Olá pessoal, tudo bem? O livro da resenha de hoje é “A definição do amor”, escrito pelo português Jorge Reis-Sá e publicado no Brasil em 2016 pela Editora Tordesilhas.
“Não há outra maneira de permitir a distância que não seja deixarmos com quem amamos o que mais nos dói.” (página 187)
Em “A definição do amor”, temos uma parte do diário do professor de filosofia Francisco, começando exatamente no dia 5 de maio, uma quarta-feira que mudaria sua vida para sempre: o dia em que sua esposa Suzana passou mal no trabalho e, no hospital, foi constatado que ela estava grávida de 12 semanas e que essa gravidez poderia ter relação com o AVC que ela sofreu e que trouxe como consequência a sua morte cerebral.
Por estar grávida, foi decidido mantê-la viva por aparelhos até que o bebê tivesse condições de sobreviver fora do útero e, em seu diário, Francisco passou a relatar o sofrimento daqueles dias em que ele era viúvo de uma esposa cujo corpo ainda vivia.
As esperanças de que houvesse uma forma de reverter o quadro de Suzana, a revolta com Deus por ter permitido que isso acontecesse, as mortes de pessoas próximas e a obrigação de comparecer no enterro enquanto pensa que o próximo pode ser o da esposa, o aniversário do filho pequeno que o casal já tinha e que ainda era novo demais para ter noção do que estava acontecendo com a mãe, a dúvida entre levá-lo para vê-la no hospital ou não, o ódio pelo bebê que estava ainda no útero e que traria com o seu nascimento a morte definitiva de Suzana, a necessidade de ser capaz de se reerguer para ser um bom pai para os filhos que não teriam mãe, a casa vazia, as lembranças do passado... são tantas as dores que Francisco tem que enfrentar e que vai relatando em seu diário ao longo de quase cinco meses desde aquela fatídica quarta-feira.
No trecho abaixo, uma cena em que Francisco recebe uma ligação do hospital e teme receber a notícia de que Suzana tenha morrido, mas seu quadro tinha apenas piorado;
No trecho abaixo, uma cena em que Francisco recebe uma ligação do hospital e teme receber a notícia de que Suzana tenha morrido, mas seu quadro tinha apenas piorado;
“Brincas comigo, Senhor Deus. Brincas comigo nas palavras da diligente enfermeira do turno da noite (onde andará a enfermeira Cristina?), a chamar-me a estas horas para a morte de uma mãe e de uma filha – e agora, diz-me Deus, como será se o telefone voltar a soar a meio da noite? Posso esperar nova chamada para a morte que se não revelou ainda ou a chamada da morte com um
- Faleceu a minutos a menina Suzana.
a que eu somo
- E a criança?
Deixando a enfermeira sem as palavras que já não tinha? Brincas comigo, Senhor, brincas comigo.” (página 57)
Eu já li livros onde há personagens que perderam entes queridos para a morte (seja de causas naturais ou suicídio), livros onde personagens tem parentes desaparecidos e vivem com a esperança de reencontrá-los e um conto sobre personagens enterrados vivos. Sei que sofrimentos não podem ser medidos ou comparados, mas acho que a situação apresentada em “A definição do amor” foi a mais dolorosa que li até hoje, pois Francisco não podia ter esperanças de reencontrar Suzana nem podia enterrá-la e se despedir definitivamente, pois seus órgãos ainda funcionavam. Ele havia perdido a mulher que amava e ela ainda estava viva de certa forma.
Mesmo com um tema tão forte, “A definição do amor” é um livro bonito e pelo qual vale a pena encarar a carga dramática, talvez o mérito disso seja a forma como Jorge Reis-Sá contou a história, como ele criou Francisco e como ele faz com que o leitor se afeiçoe ao narrador e queira acompanhá-lo até o desfecho da história, a forma como nos colocamos não no lugar, mas ao lado de Francisco, querendo ser seu confidente e alimentar com ele a esperança de que algo de bom ainda vai acontecer.
Além do diário de Francisco, há “capítulos” intitulados de “Véspera” onde lemos escritos de outros personagens, que fazem parte do passado da região onde mora Francisco, e onde as maldades e segredos sombrios deles são contados, como se para contrabalançar com a candura do amor de Francisco. Fazer com que nos liguemos ao cenário da trama também é um acerto de Jorge Reis-Sá, é fácil ser transportado para aquela rua portuguesa próxima ao cemitério, ainda que eu não tenha conseguido compreender nitidamente alguns personagens secundários e que uma certa questão presente nas páginas finais tenha ficado um pouco nebulosa para mim.
“A definição do amor” é um livro para qual não dei cinco estrelas no Skoob por pouco, muito pouco, pois Francisco merecia todas as estrelas possíveis! O fato de o livro ser escrito em Português de Portugal, é ao mesmo tempo algo atraente e problemático, traz um charme a mais para a nossa língua, mas também dificulta a compreensão de algumas expressões que não são usadas no Brasil, talvez notas de rodapé pudessem ser úteis.
“Todos sabemos como a pedra aguenta bem a terra que a natureza oferece – mas já não há muro que consiga resistir à ambição do homem.” (página 17)
“Todos sabemos como a pedra aguenta bem a terra que a natureza oferece – mas já não há muro que consiga resistir à ambição do homem.” (página 17)
Sobre a edição: a Tordesilhas fez um ótimo trabalho, a capa é muito linda e só por ela eu já quis ler o livro. Por ser em forma de diário, há páginas em que só consta a data e umas poucas linhas. A diagramação tem margens, espaçamento e letras de bom tamanho, as páginas são amareladas e não me lembro de ter encontrado erros de revisão, a menos que alguma palavra que pensei estar em português de Portugal tenha sido escrita errada.
Detalhes: 256 páginas, ISBN-13: 9788584190386, Skoob. Acesse a página do blog no Facebook para ler uma matéria do jornal O Globo com o autor, leia um trecho. Onde comprar online: Saraiva, loja da editora.
Por hoje é só, espero que vocês tenham gostado da resenha. Fica a minha recomendação para que leiam “A definição do amor”, pois é um livro que certamente vai sensibilizá-los e emocioná-los. Eu sou uma leitora que não gosta de livros tristes, mas mesmo assim gostei muito de “A definição do amor” pela forma como a história foi contada e como ela me cativou. Jorge Reis-Sá escreveu algo que merece ser lido por você!
Me contem nos comentários o que acharam da resenha, se já conheciam o livro ou o autor e o que acharam da temática da obra.
Me contem nos comentários o que acharam da resenha, se já conheciam o livro ou o autor e o que acharam da temática da obra.
Uau, esse livro é emocionante suas palavras já passam isso.
ResponderExcluirLer sobre perder um ente querido é sempre uma leitura que nos faz refletir, lidar com a morte não é fácil.
Beijinhos, Helana ♥
In The Sky, Blog / Facebook In The Sky
Só pelo fato de você citar que o livro nos sensibiliza e emociona eu já estou louca pela leitura. Adoro livros assim.
ResponderExcluirMas este deve ser bem triste, né?
Beijinhos...
http://estantedalullys.blogspot.com.br/
Caramba, realmente é um história bem forte e original.
ResponderExcluirMas acho que ficaria incomodada com o português de Portugal. Achei que fosse mais parecido com o português do Brasil.
Beijos,
sigolendo.com.br
Oie, o livro com certeza me chamou atenção, parece ser um daqueles casos de greys anatomys que choramos horrores, e amei a capa também, pura fofura, quero muito saber como o personagem irá lidar com todos esses problemas.Mas só irei fazer a leitura quando o livro sair em português do Brasil, ou talvez o procure em inglês, tenho uma aflição em ler qualquer coisa com o português de portugal
ResponderExcluirOlá, tudo bom? Que livro intenso! Deu para perceber pela sua resenha a carga dramática pesada que A Definição do Amor possui, e por gostar muito de livros que falam sobre perda, luto e desespero, fiquei interessadíssima pela leitura. Obrigada pela indicação. A resenha ficou incrível!!
ResponderExcluirBeijos
Olá, tudo bem.
ResponderExcluirQue capa linda. Adorei a premissa, tão sensível e envolvente. Fiquei realmente curiosa para ler. Não conhecia o autor e obra e já anotei a dica. A resenha ficou muito bonita, parabéns!
beijinhos