Em geral, as pessoa que ficam são as que sempre ficam tristes. Os viajantes, embora possam sofrer com a separação, encontram algo na mudança de cenário para amenizar a dor logo na primeira hora da separação." (página 361)
Por hoje é só, espero que tenham gostado do post. Me contem: já conheciam a autora ou a obra?
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Até o próximo post!
Olá. Amo a pedra azul porque ela nos da oportunidade de ler clássicos que não lemos muito. Com certeza não é uma.leitita fácil como você mencionou mas são leituras difíceis de esquecer. Beijos
ResponderExcluirOlá
ResponderExcluirRomances não são meu gênero favorito, mas acho muito legal que os clássicos do gênero estejam sendo públicados, realmente ler esse livro deve se muito bom para quem gosta de romances de epoca e saber de alguem que viveu naquela época como era as coisas
Eu li esse livro nas minhas férias e amei demais. Amo romances clássicos e Elizabeth Gaskell é uma das minha favoritas, ouso dizer que destronou Jane Austen no meu gosto... pois seus enredos são mais agitados, mais ativos que os da Austen, mas tem lugar pra todas elas no meu coração sempre ♥ são minhas meninas super poderosas do sec 19... kkkk
ResponderExcluirRaíssa Nantes
Olá,
ResponderExcluirA premissa do livro é bem interessante e gosto muito do gênero.
Não sei se fico feliz em saber que a leitura não é tão rápida pelo fato de ser um livro extenso e com parágrafos grandes, mas pretendo lê-lo assim que possível.
Desconhecia a autora e achei intrigante o fato dela ter falecido antes de conseguir escrever o final do livro.
http://leitoradescontrolada.blogspot.com.br/
A edição parece ser linda e sua resenha está muito boa!!
ResponderExcluirMas Romance de época não é bem o meu nicho preferido de leitura...
#Ana Souza
https://literakaos.wordpress.com/
OOi!
ResponderExcluirConfesso que achei essa edição bem feinha, por ela, não o pegaria em uma livraria. KKKK
Mas até gostei da premissa, então, acho, daria uma chance. hhaha
Oi!
ResponderExcluirAmei sua resenha tanto quanto amo livros românticos de época! São tão apaixonantes! Já vou adicionar este à minha lista!
Sucesso com o blog sempre!
Beijos, Belle.
floraliteraria.blogspot.com
Oie, eu já vi esse enredo por aí e fiquei bem interessada. Parece uma história extremamente interessante e mesmo que tem vários detalhes cotidianos e o livro é extenso, eu gostaria muito de ler. E que sorte o editor da revista saber os planos para a história, se não os leitores teriam ficado sem o último capítulo. Essa editora é ótima.
ResponderExcluirOie
ResponderExcluirnão conhecia o livro mas parece ser realmente uma leitura muito interessante então quem sabe eu arrisque mais pra frente com mais tempo e paciencia
Beijos
http://realityofbooks.blogspot.com.br/
Oi Marijleite, sua linda, tudo bem?
ResponderExcluirEu amo romances de época. E sou fã dos autores ingleses, principalmente dos clássicos. Não conhecia essa obra e realmente, esse ponto que você citou sempre me incomoda, a forma como os trabalhadores são tratados. É revoltante, os nobres estão falidos, nunca trabalharam na vida e esperam encontrar uma noiva rica para continuar sustentando seus luxos e vidas vazias. E pessoas de caráter, que sempre trabalharam, são excluídos. Gostei muito de ver que a autora falou de amizade, acho isso lindo. Vou colocar na lista com certeza!!! Sua resenha ficou ótima!!
beijinhos.
cila.
http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/