Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "Sob a luz da escuridão", escrito pela Ana Beatriz Brandão e publicado pela Verus Editora em 2018.
"Algum dia você já imaginou como é ser despedaçado? Rasgado em mil pedaços e depois reconstruído? E tudo isso em apenas alguns segundos? Com certeza não é nada agradável. É doloroso e complicado. Inexplicável.
Para onde eu fui não existia isso. Não existia dor, raiva, tristeza ou felicidade. Não existia céu nem terra. Luz ou escuridão. Era o nada, ou talvez nem mesmo o nada existisse, só o vácuo da inexistência elementar. O início e o fim de todos os começos e términos." (página 252)
A história é narrada em primeira pessoa por 4 personagens: Lollipop, Jéssica (Jazz), Samuel (Sam) e Evan, e se passa num futuro distópico, alguns séculos a frente, após mais duas guerras mundiais que dizimaram boa parte da população humana (a primeira causada por um ditador que buscava criar uma raça pura e a segunda pela revolta da população que já não tinha mais nada a perder). Líderes de países não existiam mais, e as poucas fábricas em funcionamento pertenciam ao Instituto, criado pelos "Eles", os seguidores do antigo ditador.
"Milhares de pessoas foram executadas, principalmente os mais pobres, que não tinham condições financeiras de se adequar às imposições do governo de Goyle. Era... monstruoso. Tão monstruoso que, em certo momento, a humanidade perdeu o medo de morrer. E deu sua resposta.
Assim se iniciou a Quarta Gerra Mundial.
(...) A partir de então, ninguém mais queria ter líderes. Os partidos políticos haviam sido destruídos, os grupos religiosos tinham perdido seus patriarcas e não havia nem um presidente, monarca, chanceler, duque, deputado ou senador sequer. As leis já não valiam e a 'justiça' se tornou uma palavra quase arcaica.
A partir daquele momento, seria cada um por si.
Assim foi criado o mundo em que vivíamos: as pessoas matavam por nada e brigavam por tudo. O planeta tinha sido tomado pelo caos. O que tínhamos a perder? Ninguém poderia nos castigar, e sentir medo da morte era para os fracos. Aliás... o medo era um sentimento quase inaceitável. Quem tivesse não sobreviveria uma semana sequer naquele lugar." (página 21)
As pessoas se reuniam em “áreas”, pequenas cidades, onde a sobrevivência era um pouco mais fácil que no exterior, e sempre que o Instituto liberava alguns produtos, havia briga para conquistá-los. Por causa da radiação de bombas e armas químicas, pessoas passaram a nascer com características diferentes, Jazz, por exemplo, podia produzir fogo. Quem nascia assim era chamado de singular ou metacromo e era perseguido pelo Instituto para ser usado como cobaia em pesquisas.
Uma jovem acorda num prédio e sai correndo de lá, pois explosões estão ocorrendo próximas ao local, e acaba entrando num carro onde já está Jéssica, outra garota de 16 anos que viveu a vida toda naquele prédio que pertence ao Instituto. Depois de algum tempo, Lollipop (como passou a se chamar, já que não se lembrava de nada do seu passado) e Jéssica, vão acabar parando na Área 4, liderada por Evan, um vampiro (em comum com os vampiros dos livros sobrenaturais, ele tem apenas a necessidade de se alimentar de sangue e a longevidade).
"Eu ri, surpresa por saber de algo assim. Evan, o cara que podia ter qualquer garota, apaixonado duas vezes pela mesma, só que em épocas diferentes. Como podia ser possível? Só havia um problema...
- Mas eles não eram inimigos?
- Eram sim. Eu nunca disse que não. É que eles não eram o tipo de inimigo mais convencional." (página 147)
Evan e Samuel parecem ter pouca diferença de idade, aparentando estar na casa dos dezoito anos, mas a verdade é que ele criou Samuel desde que o garoto era um bebê. Além disso, Evan e Lollipop já se desentenderam no passado, mas como isso seria possível, se ela parece ter no máximo vinte anos? Enquanto as duas jovens tentam se inserir na rotina da Área 4, Lollipop também precisará aprender a lidar com Evan e com tudo o que rolou entre eles num passado do qual ela não se lembra, em meio ao risco de o Instituto atacá-los a qualquer momento.
"O que tínhamos representava a paz. Nosso clã era intocável, inalcançável, um dos maiores e mais fortes, que ajudava a abastecer os outros. Todas essas eram características vindas de Evan. Ele representava nossa força, coragem e determinação. Se por algum motivo o perdêssemos, eu sabia que seria questão de tempo até que já não restasse nem mesmo uma lembrança do que fomos um dia." (página 175)
Fui uma dos selecionados para participar da leitura coletiva de “Sob a luz da escuridão” e abracei a oportunidade com entusiasmo, já que era super curiosa para ler algo da Ana, uma escritora de apenas 19 anos, mas que já tem 5 livros publicados e é muito elogiada pelos leitores. Na leitura coletiva, em cada semana leríamos até determinada página e depois tínhamos um debate, o que foi bem legal para ir trocando teorias com outros leitores. Essas teorias eram bem importantes, pois “Sob a luz da escuridão” é um livro cheio de mistérios (foi até difícil fazer um resumo da trama aí em cima, pois nem tudo é o que parece, mas não posso dar grandes spoilers para vocês), tanto sobre os personagens quanto sobre os acontecimentos que levaram a humanidade ao ponto que estava.
"Fechei os olhos tentando imaginar a cena. Se fossem mesmo como ele estava contando, então os fogos deviam ser uma coisa majestosa. Estrelas cadentes que partem da Terra. Eu não conseguia visualizar com clareza, mas só as palavras já causavam impacto.
- E existe alguma chance de eu conseguir ver um dia?
- São quase tão raros quanto encontrar um diamante, Lollipop - respondeu, e não pude deixar de sorrir ao ouvi-lo me chamar daquele jeito. - Mas acho que você tem sim uma chance, se tiver esperança.
- Esperança? - Levantei uma sobrancelha. - Eu nem sabia que essa palavra estava no seu vocabulário, vampiro.
- Está. - Finalizou o curativo em minhas costas por cima dos pontos e se colocou à minha frente. - Muito mais do que você imagina, garotinha. - Tocou a ponta do meu nariz por apenas um momento.
Algo em seu tom e em seu olhar me dizia que aquilo tinha um significado um pouco mais profundo do que parecia, e que tinha, sim, a ver comigo." (página 121)
Falando nesse ponto, é preciso ter em mente que a vida não é como conhecemos hoje, Lollipop e Jazz se veem inseridas numa sociedade onde as regras são diferentes, mas ainda são apenas jovens com sentimentos e desejos de jovens. A autora não se demora muito na descrição dos acontecimentos que levaram ao futuro distópico, o foco fica, na maior parte, na adaptação das garotas na área 4, na descoberta do passado de Lollipop e sua ligação com Evan, já adianto que os dois vivem se estranhando.
A escrita da autora é bem fluida, e a leitura rende. A narração por 4 pontos de vista nos permite ver a história de uma forma mais ampla. Eu demorei um pouco para me apegar aos personagens, mas acho que leitores da mesma faixa etária deles podem se identificar mais com seus jeitos de ser e de agir. Há bastante romance no livro, mas também tem momentos de tensão, ação e humor. É interessante como muito da sociedade distópica da trama pode servir de reflexão para a nossa realidade, onde mesmo tendo mais organização e tecnologia, continuamos não pensando no coletivo.
"(...) As pessoas se aproveitam do fato de não termos leis ou punições e matam pela primeira vez só para ver como é, e algumas infelizmente gostam da sensação. Não matam pensando em proteção. Elas matam pra conseguir o que os outros têm e se apossar daquilo sem nem pensar na possibilidade de uma união. E são essas pessoas que estão se tornando cada vez mais comuns (...)
- Nós não vivemos num mundo pós-apocalíptico - murmurei, com certo tom de compreensão. Estamos presenciando o apocalipse.
- É mais do que isso - Yone prosseguiu. - Somos nós que o estamos causando." (página 81)
A edição tem uma capa condizente com o cenário e as personagens, páginas amareladas, boa revisão, diagramação com bom tamanho de letras, espaçamento e margens, além de detalhes indicando quem está narrando.
"- Eu tenho uma coisa para você.
- Para mim? - questionei, abrindo apenas um dos olhos. O azul, porque era o de que ela mais gostava." (página 309)
"(...) pensava que ele fosse louco quando contava aquela história maluca de uma garota que ia e vinha do nada, e batia nele, e era superdemais, e tinha superpoderes superlegais... Aí, quando a Lollipop apareceu, eu finalmente vi que ele não era maluco." (página 290)
"Um vampiro e uma singular, separados várias vezes pelo tempo, mas sempre voltando um para o outro, independente do que se colocasse entre eles." (página 285)
E por hoje é só, espero que tenham gostado do post. Fica a minha recomendação para quem procura uma distopia nacional ou um romance adolescente pós-apocalíptico. Me contem: já leram ou querem ler "Sob a luz da escuridão" ou outro livro da Ana Beatriz Brandão?
Detalhes: 336 páginas, ISBN-13: 9788576866909, Skoob. Clique e compre na Amazon:
Até o próximo post!
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Gostei demais da obra, parece ter uma narrativa intensa e surpreendente. É um livro que provavelmente leria em dois ou três dias. Anotada a dica.
ResponderExcluirOlá, tudo bem? Conheci esse livro agora há pouco, e confesso que fiquei bastante curiosa para ler e tirar minhas próprias conclusões. Tua resenha só aumentou ainda mais minha vontade de ler a obra!
ResponderExcluirBeijos,
Duas Livreiras
Eu acompanho o trabalho da escritora pelas redes sociais, já ouvi falar muito desse livro, e sempre ótimas críticas.
ResponderExcluirApesar de achar essa capa incrível, eu não leria o livro no momento, tô numa vibe de livros mais leves, meio que desintoxicando de leituras pesadas de 2018 sabe?
Vou recomendar esse pro meu primo que adora esse universo distópicos dos livros e filmes.
Olá! Pelo nome do livro, a capa e temática eu imaginava que seria sobre zumbi e não metacromos - humanos com habilidades especiais. O interessante da história ser narrada por personagens é ver lados diferentes da mesma história. Bom que a autora não enrolou na discrição dos acontecimentos e que não fica apenas no romance que há tensão, ação e humor. Dica anotada! Beijos'
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirTenho muita curiosidade em ler algum livro da autora, esse eu já conhecia, mas, ainda não tive oportunidade de ler, achei bem legal saber mais sobre o que ele realmente se trata, fiquei mais curiosa ainda.
Nossa, só agora com sua resenha estou sabendo que a autora tem apenas 19 anos de idade, e realmente ela tem vários leitores fãs de suas obras. Particularmente adoro distopias, principalmente quando o autor não foca no que aconteceu, mas vai direto ao universo pós apocalíptico. Gostei da dica, ainda mais por ser um nacional. Os nossos autores tem se sobressaindo bastante ultimamente.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirEu estou curiosa com esse enredo. Mas acho que vou aguardar sair o próximo para poder ler e não morrer de curiosidade.
Parece ser envolvente e com uma dinâmica bem construída entre os personagens.
Acho que vou gostar!
Beijos!
Camila de Moraes
Eu já tinha ouvido falar dessa autora e até tenho interesse de ler as histórias dela, mas não esta. O livro em si não me atraiu, apesar de eu apreciar muito as distopias.
ResponderExcluirFiquei um pouco confusa lendo a resenha, mas depois entendi que era por conta do próprio mistério que ronda a história e falar certas coisas poderia ser spoiler. O que de fato chegou a despertar minha curiosidade foi o tal passado que parece existir entre o Evan e a Lollipop.rsrs E ele é um vampiro, ser sobrenatural que sempre me despertou fascínio.
Gostei do fato de ter se tratado de leitura coletiva, pois amo este tipo de leitura. É muito prazeroso ler um livro em grupo, para debater, trocar ideais, ter companhia durante a leitura.
Bjs!
OI!!
ResponderExcluirTUdo bom?
Confesso que ter quatros pontos de vista diferentes me deixam meio insegura de aderir a leitura. Apenas um autor que faz isso que curto, isso não nós impede de "entrar" nos personagens e vivermos as mais variadas situações e emoções.
Enfim, obrigada pela dica e beijos!
Oi tudo bem?
ResponderExcluirEu tenho um certo receio com esse genero, mas adorei saber mais sobre a obra, não sei se gostaria da narrativa com 4 povs diferentes, mas mesmo assim parece bem interessante
bjos
Olá!
ResponderExcluirAcabei de ler uma resenha super positiva desse livro, assim como a sua. Não sabia que a autora já tinha outros livros publicados, mesmo sendo tão jovem, isso é o máximo! Se você gosta de distopia e quer ler algo nacional, leia também Metrópole, da Melissa de Sá, acho que você vai gostar muito.
Já sobre esse livro, vou querer ler com toda a certeza.
bjs
Lucy - Por essas páginas
Dica anotada ♥!
ExcluirOiie, tudo bem? Amei sua resenha e ver que aproveitou a leitura. Eu adoro distopias, mas são poucas as nocionais que eu já li, então já fiquei curiosa para conferir Sob a Luz da Escuridão também, e acredito que irei gostar bastante.
ResponderExcluirBeijos
Olá, tudo bom?
ResponderExcluirLeituras coletivas são sempre muito bacanas né? Eu acho que estas sempre enriquecem muito a leitura! Quanto ao livro, eu já havia ouvido falar, mas o mesmo não chamou muito minha atenção e isso se deve ao fato de eu não ler tantas distopias. No entanto, fiquei bem curiosa para conhecer esses vários mistérios que a história trás, então, dica anotada.
Beijos