Resenha: livro "Crenshaw", Katherine Applegate

 Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "Crenshaw: a fome da imaginação", escrito pela Katherine Applegate e publicado no Brasil pela Plataforma 21 em 2016. Foi o 4° livro que li no meu desafio de ler 30 livros em janeiro.

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 "Apertei bem os olhos e contei até dez. Lentamente.
 Dez segundos pareciam ser suficientes para eu deixar de ser louco.
 Fiquei um pouco atordoado. Mas isso acontece às vezes quando estou com fome. Eu não comia desde o café da manhã.
 Quando abri os olhos, suspirei de alívio. O gato tinha sumido. O céu estava infinito e vazio.
 PLAFT! A centímetros dos meus dedos do pé, o guarda-chuva pousou na areia como um dardo gigante.
 Era de plástico, vermelho e amarelo, decorado com imagens de ratinhos sorridentes. No cabo, estava escrito com giz de cera: ESTE CHAPÉU DE SOL PERTENCE A CRENSHAW.
 Fechei os olhos de novo. Contei até dez. Abri os olhos, e o guarda-chuva – ou chapéu de sol, ou o que quer que fosse – tinha desaparecido. Assim como o gato.
 Era fim de junho, fazia calor e estava gostoso, mas eu tremi.
 Eu me sentia daquele jeito que a gente se sente antes de pular na parte funda da piscina.
 Estamos a caminho de algum lugar. Ainda não chegamos lá. Mas sabemos que não há volta." (páginas 12 e 13)

 A narração é feita por Jackson, um garoto de 10 anos que mora com a irmã mais nova, o pai, a mãe e a cachorra Aretha. Desde que o pai descobriu que tem esclerose múltipla e saiu do emprego, a situação financeira da família piorou muito, mesmo com a mãe e o pai trabalhando em empregos informais. Eles não conseguiam mais pagar o aluguel e talvez precisassem sair do apartamento e ir morar na minivan da família, como já aconteceu no passado. A situação é tão crítica que chega a faltar comida, e todos os móveis da casa estão sendo vendidos, até as camas.

 "Meus pais gostam de um tipo de música chamado blues. Numa canção de blues, alguém sempre está triste por alguma coisa. Por exemplo, pode ter terminado com a namorada ou perdido todo o dinheiro ou o trem para um lugar distante. A coisa estranha é que, quando a gente ouve as músicas, se sente feliz." (página 92)

 Os pais de Jackson são otimistas e tentam não deixar que os filhos percebam que podem ficar sem teto, mas o garoto percebe, e fica muito incomodado com a aparente falta de confiança dos pais nele. Jackson quer que seus pais falem a verdade, que digam se ele vai poder voltar para a mesma escola depois das férias, que expliquem por que precisam sair do apartamento e como ele pode ajudar.

 "Às vezes eu só quero perguntar para eles se meu pai vai ficar OK ou por que a gente nem sempre tem comida suficiente ou por que eles têm discutido tanto." (página 47)

 "Meus pais eram otimistas. Eles olhavam para meio copo de água e pensavam que estava meio cheio, não meio vazio.
 Eu não. Cientistas não são otimistas ou pessimistas. Eles só observam o mundo e veem o que é. Olham para um copo de água e medem cem milímetros ou quanto quer que seja, e esse é o fim da discussão." (página 46)

 Jackson quer ser um cientista e gosta das coisas certas, definidas, e é nessa situação incerta e indefinida vivida pela família que Crenshaw, seu antigo amigo imaginário, vai aparecer. Crenshaw é um gato gigante e falante, muito engraçado, e que Jackson acha meio inconveniente em certos momentos. O garoto tem medo de acharem que ele ficou louco se descobrirem que fala com um amigo imaginário ou de que vejam Crenshaw, afinal, cientificamente, o gato não pode ser real. Mas talvez Crenshaw tenha reaparecido para ajudar Jackson de alguma maneira...

 "- (...) Na teoria, só você pode me ver. Mas quando um amigo imaginário é deixado à sua própria sorte, sozinho e esquecido... quem sabe? (...)
 - Tá, mas e se você for visível? Não posso deixar você simplesmente atravessar o corredor até o meu quarto. E se meu pai acordar para fazer um lanchinho? E se a Robin tiver que ir ao banheiro?
 - Ela não tem uma caixa de areia no quarto dela?" (página 65)

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 "- Eu temo que você tenha me criado com um pouco de cachorro no meio. - Crenshaw estremeceu. - Às vezes eu sinto vontade de... rolar em algo fedido. Um gambá morto, talvez, ou um pouco de lixo fresco.
 - Os cachorros fazem isso porque...
 - Eu sei por quê. Porque eles são idiotas. Também sei que você nunca, nunca vai ver este belo espécime felino descendo a tal nível." (página 203)

 Não me recordo o motivo exato, se era a capa, o título ou a sinopse que me fizeram desejar muito ler esse livro, até que eu finalmente consegui comprá-lo. O fato é que eu tinha expectativas elevadíssimas para essa leitura, que não virou um favorito e foi um pouco diferente do que eu esperava, mas mesmo assim foi um livro do qual gostei e que valeu a pena ler. Acho que eu esperava mais destaque ou uma explicação maior sobre a origem de Crenshaw, mas o foco do livro é a forma como Jackson está lidando com a situação enfrentada pela família.

 Por falar nessa situação, creio que nunca li um livro onde a pobreza fosse mostrada com tanta clareza; nenhuma família está livre de passar por dificuldades financeiras como a família de Jackson está passando. E é interessante como cada um lida de forma diferente com a situação: o pai, sem perder o senso de humor, algumas vezes ficando espantado com as coisas que o filho fala, em outras parecendo orgulhoso, mas devemos lembrar que ele precisa lidar também com sua doença. A mãe parece ser mais "pé no chão", e Robin, a filha caçula, ainda enxerga tudo pela ótica da fantasia e tenta fazer o irmão também usar mais a imaginação.

 "No ano anterior, o diretor da escola disse que eu era uma 'ama velha'. Perguntei o que isso queria dizer, e ele disse que eu parecia sábio para alguém da minha idade. Disse que era um elogio. Que gostava de como eu sempre sabia quando alguém precisava de ajuda com as frações. Ou como eu esvaziava o apontador sem que ninguém pedisse.
 É assim que eu sou em casa também. A maior parte do tempo, pelo menos. Às vezes, me sinto a pessoa mais adulta na casa. E é por isso que achava que meus pais deveriam saber que podiam falar comigo sobre coisas de gente grande." (página 138)

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 Acho linda a capa, que mostra Jackson e Crenshaw sentados num banco entre as árvores. As páginas são amareladas, há poucos erros de revisão, e a diagramação tem margens grandes, bom tamanho de letras e espaçamento entre uma linha e outra, além de detalhes de gatinhos na lateral das páginas.

 "Minha irmã e eu não recebemos nomes de pessoas, recebemos nomes de violões. (...) Como não tinham mais instrumentos, meus pais deram o nome de uma cantora famosa, Aretha Franklin, à nossa cachorra. Isso foi depois que Robin sugeriu chamá-la de Princesa das Fadas Gracinha e eu sugeri chamá-la de Cachorra." (página 34)

 A escrita da autora é bem fluida, é uma leitura rápida, com capítulos curtos, uma história divertida e tocante ao mesmo tempo, que mostra a importância da amizade, da união da família e da esperança num futuro melhor. Fica a recomendação para leitores de todas as idades.

 "Às vezes isso é tudo que a gente realmente precisa: de um amigo." (página 127)

 Detalhes: 224 páginas, ISBN-13: 9788592783006, Skoob, leia um trecho. Clique para comprar na Amazon:


 E por hoje é só, espero que tenham gostado da resenha. Me contem: alguém aí já leu "Crenshaw: a fome da imaginação" ou outro livro da Katherine Applegate?

♥ Posts sobre o #30livrosemjaneiro

Até o próximo post!

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20 comentários

  1. Oiii, meu bem! Como vai?
    Eu realmente não conhecia essa obra e fiquei chocada, quem sabe futuramente eu leia a obra e me encante pela leitura fluída da autora, que isso que mais me motivou e conquistou, além do enredo ser ótimo e a edição linda.
    Beijinhos

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  2. nossa, como eu nao conhecia esse livro?
    agra quero pra ontem, parece ser uma historia emocionante e daquelas que deixa a gente apreensivo
    obrigada pela indicação, vou tentar ler

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  3. Oiii

    Eu também achava que o foco do livro seria a origem do Creenshaw e não o conflito enfrentado pelo garoto, mas mesmo assim a abordagem é bacana, parece ser uma leitura tocante que vale a pena conferir pra sair um pouco da zona de conforto de sempre. A capa é linda, sou curiosa com esse livro justamente por conta da capa que remete á uma certa magia gostosa de se ler. te desejo sorte no desafio de 30 livros em Janeiro, espero que vc consiga.

    Beijos

    www.derepentenoultimolivro.com

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  4. Olá, tudo bem? Que capa mais linda! Menina, eu ainda não conhecia esse livro, mas após ler tua resenha já quero essa obra para ontem aqui na minha mão, hahaha. Eu amo ler livros narrados por crianças, pois geralmente são emocionantes e nos ensinam coisas maravilhosas. Amei tua resenha e dica!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  5. Oi, tudo bem?!

    Não conhecia esse livro, mas adorei a premissa dele e aquele quote que você colocou lá em cima fez meu coração ficar quentinho! Livros narrados por crianças sempre me fazem feliz e são sempre uma ótima pedida. Amei a diagramação dele, tô apaixonada!
    Parabéns pelo post e pelas otos sensacionais!!

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  6. Me lembro que quando houve o lançamento desse livro, li muitos elogios sobre a obra, e até cheguei a cogitar a possibilidade de lê-lo, mas como tenho dificuldade me ler livros que tem crianças como narradores da histórias acabei deixando de lado. Porém a mensagem passado pela autora e muito bonita, a questão financeira hoje em dia e algo que incomoda muitas famílias, principalmente aquelas que possuem crianças. Por isso seria uma forma que muitas pessoas se identificarem, e também se colocar no lugar do outro. Outro ponto importante e a questão da amizade, e vinculo familiar.

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  7. Olá!
    Não conhecia o livro mais quando bati o olho na sua foto já adorei a capa também. Fico mais feliz ainda porque é um gênero que eu curto bastante e se a leitura flui bem já um ponto positivo. Adoro livros que falam sobre a importância da amizade. Já quero ler também

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  8. Oi, tudo bem?
    Eu já vi muitos elogios sobre esse livro e tenho curiosidade de ler. Pelo que percebi da sua resenha é uma leitura leve, mas com mensagens muito bonitas. Acredito que seja um daqueles livros que conseguem mexer com as nossas emoções e deixar o coração quentinho. Só não pretendo ler por enquanto, porque não ando muito no clima para ler livros protagonizados por crianças.
    Mas adorei a resenha e, futuramente, pretendo ler esse livro também.
    Beijos!

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  9. Olá, tudo bem?

    Confesso que a premissa do livro ke deixou meio perdida aqui. É complicado quando criamos expectativas demais, acaba sendo difícil de atendê-las mesmo, uma pena.

    Beijo.

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  10. Oii, tudo bem?

    Que livro maravilhoso!!
    Só de ler a premissa já quero para mim. Amo livros assim, leves, tranquilos, mas que passam mensagens importantes.
    Estou precisando de um livro para mexer um pouco comigo e meus sentimentos, vou anotar a dica.

    Beijinhos!!

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  11. Olá, tudo bem?
    Eu ainda não conhecia o livro e achei a premissa muito interessante, gostei bastante da sua resenha e de poder conhecer um pouco sobre a trama. Espero ter a oportunidade de ler e acho que não vou me decepcionar.

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  12. Ainda não conhecia o livro, mas já amei a capa, um ótimo trabalho da Plataforma 21. Adorei a ideia de uma amigo imaginário e fiquei curiosa para saber como esse gato vai ajudar Jackson, então é uma pena que ele não tenha batido suas expectativas., mas que bom que ainda sim você gostou da obra. Eu particularmente fiquei instigada a ler, seja por conta dessa narrativa sem floreios quanto a probreza seja por esse lado fantástico que ele possui, quero ler.


    Abraços.
    https://acabinedeleitura.blogspot.com

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  13. Faz muito tempo que tenho vontade de ler esse livro, foram poucas as resenhas que li. Pena que não foi exatamente o que vc esperava, mas bom saber que é um livro que vale a pena ser lido.
    Bjos
    Lucy - Por essas páginas

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  14. Olá, achei a premissa bem diferente não é um livro que deseje ler não acho interessante um gato imaginário a pesar que fiquei curiosa sobre a dificuldade financeira não irei dispensar a dica mais também não será prioridade

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  15. Ola!!

    Que capa mais linda e que premissa mais diferente! Adorei a historia... acho que é totalmente diferente de tudo que eu li até hoje... extremamente real inclusive! Uma coisa que aprendi é que os amigos imaginarios exitiam em nossas vidas qunando as coisas se tornam dificil demais para uma criança... e bom, esse livro é a prova disso.

    Dica anotada!

    beijos

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  16. Olá,
    Eu li alguns livros com situação assim, de muita pobreza e sempre é muito chocante a sensação que o livro passa. Achei a capa bem bonita!

    Debyh
    Eu Insisto

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  17. Olá, tudo bem? Nunca li nada da autora, na realidade só conhecia o livro por alto, e confesso que também pela sinopse esperava outra coisa, rs. Ainda parece interessante, mas não sei se seria algo que leria no momento. Sua resenha está maravilhosa e as fotos também <3
    Beijos,
    http://diariasleituras.blogspot.com.br

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  18. Oii.
    Também achei essa capa linda. Ainda não conhecia a historia, mas já fiquei curiosa. Histórias mais profundas narradas pelo ponto de vista de crianças, são sempre emocionantes. Eu sempre fico com o coração na mão com esses livros.

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  19. Oi

    Que capa maravilhosa, adorei. Ahhhh eu realmente adoro livros assim, eles nos fazem se sentir bem, crianças nos livros são maravilhosas.

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  20. Eu não conhecia o livro a capa me lembrou da série Cinder. Gostei da premissa, estou bem curiosa por essa história.
    Beijos.

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